Por dentro do estilo paulistano
Pesquisa mostra como vão as compras, quais são as lojas e estilistas preferidos e quanto gastam os moradores da capital na hora de se vestir
O burburinho da São Paulo Fashion Week, o principal evento de moda da capital, que teve sua mais recente edição realizada na semana passada no Parque Villa-Lobos, representa apenas uma entre as várias passarelas da cidade. Calçadas de ruas e avenidas, corredores de shoppings, festas e eventos diários também emprestam seus espaços para que o estilo paulistano mostre seus atributos. Uma enquete realizada em outubro pelo Departamento de Pesquisa e Inteligência de Mercado da Editora Abril com 747 pessoas radiografou a maneira como os moradores da cidade se vestem e vão às compras.
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Além de dar números a fenômenos conhecidos (as mulheres passam em média até meia hora se arrumando enquanto os homens decidem quase imediatamente o que vestir, por exemplo), o levantamento trouxe algumas surpresas. A inglesa Stella McCartney, filha do ex-beatle Paul, é a estilista mais admirada pelas entrevistadas. Os homens citam Alexandre Herchcovitch como sua principal referência na área.
Ao abrirem a carteira, ambos os sexos gastam na maior parte das vezes entre 200 e 500 reais, embora elas comprem muito mais por impulso do que eles (43% das entrevistadas confessaram o “crime”; no universo masculino, a proporção é de 15%).O setor de vestuário vive uma fase muito especial no país, puxada em boa parte pela força do mercado paulistano (ele responde por quase metade das vendas nacionais, segundo estimativas de empresários da área). Entre janeiro e setembro deste ano, o aumento de faturamento foi de 8,7%. As receitas registradas em centros de compras seguem ritmo ainda mais acelerado. O segmento, que corresponde a quase 20% do varejo nacional, faturou 108 bilhões de reais em 2011. Para este ano, a previsão de crescimento é de 12%, segundo dados da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce). Dos 444 shoppings espalhados pelo Brasil, quase 12% estão concentrados na cidade de São Paulo.
Segundo a pesquisa, um terço dos entrevistados afirma quesuas lojas de roupas preferidas estão localizadas em algum dos 52 centros de compras na capital. Outros 16% preferem endereços de rua, incluindo aí regiões voltadas ao comércio popular, como a da Rua 25 de Março. Cerca de 400.000 pessoas passam por ali diariamente movimentando cerca de 20 bilhões de reais por ano.O Shopping Center Iguatemi aparece como endereço de preferência de um em cada cinco entrevistados. Inaugurado em 1966, o local estreia na semana que vem uma nova fachada, fruto de um amplo restauro de oito meses e investimento de 14,5 milhões de reais.
Mas a chave do sucesso do shopping está espalhada pelos corredores. Segundo a pesquisa, é a variedade de lojas o seu principal atrativo. De acordo com o presidente do Grupo Iguatemi, Carlos Jereissati Filho, a empresa é uma das únicas a contar com um departamento inteiro, formado por trinta profissionais, voltado exclusivamente à renovação e ao equilíbrio do mix de lojas. “Assim como a moda, que muda a cada estação, também precisamos mudar para continuarmos interessantes”, afirma. Segundo ele, o paulistano hoje se veste melhor do que nas décadas anteriores, valorizando a alfaiataria e os tecidos de qualidade. “Há muito mais referências internacionais presentes na vida dos moradores da cidade”, diz ele.
A pesquisa evidencia essa questão: a designer inglesa Stella McCartney aparece como a preferida do público feminino, mesmo sem ter loja no Brasil. Já para os homens, o melhor traço vem das criações de Alexandre Herchcovitch, que abriu sua primeira loja no MorumbiShopping na década de 90. Esse centro de compras aparece em segundo lugar na preferência dos entrevistados.
O local é referência na área desde 1984, quando foi criado o Morumbi Fashion, corredor que concentrava asprincipais grifes e serviu de embrião ao que hoje é a São Paulo Fashion Week. “Sempre nos preocupamos em antecipar novidades do mercado”, afirma a gerente de marketing Kátia Gandini. O local abrigou ainda a primeira loja da espanhola Zara, em 1999. Hoje, a rede é a mais frequentada pelas paulistanas, que a escolheram como a melhor opção dentro de shoppings. Para se manter na briga pelo público, o Morumbi prepara para o mês que vem o lançamento da segunda loja da rede de cosméticos Sephora no Brasil, onde as clientes poderão experimentar as maquiagens numa espécie de degustação. Atrativos assim contribuem para que São Paulo seja cada vez mais vista como sinônimo de boas compras. Para 89% das pessoas, a cidade é uma capital da moda e 79% dos moradores acreditam se vestir de forma diferente quando comparados aos de outras cidades. “O paulistano tem um estilo muito urbano, mas que comporta diferenças de grupos e de bairros”, afirma Julia Petit.
Autora do site juliapetit.com.br e apresentadora do Base Aliada, exibido pelo canal pago GNT, Julia é apontada como uma das principais fontes de informação de moda e referência na hora de se vestir. Para ela, a metrópole permite a convivência de diversos estilos, do hipster (os ultramoderninhos) à patricinha. “Por ser muito grande, São Paulo conta também com segmentos regionais: o descolado da Vila Madalena, o mauricinho da Vila Olímpia e assim por diante”, afirma Julia.Quando questionados sobre como definem seu estilo, os paulistanos se dizem básicos (37%) ou clássicos (29%).
Essa aparentesimplicidade no modo de se vestir, porém, não se traduz em produções rápidas antes de sair. Quase metade das mulheres leva até dez minutos para garimpar no guarda-roupa o modelito com que irão ao trabalho ou à faculdade. À noite, a produção costuma se prolongar, tomando até meia hora. Para 5% delas, a preparação do look para a balada inclui um ritual que pode levar até duas horas. Já eles parecem não padecer desse mal: 61% escolhem na hora, sem titubear, o figurino com que sairão de casa pela manhã e 37% conseguem fazer o mesmo à noite. Outros 39% confessam que gastam uns dez minutinhos na preparação.