Tudo pela diva: Paulistanos enfrentam multidões e preços altos para ver Madonna no Rio
Preparativos para o show gratuito em Copacabana incluem acampar na praia e assistir ao show em barcos
Maior ícone do pop de todos os tempos, Madonna ocupará a praia carioca no dia 4 de maio, em um show gratuito que promete ser histórico. O evento vai marcar o encerramento da The Celebration Tour, turnê mundial dos 40 anos de carreira da cantora, que já circulou por dez países europeus, além de EUA, Canadá e México, e promete ser a mais apoteótica de suas apresentações, com um palco que terá o dobro do tamanho das anteriores.
Esta é a terceira vez que a artista pisa em solo brasileiro: ela já esteve aqui em 2008 e 2012. A notícia de que a diva poderia vir para o Rio de Janeiro começou a circular em 5 de março, divulgada pelo fã-clube Madonna Online, e desde então os fãs paulistanos se mobilizam para ir à Cidade Maravilhosa, enfrentando uma alta generalizada nos preços e falta de oferta de hospedagem.
Segundo pesquisa do HotéisRIO, a média de ocupação hoteleira na cidade é de 70,79%, para o fim de semana do show. Em Copacabana e Leme, onde ocorrerá o evento, o número é ainda maior: 83,38%. Os fãs que se organizaram antes mesmo do anúncio oficial, como a jornalista Mariana Tegon, levaram a melhor. “Segui minha intuição e comprei passagem e hospedagem assim que vi o post do Madonna Online”, conta a paulistana de 30 anos. A diária em um hotel em Copacabana e a passagem de ida e volta de avião saíram por menos de 1 000 reais. “Eu iria até o inferno pela Madonna”, confessa a fã, que já foi vê-la em Lisboa no início deste ano.
Pedro Henrique Alves não teve a mesma sorte. O paraibano se mudou para São Paulo há três anos e encontrou dificuldades para alugar um apartamento no Rio. “Fiquei meses tentando achar um lugar para ficar”, relata. Ele já alugou três apartamentos, mas todas as reservas foram canceladas pelos anfitriões, que, ao descobrirem o show, decidiram cobrar diárias maiores. Na primeira tentativa, tinha fechado com um grupo de amigos um apartamento em Copacabana por 600 reais a diária. Agora, o mais barato que encontrou foi um espaço de 1 100 reais, no Flamengo.
O setor VIP terá 7 500 pessoas que poderão assistir ao show perto da cantora, em um espaço que promete ser mais seguro e com maior visibilidade. O Itaú Unibanco, patrocinador do evento, concedeu ingressos especiais para convidados e clientes mediante sorteio e lançou uma parceria com fã-clubes. O banco solicitou que os fãs enviassem vídeos contando suas histórias com a Madonna e premiou os melhores relatos com o pacote VIP.
“Comecei a chorar quando recebi o prêmio”, conta Lucas Nilo, 34, que atribui à Madonna seu sucesso profissional. O jovem cresceu em uma periferia do Rio de Janeiro e, aos 13 anos, criou um fansite em homenagem à artista, uma experiência que o qualificou nas áreas de programação e design. Hoje em dia ele atua como designer de produtos digitais em São Paulo.
Para quem não teve a sorte do VIP e quer ver a Madonna bem de perto, o jeito é dormir na praia. “Minha expectativa é pegar a grade”, conta Caroline Souza. A arquiteta de 30 anos planeja ficar do dia 1º até o dia 4 acampada nas areias de Copacabana. Ela e oito amigos reservaram um hostel, só para tomar banho e cozinhar, em um esquema de revezamento. Com colchões infláveis e travesseiros, o grupo passará as três noites dentro da barraca.
Com um público massivo com idade na casa dos 30 anos, alguns paulistanos estão dispostos a sacrificar tudo pela Madonna. A segurança, contudo, tem apavorado muitos, e força os espectadores a se adaptarem, mas não é muito distante da realidade de São Paulo. “Quem mora aqui já está acostumado a tomar cuidado com celular”, conta Rafael Arena, criador do Madonna Online. As estratégias para burlar os furtos de celulares são diversas: levar o “celular do ladrão”, usar um smartphone por grupo, ir sem eletrônicos ou usar câmeras digitais antigas, para registrar o evento.
O paulistano Rafael Albuquerque, 21, fã da cantora, afirma temer a possibilidade de assaltos. Mesmo sem coragem de se aventurar na multidão, ele decidiu ir para o Rio de qualquer jeito e ficar na casa de um amigo, na Barra da Tijuca. “Queria me sentir mais perto, fazer parte do show mesmo não estando lá”, diz.
Assistir ao show na praia também não era uma opção para Laís Marques, assistente executiva de 29 anos, que queria fugir das multidões. Quando soube do evento, começou a procurar apartamentos na orla de Copacabana, para ver pela sacada do prédio. Até que descobriu a possibilidade de alugar um barco. Por 4 000 reais, ela e oito amigos assistirão ao espetáculo em um barco estacionado na altura do Copacabana Palace, a uma distância mínima de 200 metros da praia. E ela não foi a única: a capitania dos portos estima que sairão mais de 200 embarcações no dia do show. De qualquer ângulo, os fãs querem ver Madonna.
Publicado em VEJA São Paulo de 26 de abril de 2024, edição nº 2890.