“Esperei quinze anos para casar com ele”
Anna Carolina comemora que, apesar das diferenças, conseguiu se casar com o sambista Marcelo “Casa Nossa” após anos tentando
Minha irmã mais velha conhecia o Leandro Lehart, do Art Popular. Foi ela quem me levou à casa dele, e, enquanto jogava basquete na quadra, Marcelo, músico do grupo Casa Nossa, chegou. No intervalo da partida, começamos a conversar.
Eu sou carioca, mas vivia entre o Rio de Janeiro e São Paulo a trabalho. No fim de semana fomos, com amigos, a um bar no Tatuapé, onde rolou uma troca de olhares. Sempre gostei de homens mais velhos, nunca tive paciência para aquele besteirol de adolescente. Marcelo tem 16 anos a mais que eu e a conversa com ele me conquistou.
Eu planejava voltar para o Rio no dia seguinte, mas ele pediu para que eu ficasse por mais tempo. Naquele dia, um domingo frio e chuvoso, nenhum sinal dele. Liguei para Marcelo e disse ‘você pediu para que eu ficasse, mas vai me deixar dentro de casa sozinha?’. Ele tomou um banho rápido, me levou para uma festa junina na Portuguesa e depois para o Carioca Club, onde ficamos pela primeira vez. No fim de semana seguinte, nos encontramos em outra festa na casa do Lehart e começamos a ficar firme. Brinco com ele que a partir daí eu comecei a ser enganada. Na minha volta ao Rio, ele se declarou em uma carta linda.
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No mês seguinte, decidi me mudar de vez para São Paulo. Marcelo ficou assustado. Eu amava minha cidade, mas já estava apaixonada por ele.
Nosso namoro teve altos e baixos. Sentia muito ciúme, mas tinha meus motivos para isso. Por ser uma figura pública, em qualquer lugar havia um monte de meninas em cima dele. Eu não falava nada, mas ele via nos meus olhos o que eu sentia. Para baixar a bola dele, dizia que Marcelo era um tiozão e que elas o viam como um acesso para entrar em shows de graça. Ele é reconhecido até em nossas viagens ao exterior. Nunca consegui me acostumar com isso.
Marcelo me enrolou por quinze anos para não casar. Sempre que tentava combinar a data da cerimônia, ele dizia que iria tocar em outro estado com o Casa Nossa.
Na minha primeira gravidez, dei a luz à Giovanna, 16. Eu tinha 24 anos, não esperava ficar grávida. No dia do nascimento, ele teve de sair correndo de um evento até chegar ao hospital para acompanhar o parto. No dia seguinte, ele não ficou com a gente porque tinha ensaio da escola de samba Rosas de Ouro. Giovanna é igualzinha ao pai, fala demais.
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Cinco anos depois, Marcelo fez um show com o cantor Belo, que foi um sucesso. Saímos de lá às 8 da manhã e acabamos concebendo Guilherme, 11. Lehart adivinhou que seria menino e se tornou o padrinho dele.
Eu sou muito diferente de Marcelo. Gosto de dormir e acordar cedo. Ele, por outro lado, trabalhava até de madrugada e não tinha um dia que não deixasse de sair.
Estava sempre com um amigo, em um bar ou jogando futebol, nunca ficava em casa comigo. Eu tinha uma rotina com as crianças. Já ele acordava, almoçava e jantava a qualquer horário. Marcelo me ligava querendo sair com as crianças à meia-noite. Por causa disso, era uma treta atrás da outra. Em 2013, nos separamos, mas voltamos a nos falar depois de seis meses. Pensei que nossa situação estava uma palhaçada e que se fosse para reatar a relação seria para casar de vez. Marquei a data do casamento sem confirmar com ele. Marcelo pagou tudo, até meu vestido.
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Em 2016, finalmente casamos e fomos morar juntos. Ele contratou o show da escola de samba Mancha Verde. Giovanna entrou cantando, Guilherme jogou as flores e minha avó carregou as alianças. Foi um evento maravilhoso em Tremembé, interior do estado.
Desde então, Marcelo mudou e virou meu parceiro dentro de casa. Hoje, na pandemia, as coisas se inverteram. Eu tenho mais trabalho no home office e ele está mais parado do que olho de boneca, à espera de os eventos voltarem para gravar um DVD com o Casa Nossa, depois de quinze anos de separação do grupo.”
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Publicado em VEJA São Paulo de 23 de junho de 2021, edição nº 2743