Competição amadora de futebol americano tem 27 equipes e 3 000 atletas
A liga esportiva reúne jogadores que sonham com a profissionalização e torcedores apaixonados
Após dois anos sem atividades devido à pandemia do coronavírus, a São Paulo Football League (SPFL), liga paulista amadora de futebol americano, vai começar seu campeonato no próximo dia 13. Com 27 equipes, divididas em três categorias (diamante, ouro e prata) e cerca de 3 000 atletas, a competição ocorrerá em 24 cidades do estado.
A um custo de 1 milhão de reais, a disputa terá mais de setenta jogos. Na fim de 2019, 1,2 milhão de pessoas assistiram ao jogo derradeiro da divisão diamante, vencido pelo Rio Preto Weilers ante o Corinthians Steamrollers, o ganhador anterior.
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Para quem está chegando agora e não é familiarizado com o esporte, o jogo consiste em conquistar o território adversário, no caso atravessar um gramado de 109,7 metros de comprimento por 48,9 de largura, de onde a bola for posicionada após a última jogada. Cada time possui onze jogadores em campo.
O objetivo é levar a bola o maior número de vezes possível até a última extremidade oposta, chamada de endzone. Cada vez que um atleta consegue o feito, o famoso touchdown, o time soma 6 pontos. Em cada etapa, um grupo só ataca e o outro só defende.
Há sempre muitas substituições, por isso as equipes são tão grandes. Algumas contam com maisde 100 jogadores, apesar de poder inscrever 53 nomes em cada partida.
Para este ano, a SPFL está negociando a transmissão com emissoras de TV aberta e fechada. “É um campeonato sustentável e com grande potencial”, afirma Ricardo Trigo, presidente da liga. Dos times da série principal, o Corinthians Steamrollers é um dos que levam uma das maiores torcidas para as arquibancadas.
Fundado em 2006 como Steamrollers e desde 2008 com o nome do time paulista, a equipe conta com mais de 50 000 seguidores no Instagram e possui categorias de base, algo raro no cenário paulista. “São crianças dos 8 até os 17 anos de idade”, diz o técnico da defesa da base, Bruno Bezerra, 34, que atua no time de cima, como jogador.
Na equipe, nem todo mundo fala muito bem português. É o caso de Lee Wells, 31, treinador e também atleta. “Eu nunca tinha ouvido falar do Corinthians até me mudar para cá”, ri o americano, que veio para o país em 2018, após conhecer a esposa brasileira nos EUA. Ele nota, claro, diferenças entre a terra natal, onde o esporte é febre nacional, e o Brasil.
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“Aqui o nível é mais simples. O esporte ainda está crescendo. Muitos dos caras que chegam ao time nunca jogaram futebol americano e eu preciso ensinar o básico. Nos EUA, cheguei a jogar o universitário e nós treinávamos a semana toda. Aqui treinamos no máximo três vezes na semana, porque a galera também trabalha, entre outras coisas”, conta Lee, sobre a experiência amadora no Parque São Jorge.
Com treinos uma vez por semana, o Mooca Destroyers, criado há seis anos, está na seção prata, a última, e usa a cor grená em seus uniformes para atrair simpatizantes do Juventus, o time de futebol (de campo) do bairro. A equipe, inclusive, chegou a jogar no estádio da Rua Javari, sempre com ingressos esgotados, mas está em busca de uma casa para chamar de sua.
Atualmente há duas possibilidades, a depender de negociações com a prefeitura. “A Secretaria de Esportes está analisando nossas propostas e ela sabe que hoje, nos campos municipais, só há espaço para o futebol (tradicional)”, diz Eduardo Veronesi, diretor do Mooca Destroyers.
Recém-chegado à Mooca, o professor de educação física Thiago Mello, 27, queria ser jogador de futebol de campo, mas seu tamanho (1,91 metro) sempre foi impeditivo. “Sempre procurei um esporte no qual meu padrão se enquadrasse. No futebol, as pessoas me falavam que sou muito lento, por causa do meu peso (hoje 130 quilos, ante 160, há poucos anos). Isso me desanimou, mas foi quando comecei a treinar agilidades. Hoje sou rápido”, diz Mello, que pegou gosto pelo esporte e sonha em jogar nos Estados Unidos. “Nem que seja para bater e voltar, mas quero treinar lá fora, depois de me aprimorar aqui.”
