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Os Satyros levam Édipo para a Praça Roosevelt

Nova montagem da companhia mescla vídeos, improvisação, canto coral e teatro de rua para narrar a clássica tragédia grega

Por Bruno Machado
Atualizado em 5 dez 2016, 15h44 - Publicado em 9 ago 2013, 18h45
Édipo na Praça
Édipo na Praça (Divulgação/)
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No centro do palco, um casal protagoniza uma cena de amor. Orientada pelo ator Robson Catalunha, a plateia emite ordens à dupla, interpretada por Gustavo Ferreira e Henrique Mello. De repente, alguém manda que Édipo pegue um porta-retratos e pergunte a Jocasta quem é o homem na foto. Um celular começa a tocar no meio do público. “Não atenda! É o Édipo quem vai atender!”, ordena Catalunha à espectadora, que entrega o telefone a Ferreira. O ator atende a ligação e grita ao desavisado do outro lado da linha: “Quem é o homem na foto?”. A plateia gargalha. Improvisos como este marcam Édipo na Praça, a nova montagem da companhia paulistana Os Satyros, fundada em 1989 por Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez, que tem data de estreia prometida para a próxima sexta (16).

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É a primeira vez que a companhia ocupa a praça, embora tenham se instalado lá há mais de uma década. No final do ano passado, o grupo anunciou que estava procurando uma nova sede, devido ao alto aluguel do espaço. Segundo Vázquez, que também assina a direção, desde que o grupo se instalou na Roosevelt, houve diversas tentativas de levar um espetáculo para o espaço. No entanto, as más condições do local fizeram com que todas as permissões solicitadas pela companhia fossem negadas. Isso mudou em setembro do ano passado, quando a praça foi reaberta ao público, após uma reforma que demorou mais de dois anos e consumiu cerca de 50 milhões de reais.

Dividida em dois atos (o primeiro deles, na sede do grupo; o outro, na praça), a versão dos Satyros para o célebre texto de Sófocles, transpõe Tebas para a São Paulo das manifestações populares. Na trama, Édipo (o ator português Óscar Silva) é um rei que enfrenta uma crise em sua cidade depois do assassinato de seu antecessor, Laio. Na sua investigação, ele não só descobre que ele mesmo é o autor do crime como também se casou com sua própria mãe, Jocasta (vivida por Cléo de Páris).

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A história, já conhecida do espectador, é um pretexto para que os Satyros exercitem elementos clássicos e contemporâneos do teatro. O resultado, como Vázquez define, é “uma salada de linguagens”. Entre as cenas mais divertidas e improváveis, há uma em que Jocasta canta em um karaokê Evidências, de Chitãozinho e Xororó, e outra em que o cenário é marcado com fita adesiva colada no chão, inspiração vinda do filme Dogville (2003), de Lars von Trier. Outros trechos do espetáculo são pontuados pelos cantores do Coral da Cidade de São Paulo que dão um tom operístico à montagem. Em outro momento, o elenco se mistura aos skatistas da Roosevelt — uma clara referência à recente polêmica dos moradores do entorno que queriam o fim da prática do skate na praça

“Nunca tivemos medo do hibridismo”, ressalta o diretor. “Para fazer uma montagem tradicional desse texto, há gente por aí muito melhor do que nós. “Mas para fazer uma versão que dialogue com o espaço público e provoque a reflexão no espectador, acho que somos a companhia certa.” 

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