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Sob o tema ‘Sintonia’, São Paulo Fashion Week aposta na moda sustentável

Edição 57 do evento acontece de 9 a 14 de abril em shoppings e edifícios históricos da cidade

Por Laura Pereira Lima
5 abr 2024, 06h00

Principal farol da moda no Brasil, o São Paulo Fashion Week se prepara para colocar nas passarelas sua 57ª edição, marcando o fim do calendário semestral das semanas internacionais. Entre os dias 9 e 14 de abril, 27 grifes de oito estados vão desfilar coleções inéditas nos shoppings JK Iguatemi e Iguatemi São Paulo e em espaços como a Galeria Nara Roesler e o Conjunto Zarvos. Desta vez, o circuito fashionista termina no histórico Edifício Martinelli, que sediará o encerramento com a apresentação de João Pimenta.

Sob o tema Sintonia, a nova edição traz, além de marcas já consagradas, como Lino Villaventura e Walério Araújo, duas estreias que apontam para um futuro mais sustentável na moda: Catarina Mina, cujo trabalho é focado no fortalecimento das artesãs do Ceará, e Reptilia, que produz roupas a partir de resíduos da indústria têxtil, mirando o desperdício zero (ver box abaixo). “Sintonia porque é um movimento de entrar em alinhamento com os novos tempos”, explica Graça Cabral, cofundadora da semana ao lado de Paulo Borges. “Queremos questionar os processos de produção das roupas”, completa. A preocupação com o meio ambiente é o foco de grifes como Renata Buzzo e Marina Bitu, ambas no line-up desta edição.

Reptilia

Criada por Heloisa Strobel (foto) em 2015, une duas de suas paixões, a arquitetura e a moda. “Ao construir um prédio ou fazer uma roupa, trabalhamos com matériaprima, estrutura, conforto e beleza”, compara a estilista e arquiteta. A curitibana investe no reaproveitamento de materiais desprezados pela indústria e no desperdício zero. “Os reaproveitados compõem as peças mais especiais”, conta a estilista, que tem entre suas admiradoras a primeira-dama Janja da Silva, que já exibiu modelitos da grife em eventos oficiais. Na coleção Indelével, que desfila na quarta (10), Heloisa, conhecida pelo design minimalista, vai apostar em materiais brilhantes como o paetê, numa jornada de empoderamento que começa com tons sóbrios e, aos poucos, se ilumina. Com um elenco só de modelos 40+, ela pretende chamar atenção ainda para o etarismo, tão arraigado no mundo fashion. “A indústria ainda é muito hostil com corpos mais velhos”, aponta.

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Heloisa Strobel, curitibana por trás de Reptilia (Tais Valença/Divulgação)
Catarina Mina

A grife de Celina Hissa trabalha com uma rede de mais de 400 artesãs do Ceará para criar peças que aliam beleza e responsabilidade social. Para a estilista, mais que introduzir o artesanato na cadeia de produção, trata-se da sua manutenção e fortalecimento como cultura. “O trabalho manual exige um tempo e uma dedicação que às vezes não se encaixam na cadeia de moda tradicional”, explica Celina. Cada peça vendida vem com um QR code contendo informações sobre a autora responsável, a cidade onde foi produzida e vídeos explicando as técnicas usadas. “Ao comprar você fortalece uma comunidade inteira e todo um saber”, defende. Na sexta (12), a coleção Guardiãs da Memória apresentará 35 looks feitos à mão, com seis técnicas como filé, crochê (foto), palha de carnaúba, fibra de croá e bordado. A apresentadora Astrid Fontenelle desfilará usando um look de renda de bilro.

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O vestido de crochê é uma das peças que serão apresentadas na coleção (Thiago Brito/Divulgação)

 

Borges destaca também um movimento de autorreferência, com marcas revisitando seus passados. Segundo ele, uma tendência global. “Os estilistas estão olhando para suas próprias histórias como inspiração”, observa. As jovens Thear e Dendezeiro e a veterana Glória Coelho, que celebra 50 anos de carreira nesta edição, são algumas que vão resgatar memórias e trajetórias na passarela.

Bia Paes de Barros, curadora de moda, ressalta que a semana de desfiles ilumina o cenário nacional ao juntar grifes novas e consagradas. “O São Paulo Fashion Week tem um papel de apresentar ao mercado marcas que estão despontando”, opina. De fato, o SPFW deu aquele empurrãozinho nas carreiras de grifes como André Lima e Osklen.