No bairro vizinho, o Tatuapé Monsters, fundado em 2015, está na série ouro, a segunda divisão, devido à crise financeira provocada pela pandemia, depois de umas boas temporadas na primeira. “Agora a ideia é reestruturar. Temos cerca de cinquenta atletas e cobramos uma mensalidade de 25 reais”, conta o assessor de investimentos Leonardo Bitencourt, presidente do time, citando uma prática comum entre equipes menores.
Na capital paulista, não é preciso passar na seletiva de um time para aprender na prática. Pode-se fazer aulas. “Quando fiz uma seletiva, vi que mais de 100 pessoas foram reprovadas. Depois disso, criei o projeto com o meu cunhado, Lukas Prado”, diz um dos sócios do Canniballs Football Club, Rafael Simão, 28.
A empresa, fundada em 2016, dá aulas de futebol americano, com turmas para todas as idades, em espaços públicos como o Parque Villa-Lobos e centros esportivos municipais nos quatro cantos da cidade. As aulas, que rolam de terça a domingo, duram cerca de uma hora e meia, com mensalidades a partir de 120 reais. Atualmente são 200 alunos.
Geralmente os treinos (deles e de quase todos os times) são feitos sem as marcações originais, pois os campos são voltados ao futebol convencional. Uma pintura específica para o futebol americano leva em torno de seis horas para ser concluída, o que é feito normalmente apenas quando há jogos.
Quem também enxerga oportunidade no nicho é o empresário Rodrigo Feo, 40, dono do Centro de Treinamento TouchDown, nas margens da Represa Guarapiranga. “Temos alunos dos 6 aos 16 anos”, explica Feo sobre a Escolinha de Futebol dos Spartans, clube do qual ele é presidente.
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Por ali, as mensalidades ficam na casa dos 70 reais. “Nós também temos um dos únicos campos exclusivos para futebol americano da Grande São Paulo. Em 2019 recebemos 111 jogos e partidas de diversos campeonatos.” Depois de dois anos sem SPFL, muitos fãs roem as unhas para acompanhar uma partida ao vivo.
É o caso de Lais Sodré, 34, assessora executiva de uma empresa de pesquisa clínica. Tanto seu time da liga americana (NFL), o San Francisco 49ers, quanto os brasileiros, dos quais coleciona dezenas de camisetas, merecem sua atenção. “Eu tenho uma do Corinthians Steamrollers com o meu nome e no futebol sou palmeirense”, brinca.
Lakita, como é conhecida, tem cerca de 10 000 seguidores no Instagram, uma parte considerável deles conquistada como membro da equipe do Salão Oval, um portal de notícias sobre o futebol americano no Brasil. “Comecei a cobrir a SPFL em 2013 e fui a quase todos os jogos”, conta ela, que também pode ser encontrada assistindo a uma partida do 49ers no St. Paul’s Pub, na Rua dos Pinheiros. Chega de telão, é hora de gritar na beira do campo.
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Os 3 pontos do basquete
A NBA é outra febre americana que faz sucesso por aqui. Os fãs da National Basketball Association lotaram a loja oficial da liga no Morumbi Town Shopping na inauguração, em outubro.
Foram cerca de 15 000 visitantes no primeiro fim de semana, com fila de espera de até três horas. É a maior loja da NBA na América Latina, com mais de 1 500 metros quadrados, quadra oficial de basquete e vestiários.
Além de bolas e camisetas autografadas, como uma do Chicago Bulls com a assinatura do Michael Jordan, e uma versão de exposição do troféu Larry O’Brien, dado aos campeões da NBA.
Em fevereiro, outro espaço foi inaugurado no MorumbiShopping, a terceira loja da liga na cidade, com 110 metros quadrados. A primeira foi aberta na capital em 2018, na Galeria do Rock.
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Publicado em VEJA São Paulo de 9 de março de 2022, edição nº 2779