“Meu ex-marido não pode saber que me casei de novo e voltei para SP”

Caroline* conseguiu escapar de um relacionamento abusivo e encontrar um novo amor

Por Caroline*, 44 anos, em depoimento a Fernanda Campos Almeida
Atualizado em 27 Maio 2024, 20h06 - Publicado em 11 jun 2021, 06h00
robson e caroline estão um com o braço nas costas do outro. Ela está de costas e ele de perfil, olhando para ela
Caroline foi ameaçada pelo ex-companheiro, que não sabe que hoje ela vive um novo amor com Robson (Caue Moreno/Veja SP)
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“Minha vida se dividia entre Pernambuco e São Paulo. Quando adulta, me estabeleci de vez na capital paulista e conheci meu ex-marido. Desde o início sabia que ele exagerava na bebida e usava drogas. Sempre pedia para que ele parasse. Depois de cinco anos de namoro, finalmente parou. Então resolvi que era hora de casar.

Não demorou um mês após o casamento para que ele voltasse com os velhos hábitos. Tentamos consulta com psiquiatra, sugeri internação. Fiz tudo o que podia. Foram doze anos de infelicidade, mas os últimos três foram os piores. Sem parar em um emprego, ele começou a me prejudicar financeiramente. Eu bancava a casa, contas, gastos com nosso filho, as dívidas que ele criava em meu nome. Em paralelo, ele afundava de vez na bebida e virava uma pessoa agressiva. Quebrava coisas em casa, atirava copo de vidro no chão. O que tivesse na mão, jogava em mim: controle remoto, panela, ferro de passar. Quando eu ameaçava ir embora, ele prometia que ia mudar, procurar tratamento e que voltaria para a igreja. No começo eu acreditava, até perceber que tinha virado um círculo vicioso. Meu sentimento por ele tinha acabado, mas, por um lado, ainda tinha dó por ele não ter o apoio de ninguém.

Ele nunca aceitava o término e começou a me perseguir. Disse que ia me matar, que eu viraria estatística de feminicídio. Escondi todas as facas de casa. Tive força para terminar o relacionamento quando meu filho perguntou, se algo acontecesse comigo, quem cuidaria dele.

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Em 2019, convenci meu ex a passar um tempo em Goiás com sua família. Assim que saiu da cidade, mudei de casa sem ele saber e fiquei escondida em outro bairro por quatro meses. Fiz um boletim de ocorrência, consegui uma medida protetiva, pedi um ano de licença não remunerada do emprego e depois fugi para Pernambuco com meu filho. Tirei um peso tremendo das minhas costas.

Um amigo me aconselhou a entrar nesses aplicativos de namoro e bater um papo. Baixei e gostei da foto de um rapaz. Quando fui ampliar a imagem, mandei um coraçãozinho sem querer. O pretendente, Robson, morava perto e me correspondeu rapidinho. Disse que já estava de olho em mim, que me via tirando o carro da garagem. Ele também tinha sofrido com um divórcio.

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Dentro de mim ainda tinha um medo de viver todo aquele inferno de novo. Mas ele se mostrava diferente. Robson me transmitia segurança e respeito. Assim como eu, ele é discreto, não fala alto, não gosta de se expor. Fazia pequenas gentilezas como puxar a cadeira para que eu sentasse, abria a porta do carro ou mandava mensagens perguntando se eu estava bem. Quando ele foi em casa, meu filho pegou papel, caneta, foi até Robson e disse: ‘Vou fazer uma entrevista com você. Você bebe? Fuma?’. Robson explicou que não. Meu filho quis garantir: ‘Então promete que não vai fazer minha mãe sofrer’. Ele tem só 9 anos.

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Eu e Robson começamos a namorar e em dois meses fomos morar juntos. Em cinco, me pediu em casamento. Estávamos em um restaurante quando ele combinou com um garçom de trazer nossas alianças. Por causa de uma poliomielite que teve na infância, ele usa prótese em uma das pernas e não pôde andar na areia da praia na lua de mel, em Porto de Galinhas. Eu me ofereci de apoio para que ele não afundasse o aparelho.

Com a licença do trabalho chegando ao fim, expliquei que minha vida era em São Paulo e que precisava voltar. Ele veio comigo e começamos uma vida nova.

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Muito romântico, espalha bilhetinhos escondidos dizendo quanto me ama e, em lugares com música ao vivo, pedia para que tocassem nossas músicas: Só Você, com o Fábio Jr., e É Isso Aí, do Seu Jorge e Ana Carolina. Para as mulheres que ainda estão em um relacionamento abusivo, peço que saiam dessa vida. Vocês podem, sim, encontrar alguém que as faça felizes.”

*Nome alterado para garantir o anonimato

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Publicado em VEJA São Paulo de 16 de junho de 2021, edição nº 2742

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