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Denise Weinberg brilha no teatro com o drama “As Criadas”

A atriz tem uma história profissional de muitos prêmios e pouca popularidade

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 5 dez 2016, 12h51 - Publicado em 30 jan 2015, 20h29

Em meio a centenas de livros, a estante do apartamento de Higienópolis serve de apoio a sete dos mais importantes prêmios do teatro brasileiro, como os extintos Molière e Mambembe e os cobiçados APCA e Shell. Todos foram atribuídos a uma atriz que é referência entre a crítica e os colegas, mas ainda pouco conhecida do grande público. Aos 58 anos, a carioca Denise Weinberg, radicada em São Paulo desde 1987, dedica a vida à arte de representar no palco e, em mais de três décadas, abriu raras exceções para investidas no cinema e na televisão.

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Uma amostra dessa entrega aos tablados é o espetáculo As Criadas, cartaz do Teatro Aliança Francesa, na Vila Buarque. Em cena, na montagem que oscila entre o drama e a tragicomédia, ela e Clara Carvalho interpretam duas empregadas oprimidas pelas constantes exigências da patroa (papel de Emilia Rey). Diante de pouco mais de 200 espectadores, Denise encontra satisfação nos calorosos aplausose abafa qualquer glamour em relação às suas escolhas. “Com o teatro, eu sempre ganhei pouco, o necessário para saldar minhas contas”, afirma ela, que mora sozinha, odeia badalação e circula de ônibus e metrô. “Para faturar o que receberia em três meses de gravações de uma série na Rede Globo, eu precisaria apresentar As Criadas por dois anos.”

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A seleção radical dos trabalhos só foi aliviada recentemente. Em 2012, a artista cedeu a um chamado da Globo e participou de dezessete capítulos da novela Amor Eterno Amor. Sua personagem, a sofredora Angélica, era dada como morta e voltava nos quinze capítulos finais, solucionando um mistério. Para tanto, a emissora fechou um contrato de oito meses, e a atriz recebeu mesmo fora do ar. Antes disso, ela colecionava discretas aparições nas minisséries Maysa — Quando Fala o Coração (2009) e Dalva e Herivelto, uma Canção de Amor (2010). “Não tenho motivações para ficar quase um ano trancada em um estúdio. Ficaria doente”, justifica.

O diretor Eduardo Tolentino de Araújo, fundador do Grupo Tapa e responsável pela profissionalização de Denise, afirma que a fidelidade ao palco é consequência da mudança da companhia carioca para São Paulo. “Se tivéssemos permanecido no Rio, ela poderia ter tentado a TV e talvez não fosse a estrela que é hoje”, declara ele, que reencontra a parceira em As Criadas após sete anos. “Denise construiu um repertório comparável aos de Cacilda Becker e Maria Della Costa, encenando os maiores dramaturgos, e, envolvida com as novelas, não teria tempo para isso.”

A transferência para a capital paulista, no entanto, veio seguida de um sacrifício pessoal. A profissional deixou o único filho, João Gabriel Carvalho, então com 8 anos, sob os cuidados do primeiro marido, de quem se separou quando o bebê tinha 3 meses. Racional ao extremo, Denise explica que não havia estrutura para manter uma criança em uma nova cidade, hospedada em hotel e longe de sua família.

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Nessa época, Denise era casada com o ator Ernani Moraes, com quem viveu por quinze anos. “Ela pegava o ônibus toda segunda para visitar o filho e voltava dois dias depois direto para o teatro”, lembra a atriz e amiga Clara Carvalho, também integrante do Tapa. Segundo Denise, o músico João Gabriel, hoje com 36 anos, é um admirador da mãe e entende suas decisões. “Eu abro mão de muitas coisas até hoje para exercer meu ofício, por isso não aceito que qualquer garota leia meia dúzia de livros e se diga pronta para encenar”, afirma. “Tenho vontade de bater na cara.”

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O cinema tornou-se um forte e gratificante aliado da atriz nos últimos anos. Em 2009, ela teve o primeiro personagem de projeção nas telas: uma advogada chave de cadeia no filme Salve Geral. Pouco vaidosa e despojada, a intérprete surpreendeu os colegas e até o porteiro de seu prédio ao aparecer com uma longa cabeleira ruiva e esmaltes berrantes em um intervalo das atividades no set. “Era impressionante vê-la tão livre de frescuras e cheia de personalidade, sentada por duas horas na sala de maquiagem, colando cílios e unhas falsas e se transformando em uma mulher completamente diferente”, conta a atriz Andréa Beltrão, protagonista de Salve Geral.

Metamorfose semelhante é o objetivo do cineasta Hector Babenco ao chamá-lapara o longa Meu Amigo Hindu, que ele roda no momento em São Paulo, totalmente falado em inglês. Na história, Denise vive a mãe do protagonista (o ator americano Willem Dafoe) e deve aparentar pelo menos dez anos a mais sem recorrer à caracterização pesada. “Eu não enxergo outra atriz brasileira que pudesse se encaixar tão bem nesse papel, com tamanha carga dramática e segurança para interpretar em outra língua. Nem mesmo Fernanda Montenegro”, elogia Babenco. 

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