Nasce uma estrela na CNN: Gabriela Prioli causa reviravolta na emissora
Conheça a advogada de personalidade forte e desenvoltura televisiva que contrasta com debatedores pouco convincentes; saiba qual deve ser seu futuro na TV
As seis horas sagradas de sono da advogada Gabriela Prioli, 34, tornaram-se intermitentes no início de março. Na madrugada, deixa na cama o marido, Thiago Mansur, 36, DJ de multidões com a dupla JetLag. Vaga pela cobertura na região de Pinheiros, onde vivem há quatro anos, em busca de uma leitura para se acalmar. Entre as preferidas, o Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa.
A insônia de Gabi (os amigos pronunciam Gábi) tem um nome pomposo: O Grande Debate, quadro no canal de notícias CNN Brasil, que estreou em 16 de março. Das 9 horas às 9h45, ela se posicionava no lado esquerdo da bancada, comandada por Reinaldo Gottino, no Novo Dia. “Se sou de esquerda? Depende do referencial teórico. Hoje em dia, até o João Doria é considerado esquerdista. Com as discussões generalistas e violentas, fica complicado se posicionar”, diz a advogada, que ganhou milhares de seguidores (mais de 700 000 no Instagram), mas também recebe ameaças de morte.
Gabriela virou estrela da televisão graças a Leandro Cipoloni, vice-presidente de jornalismo da emissora. Ele a conheceu após ler a dissertação “A influência da repressão penal sobre o usuário de crack na busca por tratamento”, que ela defendeu no mestrado em direito penal na USP. Por propor um viés humanitário para o combate às drogas, em 2017, ela foi chamada várias vezes por Cipolini para participar de debates na Record (ele era o diretor de gestão de jornalismo), comentando as ações do então prefeito Doria na Cracolândia. Os dois ficaram amigos. Gabi também era sócia do escritório Toron, Torihara e Szafir, mas hoje dá consultoria no Del Nero, Favaretto & Vieira Advogados. Tem um canal no YouTube e dá aulas no curso de pós-graduação em direito penal no Mackenzie, onde se formou.
Para fazer contraponto a ela, sentava-se à direita do vídeo o bacharel em direito Caio Coppolla, famoso por suas frases de efeito na rádio Jovem Pan. O clima entre a dupla azedou no segundo dia no ar, quando seu colega se referiu a ela como “vigarista”, ao vivo. Apelidado de “Caio Copano”, por “passar pano” para as ações do governo de Jair Bolsonaro, ele foi afastado na quarta (18) após uma gripe (nada de coronavírus, afirmam). Coppolla indicou para seu lugar o empresário Tomé Abduch, líder do movimento de direita Nas Ruas, que em manifestação a favor da Lava-Jato em 2019 tocou no carro de som Como É Grande o Meu Amor por Você, para homenagear o ministro da Justiça, Sergio Moro. Ele virou meme em um manterrupting, quando um homem não deixa uma mulher falar. “Mas ele é educado e pede desculpas”, diz Gabi.
A reviravolta fora das câmeras ocorreu na sexta (27), quando Gottino, o mediador, interrompeu a advogada várias vezes. No domingo (29), Gabi tornou público seu drama com um textão nas redes sociais, surpreendendo a direção da CNN. Não adiantou nem o pedido de desculpas de Gottino. “Posso arcar com quebra de contrato, mas esse episódio já tem um saldo positivo: serviu para inspirar pessoas. Ninguém deve ir contra suas crenças nem aturar desrespeito”, disse a amigos.
Até o fechamento desta edição, a hipótese mais provável era a volta de Gabi ao ar no Expresso CNN, com Monalisa Perrone, das 18h30 às 21h30, horário nobre. Seu quadro ficava sempre entre os cinco maiores picos de audiência. Falta decidir o parceiro de debate: após o atrito, Caio e Abduch não dividirão mais a bancada com a advogada. A amigos, ela diz que se ressente de estudar durante cinco horas e, ao vivo, precisar rebater achismos e teorias conspiratórias. “Opino sobre temas. Por exemplo, não refuto o governo Bolsonaro, pois reconheço boas ações dos ministérios da Saúde e da Infraestrutura. Chega de generalizar a discussão política.” Os dois direitistas deverão entrar em outro programa. “Fiquei chateado com a saída dela. É uma grande profissional. Acho que não se importava com minhas interrupções, assim como eu não ligava para suas caras e bocas”, acredita Abduch.
Desde menina Gabi tem a mania de arregalar os olhos azuis quando fica indignada. Na infância, irritava-se quando era chamada de “patricinha” pelos vizinhos da Vila Mangalot, na Zona Norte, onde cresceu. “Minha mãe criou a mim e a meu irmão sozinha, com o salário de fonoaudióloga. Estudei em um bom colégio porque consegui bolsa integral”, conta a ex- aluna do Campos Salles.
Aos 6 anos, viu seu pai morrer em um acidente de carro quando a família voltava de um sítio em Itapecerica da Serra. “Meu marido perdeu o pai dele aos 6 meses. Queremos gerar ou adotar um filho, como forma de resgate desses laços.” Gabi conheceu Thiago na academia. Passou semanas observando quem descreve como “o homem mais lindo que já vi”, até que tomou coragem e foi abordá-lo enquanto ele corria na esteira. “Oi, você é DJ?”, disparou. Ele caiu na cantada. “Gabi é obviamente linda, mas o que me chamou atenção foi a inteligência”, diz. Engataram um namoro após um mês. Duas semanas depois, foram morar juntos. Feminista, ela também nutre sonhos românticos. Quer se casar em cerimônia intimista, só não sabe quando. E sobre as ambições profissionais? “Eu me descobri uma comunicadora e pretendo seguir em contato com o público.”
+Assine a Vejinha por 14,90 mensais.
FATOS E ARGUMENTOS
Raízes: Gabriela Prioli Della Vedova nasceu em 21/1/1986, na capital paulista, e foi criada na Vila Mangalot, na Zona Norte. É filha do contador Francisco Della Vedova (falecido em 1992, em um acidente de carro) e da fonoaudióloga Marta Prioli. Tem um irmão, Rafael, 32, publicitário.
Debate: prega a descriminalização das drogas “pra ontem”. Mas afirma que nunca provou nada. “Só tomo um vinho com o meu marido de vez em quando.”
Reflexão: possui centenas de livros espalhados pela cobertura, na região de Pinheiros. “Sem nenhuma ordem, sou bagunceira.” Na cabeceira, obras como Ressurreição, de Tolstói. “Segue atual e recomendo.” Está lendo O Novo Iluminismo, de Steven Pinker, e Consenso e Contrassenso, de André Lara Resende.
Lacre: ama sapatos e adquire modelos como Eclypse Rainbow, de Stella McCartney (5 500 reais), e as sandálias Flame Prada (6 500 reais). Faz compras on-line e indica o Bazar Brechó Obra do Berço.
Bastidores: sob a bancada, gosta de roupas confortáveis e de chinelos e tênis. Nos corredores da CNN, faz “dancinhas” para comemorar boas notícias. Ouve podcasts e músicas, de Carta de Amor, de Maria Bethânia, sua canção predileta, a hits de tecnobrega.
Priolianos: assim se chamam os fãs da advogada. Entre os maiores admiradores, o marido, o DJ Thiago Mansur, 36, com quem mora há quatro anos. “Pensamos em casar e ter filhos, mas não agora”, ela conta. Outra entusiasta famosa é Anitta. “É a mulher mais inteligente do mundo inteiro, além de gata”, afirma a cantora.
Publicado em VEJA SÃO PAULO de 8º de abril de 2020, edição nº 2681.