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Cia. La Mínima enfrenta primeira peça sem Domingos Montagner

Ator, palhaço e antigo parceiro do falecido artista, Fernando Sampaio comanda montagem que não contou com a participação do amigo

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 6 dez 2019, 18h28 - Publicado em 6 dez 2019, 06h00

Em cartaz no Teatro Vivo até a quinta (12), Ordinários é o primeiro espetáculo da Cia. La Mínima sem a participação do ator Domingos Montagner (1962-2016), que morreu afogado no Rio São Francisco em um intervalo das gravações da novela Velho Chico. Pagliacci, a peça anterior, lançada em 2017, contou com o artista na concepção e trazia sua imagem cravada no centro do cenário.

Três anos depois, a lembrança da tragédia ainda embarga a voz do ator e palhaço Fernando Sampaio, o outro fundador da La Mínima, e chega a levá-lo às lágrimas. “Trabalhamos juntos por trinta anos, fizemos mais de 5 000 apresentações, tudo por aqui está impregnado do Duma (apelido de Montagner), como é que vou me conformar?”, indaga-se Sampaio, que, na atual montagem, contracena com Fernando Paz e Filipe Bregantim.

Fernando Sampaio e Domingos Montagner na peça ‘Mistero Buffo’ (Carlos Gueller/Divulgação)

Ordinários reestreia na capital em fevereiro e, na sequência, circula por sete cidades do interior. A comédia mostra três soldados que se exigem o melhor desempenho em obscuras missões. A ficção encontra reflexo na rotina obstinada do ator. “Fernando tem uma defesa incansável da arte do palhaço e mantém um treinamento constante, mesmo que não esteja em fase de ensaios”, afirma Newton Moreno, responsável pela dramaturgia de Ordinários. “É impressionante sua capacidade de ser tão eloquente sem palavras.”

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O circo entrou na vida desse paulistano de 54 anos só depois de adulto. Formado em administração e funcionário de uma multinacional, Sampaio aceitou o convite de uma amiga para ver Ubu, Folias Physicas, Pataphysicas e Musicaes, peça dirigida por Cacá Rosset em 1985. Saiu deslumbrado. Largou o emprego, virou corretor de imóveis e, com horários flexíveis, estudou artes cênicas. Em 1987, conheceu Montagner no Circo Escola Picadeiro e com ele formou uma dupla. “Animei festas infantis, fiz perna de pau nas ruas, e só sofreria mesmo se eu ainda estivesse em um emprego chato”, conta Sampaio, que, em 1997, criou a La Mínima junto com o parceiro.

No teatro e no cinema: o ator divide a cena com Filipe Bregantim e Fernando Paz na peça ‘Ordinários’ (Carlos Gueller/Divulgação)

Foi também nos bastidores do circo que Sampaio conheceu sua mulher, a trapezista Erica Stoppel, mãe de Tomás, de 17 anos. Ele e o filho contracenaram na novela Meu Pedacinho de Chão, exibida pela Globo em 2014, sua única experiência no vídeo. “Quando vejo uma câmera, não sei bem o que fazer, falo alto, faço caretas”, reconhece. Nos cinemas, o ator está na comédia Maria do Caritó, protagonizada por Lilia Cabral, como um integrante da trupe que arma lona em uma cidade nordestina. “Não me considero um ator até hoje, acho o teatro vaidoso, o pessoal se preo cupa com críticas e prêmios”, confessa. “Quero mesmo é provocar o riso, a transformação”, completa.

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O ator pode ser visto nas telas no filme ‘Maria do Caritó’, ao lado de Gustavo Vaz e Priscila Steinman (Selmy Yassuda/Divulgação)

Em outubro, a La Mínima rodou em um ônibus por Cidade Tiradentes, Parelheiros e Brasilândia. Os artistas estacionavam o veículo e iniciavam a peça para quem quisesse parar e vê­los. A companhia prepara um novo espetáculo, dirigido por Luiz Carlos Vasconcelos, que deve se chamar Aposta de Palhaço. A vida seguiu sem Domingos, mas sua memória continua viva, acesa, de forma construtiva e estimulante em novas parcerias. “E assim será sempre”, garante Sampaio.

Publicado em VEJA SÃO PAULO de 11 de dezembro de 2019, edição nº 2664.

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