Lina Bo Bardi é tema de quatro mostras em São Paulo
A arquiteta é responsável pelos projetos do Masp e do Sesc Pompeia e completaria 100 anos em dezembro
Durante os 45 anos de carreira da arquiteta Lina Bo Bardi no Brasil, poucos de seus projetos foram efetivamente construídos. Ainda assim, de tão relevantes se tornaram símbolos de São Paulo, reconhecidos mesmo entre as pessoas que não frequentam os espaços: o Museu de Arte de São Paulo (Masp), o Sesc Pompeia, o Teatro Oficina e a Casa de Vidro (sua residência no Morumbi). Nascida na Itália em 1914, ela mudou-se para cá em 1946, após uma viagem para acompanhar o marido, o crítico e galerista Pietro Maria Bardi, na venda de obras de arte.
Um convite do barão da mídia Assis Chateaubriand fez o casal permanecer na capital: Bardi ajudou na criação do Masp (então no centro da cidade), assumindo sua curadoria e, anos depois, Lina projetaria a icônica nova sede da instituição, inaugurada em 1968 na Avenida Paulista. Mulher de personalidade forte e avessa a eventos sociais, a artista adotou o Brasil — chegou a abrir mão da cidadania italiana para poder naturalizar-se, apesar de nunca ter perdido o sotaque carregado. Fã de moqueca, feijoada e batidas de cachaça, dedicou seu trabalho a consolidar uma identidade cultural brasileira nas artes e no design. Se estivesse viva (morreu em 1992), faria 100 anos em dezembro. Para homenageá-la, quatro exposições estão programadas para entrar em cartaz na cidade nos próximos meses.
A primeira, Maneiras de Expor: Arquitetura Expositiva de Lina Bo Bardi, abre nesta terça (19) no Museu da Casa Brasileira, no Jardim Paulistano. Serão reproduzidos elementos de uma mostra que a artista promoveu no Parque do Ibirapuera, em 1959, quando espalhou folhas secas pelo chão (tradição do candomblé) e reuniu objetos de arte popular brasileira — à época sem valor artístico. Estarão lá também seis réplicas de seus famosos cavaletes de vidro projetados para o Masp, trancados nos porões da instituição desde 1996.
A arquiteta acreditava que o acervo do museu deveria ser disposto sem organização hierárquica e que caberia ao visitante escolher o próprio percurso. Já o edifício funcionaria como uma caixa de vidro; hoje, no entanto, as janelas estão lacradas, sem vista para o lado de fora. “A construção seria uma ponte sobre a Avenida Paulista”, explica o arquiteto Marcelo Suzuki, seu ex-colega de trabalho.
A intenção de conceber espaços multiculturais abertos ao público atingiu seu ápice com a transformação de uma antiga fábrica de tambores em um centro cultural, em 1982. Além de espaços para exposições, teatro, shows e esportes, o plano para o Sesc Pompeia incluiu áreas com bancos, dedicadas ao “ócio”. Mais de três décadas depois, o lugar se enche nos fins de semana de paulistanos que tomam sol em suas ruas internas. “É a cidade que deu certo, confortável e atraente para pessoas de todas as idades e classes sociais, sem circulação de carros”, diz o arquiteto Marcelo Ferraz, que também atuou no projeto.
A partir de 8 de outubro, o local receberá duas exposições. Lina Gráfica dedica-se a catálogos e revistas editados por ela e às ilustrações publicadas no jornal Diário de Notícias, da Bahia, e A Arquitetura Política de Lina Bo Bardi traz desenhos, maquetes e vídeos inéditos.
O mobiliário que desenvolveu — ela chegou a ter uma empresa de design de móveis no fim da década de 40 — será o tema de Lina Bo Bardi em Seu Tempo, na Casa de Vidro, residência construída no Morumbi em 1951. “O espaço iria abrigar um ateliê para artistas residentes, como fazia a escola de design Bauhaus, na Alemanha”, conta Zeuler Rocha Lima, autor da biografia Lina Bo Bardi, lançada no ano passado pela editora da Universidade Yale (EUA), ainda sem tradução no Brasil. Como o plano não deu certo, o casal foi morar ali. Hoje o imóvel é sede do Instituto Lina Bo e P.M. Bardi. A mostra é uma boa oportunidade para conhecer uma obra que não fica aberta à visitação e mantém expostos os móveis, quadros e objetos colecionados pelo casal italiano em suas viagens.