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Irmãs fazem poesias sob medida a partir de histórias de clientes

Os versos, que custam desde 100 reais, são eternizados em quadrinhos, canecas, guirlandas e ecobags e entregues em casa

Por Fernanda Campos Almeida
Atualizado em 27 Maio 2024, 17h50 - Publicado em 24 jul 2020, 03h58
 (Gabriela Talamonte/Divulgação)
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O empreendimento Manas Escritas nasceu em 2018, em parceria com a irmã e publicitária Natália, 30, mas só no início deste ano Lívia Mota, 34, havia abandonado completamente seus dias de redatora para viver de poesia e transformar histórias de desconhecidos em versos.

Antes da pandemia, a dupla era contratada para trabalhar em feiras e eventos corporativos e criar textos no estilo “flash poesia”, em que uma placa com os dizeres “vem prosear com a gente, e a gente poema para você” convidava os clientes a contar anedotas que viravam poemas feitos ali na hora.

A quarentena chegou, os eventos foram suspensos e elas tiveram de reinventar seu negócio. Foi assim que surgiu o delivery de poesia, que ganhou fôlego a partir da comemoração do Dia dos Namorados (quando muitos casais tiveram de passar a data separados). Como a demanda por poesias como forma de presentear cresceu, Lívia decidiu fazer o mesmo processo de criação que já usava no mundo empresarial, ouvindo histórias, mas com entrevistas por meio de vídeo e entrega pelo correio.

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Manas Escritas
As irmãs Lívia e Natália Mota, do Manas Escritas (Carol Zuliani/Divulgação)

De acordo com o gosto do freguês, os versos podem ser materializados em forma de lettering (escrita rebuscada) em quadros de madeira ou em estampas de flâmulas de tecido (bandeiras semelhantes às de festa junina), canecas, guirlandas e ecobags pelas mãos da artista Ana Paula Bolis, 30. Calígrafa, ela disponibiliza materiais e cores diferentes para cada peça, conforme o pedido.

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Lívia conta que, desde o início do isolamento social, tem percebido que a distância fez com que as pessoas se importassem mais em demonstrar afeto e oferecer afagos. Dar poesias como presente foi o que fez Clara Ruiz de Souza, 29, que não vê o noivo há cinco meses por causa da quarentena. “Tenho dificuldade de me expressar. Elas escreveram o que eu sentia, mas não sabia como dizer”, conta sobre a placa de pínus que decora a sala do parceiro que mora em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. “Além disso, é uma alternativa a tudo o que é comercial.”

O desafio de presentear a esposa com um mimo diferente todo ano, há mais de uma década, cresceu para Fellipe Rossi, 30, por causa da restrição de horários de abertura das lojas na pandemia. “O poema foi o presente que ela mais gostou e até chorou.”

Além dos novos clientes, a quarentena também acabou trazendo de volta alguns antigos consumidores. Dono de uma loja de vinhos em Campinas, José Lucio Natali, 75, conheceu a dupla em um evento de “flash poesia” e deduziu que, além de queijos, poemas podem harmonizar bem com a bebida. Natália organizou a festa de quinze anos da empresa com degustação e o serviço das poetisas no ano passado, além de usar versos com histórias dos produtores nos lançamentos de novas garrafas. Quando a pandemia forçou o fechamento da loja física, voltou a procurá-las e encomendou uma frase para as redes sociais: “Seja bem-vindo / sem abraço e sem beijinho / Use nosso álcool / beba nosso vinho”.

As poesias mais curtas, que cabem em um quadro, custam entre 100 e 150 reais, dependendo do material escolhido. Já poemas maiores variam de 200 a 400 reais. A encomenda pode ser feita por meio do Instagram @manas.escritas. Apesar da renda mensal ser 40% menor agora do que como redatora, Lívia afirma que se sente realizada com a mudança de vida. “A escrita é a forma como eu existo no mundo.”

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Manas Escritas
(Gabriela Talamonte/Divulgação)

Na procura de parcerias com outros empreendedores independentes, as irmãs encontraram Patrícia Rios, 34, proprietária da Trama Livre, loja on-line de panos de prato feitos a mão com frases empoderadas. “Em mim vivem caos e cura” foi o verso no tecido mais vendido entre as clientes de Patrícia, a maioria mulheres que usam a peça como forma de expressão em casa.

As empreendedoras também aplicam a escrita afetiva em encomendas corporativas (“com afeto, mas pulso firme”), votos de casamento (“tipo bem-casado, só que recheado de poesia”), cardápios, discursos e conteúdo para internet com “alma, cara e carisma”. Para aperfeiçoar o trabalho, Lívia faz cursos de escrita, filosofia e psicanálise durante a quarentena, enquanto Natália estuda ciências sociais. “Essas áreas nos fazem entender as condições sociais e a receber o outro com mais humanidade”, diz Lívia. As irmãs sonham transformar o negócio em um espaço cultural fixo, onde as pessoas possam produzir e trocar poesias acompanhadas de um vinho ou de um cafezinho.

Publicado em VEJA SÃO PAULO de 29 de julho de 2020, edição nº 2697. 

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