A crise do mercado editorial, que levou as gigantes Cultura e Saraiva a pedir recuperação judicial, passa longe da Livraria da Travessa. O grupo carioca, que tem sete unidades no Rio de Janeiro, uma em São Paulo, no Instituto Moreira Salles, e outra em Ribeirão Preto, promete inaugurar em março a primeira loja de rua na capital paulista. O endereço, na Rua dos Pinheiros, próximo ao Metrô Fradique Coutinho, quer aproveitar a vocação moderna do bairro. “Estudamos o mercado paulistano há mais de dois anos e nossas opções sempre giravam entre Higienópolis, Jardins e Pinheiros”, afirma Rui Campos, diretor-geral da livraria. “Comecei a circular mais por Pinheiros e percebi que é um bairro que recebe um público mais diversificado”.
Uma casa pequena, de aproximadamente 180 metros quadrados entre piso e mezanino. Esse é o cenário da futura Travessa de Pinheiros, que tem o projeto arquitetônico executado a quatro mãos por Bel Lobo e Mauro Munhoz. O aluguel do imóvel foi fechado há vinte dias, e as obras atravessarão aceleradas janeiro e fevereiro para a abertura em março. O investimento gira em torno de 1 milhão de reais. “O Mauro enxergou a casa e comentou que ela parece um cubo, então resolvemos aproveitar essa imagem para criar um conceito que vamos aplicar por ali”, completa. Campos.
O tal conceito cubo prega um estilo mais enxuto, diferente das lojas cariocas de rua, que têm entre 400 e 800 metros quadrados. O estoque será menos abrangente que os pontos tradicionais e fechará o foco em livros. A exceção será aberta apenas para algumas opções de CDs, DVDs e artigos de papelaria. Um deque, na frente da casa, poderá receber eventos de pequeno porte, como saraus e shows, que dialoguem com o universo literário e o bairro.
Campos afirma que o segredo da Travessa, criada no Rio de Janeiro em 1986, é dar um passo de cada vez. Cautela nunca fez mal para eles. “Nós trabalhamos com recursos do nosso caixa, então não dá para fazer experiência e correr riscos”, diz. A estratégia tem dado certo. O ano deve fechar com um faturamento bruto de 78 milhões de reais, 15% a mais que em 2017. “Com toda essa crise não vimos a venda de livros cair e, esse fim de ano, inclusive, deu uma acelerada”, completa.