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Espécies de batalhas de poesia, os slams se multiplicam pela cidade

Versos tratam sobre feminismo, racismo, homofobia e o papel dos jovens da periferia

Por Juliene Moretti Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 14 fev 2020, 16h02 - Publicado em 8 jun 2018, 06h00

“A cada palma batida, a cada sorriso dado, a cada lágrima escorrida, a cada ‘pow’ gritado, sinto que não escolhi o caminho errado… Através da poesia, lhes apresento meu novo eu: a voz, da periferia”, bradou a jovem Tawane Theodoro, de 19 anos, para cerca de sessenta pessoas em silêncio, em maio, no Galpão do Folias, no centro. O encontro fazia parte do ZAP! (Zona Autônoma da Palavra), o primeiro slam, espécie de batalha de poesia, paulistano.

Há dez anos, as récitas seguem um esquema semelhante. Cada integrante, que pode usar um bloquinho ou celular para “colar” os versos, tem até 3 minutos para se apresentar. Os “juízes”, escolhidos previamente na plateia, dão notas e elegem o vencedor da noite. O formato foi criado pelo poeta Marc Kelly Smith nos anos 80. Ele queria tirar a poesia do meio acadêmico nos Estados Unidos e acabou estimulando o gênero em diversas partes do mundo.

“Com o jogo, a plateia presta mais atenção no que está sendo dito”, conta a atriz Roberta Estrela D’Alva, à frente do ZAP!. Ela trouxe o projeto para a cidade depois de visitar uma noite de competição em Nova York. Em São Paulo, hoje mais de trinta grupos organizam suas reuniões.

Os pioneiros Roberta e Alcade (Leo Martins/Veja SP)

Por aqui, as primeiras edições foram realizadas no Núcleo Bartolomeu de Depoimento, na Pompeia. De lá, desgarrou-se o Slam da Guilhermina, pioneiro em escolher um lugar público, a saída da estação de metrô homônima, para as sessões marcadas sempre para a última sexta do mês. “Queremos ocupar locais de fácil acesso”, diz Emerson Alcade, responsável pelo grupo, criado em 2012. Ele também é o curador do Sófálá, que acontece no Red Bull Station, no centro, além de ser conselheiro dos campeonatos estadual e nacional, organizados por Roberta.

O vencedor brasileiro é enviado para a final, em Paris, na França. Ainda não temos um campeão mundial, mas, desde 2009, o país manda seu representante. Não há restrição de temática, mas, pouco a pouco, bandeiras como as do feminismo e contra a homofobia ganham a preferência dos competidores, que muitas vezes deixam de lado as rimas sentimentais, cômicas ou eróticas, por exemplo.

Um dos grupos mais ativos é justamente o Resistência, que se reúne toda primeira segunda-feira do mês na Praça Roosevelt. “A ebulição de 2013 contribuiu para que os coletivos se encontrassem ali para debates sobre movimentos sociais”, conta Charles de Jesus, um dos idealizadores. No ano seguinte, nasceu o slam, que chega a ter até 500 participantes.

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Slam da Resistência, na última semana: espaço para autores de todas as idades (Alexandre Battibugli/Veja SP)

Na noite fria da última segunda 4, quando os termômetros marcavam 15 graus, cerca de cinquenta pessoas estavam nas escadarias do espaço para dar suas avaliações aos versos sobre educação e as dificuldades dos jovens negros na cidade, entre outros assuntos. Em 2016, surgiu o Slam das Minas, exclusivamente para as mulheres. “Foi uma maneira que encontramos para que elas se sintam mais à vontade para falar”, diz Mel Duarte, que criou o grupo com outras quatro poetas.

Os participantes não recebem por suas criações, mas podem ser contratados para eventos fechados, quando o cachê fica na faixa de 200 a 1 000 reais. Quem se destaca no meio acaba seguindo a carreira literária independente. Há dois anos, Mel participou da Flup (Festa Literária das Periferias), da Flip e lançou seu segundo livro, Negra Nua Crua.

Na mesma toada está Mariana Felix, também com dois livros, Mania e Vício, e participações em festivais. Parte de seus vídeos no Facebook e no YouTube ultrapassa a marca das 100 000 visualizações. Autora dos versos do início da reportagem, Tawane ainda não decidiu se vai seguir a carreira de poeta. “Faço faculdade de nutrição e estou enlouquecida com as provas”, afirma. “Mas quero externalizar o que sinto.”

Para ouvir e declamar

Slam das Minas. Sesc Pinheiros. Quinta (14), 19h

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ZAP! SP Escola de Teatro. Quinta (14), 19h30

Slam da Guilhermina. Estação Guilhermina- Esperança. 29 de junho, 20h

Slam Resistência. Praça Roosevelt. 2 de julho, 18h

Sófálá Red Bull Station. 21 de julho, 16h30

 

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