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“Éramos quase vizinhos, mas só a conheci décadas depois pela internet”

Apesar de terem crescido em Pirituba, na Zona Norte da capital, Paulo e Shirlei se encontraram pela primeira vez em um site de relacionamentos em 2013

Por Paulo Sérgio Calábria, em depoimento a Júlia Rodrigues
Atualizado em 27 Maio 2024, 22h07 - Publicado em 14 abr 2022, 06h00
Shirlei e Paulo são um casal. Ambos são brancos e de meia-idade. Ele está sentado na beirada de uma mesa e segura um cachorro preto no colo. Ela está ao lado, em pé, e segura outro cachorro preto por uma das patas
O casal em sua casa em Pirituba: "Filhos de quatro patas" (Alexandre Battibugli/Veja SP)
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“Minha família, assim como a da Shirlei, sempre morou em Pirituba, na Zona Norte. Quando jovens, na década de 70, morávamos em ruas próximas e frequentávamos os mesmos lugares, como o centro esportivo, onde aconteciam matinês e bailes — as baladas da época —, o cinema de rua e as corridas de carrinho de rolimã, que rolavam em um terreno baldio do bairro. Apesar da proximidade, nunca nos esbarramos.

Fomos nos conhecer em um site de relacionamento para pessoas mais velhas, o Coroa Metade, em 2013. Até então, eu não havia me casado, nem tinha filhos, e morava sozinho. A Shirlei já havia sido casada e já tinha uma filha adulta desse relacionamento. O meu usuário, que era ‘piritubano’, foi a primeira coisa a chamar a atenção dela. Passamos a trocar mensagens também pelo Facebook e a conversar pelo telefone. O primeiro encontro foi alguns meses depois, na praça de alimentação de um supermercado, em Pirituba mesmo. No dia, ela atrasou e achei que tinha desistido. Eu já estava indo embora quando ela, sorridente, me chamou. Adoro contar essa história, brinco que ela quase me perdeu nessa ocasião.

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Um dos receios da Shirlei era que eu fosse ciumento como seu primeiro marido, então ela me testou por um tempo: vestia roupas curtas e saía sozinha para ver como eu reagiria, mas nunca me importei. Isso só fortaleceu a confiança dentro do relacionamento. Nosso segundo encontro foi no Parque Cidade de Toronto, dentro de um condomínio. Descobrimos que era ali, antes do prédio ser construído, que íamos assistir às corridas de carrinho de rolimã.

Shirlei e Paulo posam para uma foto sentados em uma mesa. Eles aparecem do peito para cima e sorriem. Ela usa um vestido branco e ele uma camisa verde água
O casal no casamento, em 2016: infância e juventude em Pirituba, na Zona Norte (Arquivo Pessoal/Divulgação)
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Em 2014, fui morar com ela na Freguesia do Ó enquanto minha casa, em Pirituba, era reformada para nosso futuro casamento. Não sei dizer se houve pedido oficial, já sabíamos que ficaríamos juntos desde o início. O que eu fiz foi comprar a aliança e deixar guardada para uma ocasião especial. Um dia, estávamos jogando papo fora e surgiu o assunto. Perguntei se gostaria de ter uma aliança e ela disse ‘surpreenda-me’. Ela de fato ficou surpresa, não imaginava que eu já havia comprado. O casamento foi em 2016, e assim que a reforma terminou, no mesmo ano, nos mudamos para lá.

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Digo para a Shirlei que, desde quando ela chegou à minha vida, ‘colocou cortininhas no meu coração’, porque, quando um homem mora sozinho, tudo é muito básico e sem graça. Hoje, nossa casa está toda decorada, com ela sempre mudando os móveis de lugar. O único cômodo em que minha esposa é proibida de mexer é o meu escritório.

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Sempre gostamos muito de animais e moramos atualmente com nossos ‘filhos de quatro patas’. São dois cachorros e quatro gatos. Eu sou muito calmo, ela é mais sentimental. Então, digo que ela põe ordem nos bichos e eu mimo. Mesmo opostos, nossa dinâmica funciona bem.”

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Publicado em VEJA São Paulo de 20 de abril de 2022, edição nº 2785

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