Paulistano assume o cargo mais elevado de um docente na França
O professor de literatura lusófona Leonardo Tonus assume cadeira na Sorbonne Nouvelle em setembro
Com o desafio de ampliar a presença da literatura brasileira na França, o paulistano Leonardo Tonus, 57, acaba de ser nomeado professor catedrático na universidade Sorbonne Nouvelle, de Paris. Trata-se do cargo mais elevado na carreira de um docente no país europeu. Pró-reitora da universidade, Capucine Boidin explica que as vagas para catedráticos são raras, “especialmente em literatura e idiomas estrangeiros”. A escolha é sinal de prestígio do Brasil: “Depois da Itália, é o país com o qual mantemos o maior número de cotutelas para doutorado”, revela Capucine.
A missão não é simples. O jornalão francês Le Monde mostrou, em janeiro, que o consumo de literatura estrangeira caiu na última década por lá e o inglês é mais lido do que todos os outros idiomas somados. Para piorar, o número de especialistas em Brasil nas faculdades de letras vem reduzindo e, hoje, há apenas três em toda a França. Mas, para Leonardo Tonus, o Brasil tem potencial para explorar nichos que despertam interesse espontâneo lá fora, como fizeram os países escandinavos: “O romance policial nórdico é hoje um sucesso em todo o mundo. Os franceses são curiosos sobre a nossa ruralidade e a nossa ancestralidade multiétnica, por exemplo. O fenômeno Torto Arado, de Itamar Vieira Junior, é comparável a Paulo Coelho”, observa o professor.
Com tarimba para ajudar a mudar o quadro, Tonus ensinou literatura lusófona por 23 anos na Sorbonne — a universidade clássica, da qual a Sorbonne Nouvelle derivou. Poeta premiado, foi curador do Salon du Livre de Paris e produziu por sete anos um festival que divulgava nossas letras entre estudantes de toda a França. Ao tomar posse em setembro, ele pretende intensificar as parcerias com instituições como a Academia Brasileira de Letras e a Universidade Federal do Ceará. Tem a seu favor uma temporada cruzada França-Brasil, acertada pelos presidentes Lula e Emmanuel Macron, com atividades previstas nos dois países em 2025. “Além de colóquios e seminários, vamos programar eventos culturais, pois o diálogo com as artes atrai público para a literatura”, adianta o professor.
Nos anos 2000, o interesse por livros brasileiros cresceu entre os leitores franceses — segundo Leonardo, em grande medida graças ao Programa de Apoio à Tradução e à Publicação de Autores Brasileiros no Exterior, criado em 1991 pela Biblioteca Nacional. Na última década, o programa foi atingido por sucessivas crises financeiras. “Muito esforço foi perdido pela descontinuidade, mas algo permaneceu. Autores de quadrinhos, como Marcello Quintanilha, até hoje fazem sucesso no país”, reflete Tonus. “As editoras, por sua vez, também devem traduzir seus sites para o inglês e conhecer melhor os mercados editoriais pelo mundo”, conclui.
Publicado em VEJA São Paulo de 14 de junho de 2024, edição nº 2897