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A edição número 57 terá o pontapé dado pela Aluf com um desfile na terça (9), no JK Iguatemi, embalado pela Orquestra Sinfônica de Heliópolis, primeiro grupo do gênero criado em uma favela. “Ficamos muito felizes com esta abertura, que simboliza perfeitamente o tema sintonia”, anima-se Borges. Além da orquestra, outros projetos de cunho social participam do evento, como a Cria Costura, que desfilará peças produzidas por mulheres participantes do curso profissionalizante oferecido pela prefeitura.

Depois de homenagear a escritora Cora Coralina (1889-1985) em 2023, a goiana Thear, idealizada por Theo Alexandre, vai trazer em 33 peças referências ao cerrado, o bioma local, como tons terrosos, texturas que lembram galhos retorcidos e estampas de animais como o lobo-guará e outras assinadas pelo grafiteiro goiano Kboco. “Quero trazer luz à biodiversidade e à importância do cerrado”, explica Theo, que, para minimizar o impacto ambiental de suas roupas, privilegia fibras naturais.

A baiana Dendezeiro também se volta às suas raízes no sábado (13) com um desfile inspirado na obra Capitães da Areia, de Jorge Amado. Já no domingo (14), João Pimenta, celebrado por suas peças ousadas e teatrais de alfaiataria, fechará a programação apostando na streetwear. Com roupas mais largas, calças de cintura baixa, estampas de tie-dye e tecidos como moletom, a coleção promete uma guinada na carreira do mineiro radicado em São Paulo ao apostar em looks mais confortáveis e urbanos. “O Martinelli também fez parte do meu conceito”, conta o designer, que incorporou as plantas do edifício nas estampas e usou o tom rosa da fachada. “É uma coleção mais ‘real’, que dialoga com a rotina de São Paulo”, resume. Mas ele avisa: “Não dispenso um paletó”.

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Paulo Borges em seu apartamento no bairro de Pinheiros, São Paulo. (Leo Martins/Veja SP)

Aos 29 anos, o São Paulo Fashion  Week  se  prepara  para adentrar em uma nova era. Desde a gênese do projeto, Paulo Borges e Graça Cabral calculavam um período de três décadas para estabelecer um mercado de moda no Brasil e situar o país como um polo criativo internacional, meta que a dupla afirma ter atingido. Ao longo dos anos, também tocou em questões sensíveis à indústria. Desde 2020, por exemplo, os organizadores exigem que metade do elenco de modelos de cada desfile seja formado por pretos, pardos e indígenas. Para eles, a medida ajudou a alavancar a diversidade também entre maquiadores, fotógrafos e estilistas. Para os próximos anos, a ideia é jogar luz sobre iniciativas coletivas — “envolvendo toda a cadeia no compromisso ético” — e incentivar inovações no campo da sustentabilidade. Que venham as novas estações.

 

50 anos de Glória Coelho

A estilista Glória Coelho (abaixo), que participou de diversas edições do evento, inclusive a primeira, em 1996, retorna ao SPFW para celebrar 50 anos de carreira. A coleção Iluminação, que será apresentada no domingo (14), na Galeria Nara Roesler, busca resgatar meio século de história. Tules e tecidos sustentáveis compõem os looks, que fazem uma releitura de peças criadas ao longo desses anos. A alfaiataria dos anos 80 e os corseletes dos anos 90 devem aparecer na coleção, que também trabalhará com tecido feito de garrafas PET. Serão pelo menos trinta looks. “Sou muito gulosa, fico sempre querendo fazer mais peças”, afirma a designer. Com uma trajetória eclética — cujos temas englobam de física quântica a Harry Potter —, a grife Glória Coelho se notabilizou pelas roupas minimalistas com inspiração futurista. Aos 72, Glória nem cogita aposentadoria. “Quero trabalhar muito ainda. Meu sonho é parar com 100 anos”, afirma a designer, que quer se dedicar à produção sustentável: “Quero minha empresa mais harmoniosa com o planeta”.

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Glória Coelho, 72 (Berthemy Kemler/Divulgação)

Publicado em VEJA São Paulo de 5 de abril de 2024, edição nº 2887.

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