Portinari é redescoberto em nova mostra do Masp
Telas nunca vistas pelo público mostram outras faces do pintor
Olhando a tela acima, você poderia pensar que se trata da obra de um impressionista e academicista, que retratou um baile num país estrangeiro. Mas, acredite, este é um autêntico Portinari. A imagem é uma entre as várias surpresas da mostra Portinari Popular, que será inaugurada na próxima sexta (12), no Masp.
Presas a estreitas colunas de madeira – uma releitura da expografia criada pela arquiteta Lina Bo Bardi para uma mostra do mesmo artista, em 1970 -, as pinturas em telas parecem flutuar no 2° subsolo do subsolo, trazendo um Portinari totalmente repaginado.
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O primeiro quadro da mostra, Baile na Roça, foi feito em 1924, quando Portinari ainda tinha 22 anos e estudava na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro. Numa cena de baile na cidade natal do artista, Brodowski, no interior paulista, aparecem figuras que representam seu pai (à direita, com um cachimbo) e sua irmã (à esquerda, com um lenço na cabeça). Nunca vista antes pelo público em geral, a tela faz parte de uma coleção particular, assim como boa parte das 54 peças reunidas por ali.
Com curadoria de Adriano Pedrosa, Rodrigo Moura e Camila Bechelany, a ideia é revisitar a produção do artista passando por seus vários estilos, épocas, pinceladas e coloridos. Para isso, a equipe fez uma garimpagem trabalhosa por diversas coleções do país.
“Já houve catorze mostras do artista por aqui. Mas, desde a exposição de 1970, nunca foi feito algo com esse recorte que mostre suas várias faces”, conta Camila. Para além de quadros já conhecidos do público como Retirantes e Mestiço (que também não deixam de fazer parte da seleção), o objetivo é revelar produções igualmente ou mais impressionantes do que suas tradicionais cenas bíblicas.
As abordagens vão desde retratos anônimos (os mais de 680 retratos de intelectuais, mecenas e políticas eram seu ganha-pão) até mulheres, favelas, brincadeiras de criança, tradições regionais e trabalho na lavoura. Ele não deixa, porém, de retratar seus personagens negros, índios, retirantes e cangaceiros, como é possível conferir na tela Mulata de Vestido Branco.
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Por ali, também estão alguns quadros que lembram o surrealismo e o cubismo, como na tela Favela, em que o morro do Rio é pintado com figuras geométricas.”Ele foi muito criticado por estilos como esse. Muitos já disseram que ele era um modernista que não deu certo”, conta a curadora-assistente. “Para nós, ele bebeu de várias fontes, produziu muito e não tinha medo de experimentar. Ele não seguia tendências e era muito bom no que fazia”.
A mostra Portinari Popular fica em cartaz até o dia 15 de novembro: quem já gostava do artista, agora vai se apaixonar.