Em entrevista, Mateo López fala sobre mostra na Galeria Luisa Strina
Participante da 29ª Bienal de São Paulo e do Panorama de Arte Brasileira, o colombiano conta sobre sua segunda individual no país

O colombiano Mateo López vem conquistando seu espaço no cenário artístico internacional com trabalhos marcados pela relação entre arte e arquitetura. Com obras no acervo de museus como o MoMA, em Nova York, Inhotim, em Brumadinho, Minas Gerais, e Cisneros Fontanals Art Foundation, em Miami, o artista de 38 anos é representado no Brasil pela Galeria Luisa Strina, que apresenta, pela segunda vez, uma exposição do artista.
Palm Line Clock Hand reúne desenhos, esculturas e vídeos em dois espaços da galeria (o espaço principal e o anexo, que acaba de ser reaberto) até o dia 21 de maio. Em entrevista a VEJA SÃO PAULO, López conta sobre sua relação com o Brasil, a amizade com o sul-africano William Kentridge e os conceitos principais da mostra em cartaz:
Qual sua relação, como artista, com a arquitetura?
Estudei arquitetura por dois anos e decidi tentar um semestre nas artes, que se transformou em anos. Agora posso dizer com certeza que sou artista de profissão. Mas continuo me relacionando com a arquitetura, por meio do desenho. Para mim, o desenho é, ao mesmo tempo, um pensamento, uma projeção e uma execução. Muitos dos meus trabalhos falam deste processo, da transformação da ideia. Foi assim que eu descobri que o que me interessa na arquitetura é a passagem do tempo, o antes e o depois e como você pode habitar e transformar a arquitetura.

No espaço principal da Galeria Luisa Strina, você faz claras referências ao Homem Vitruviano, arcobotante, etc – sempre ideias criadas pela arquitetura para alcançar a perfeição. É isso o que você discute ali, a racionalidade da arquitetura versus a irracionalidade das artes plásticas?
Isso mesmo. Mas é importante entender que nas artes plásticas também há racionalidade e a arquitetura, por sua vez, também pode ser irracional. Esta relação de racional-irracional não é exclusiva da arquitetura, mas se estende a outras práticas, já que faz parte do pensamento humano.
O Homem Vitruviano que você menciona me interessa pela sua ligação com os cânones, a proporção, a racionalização. Eram esses os pensamentos preponderantes do Renascimento, quando o homem era o centro de todas as coisas. Quando trago sses conceitos para o meu trabalho, eu proponho a pergunta: qual é o pensamento da nossa época? E Seja qual for ele, esse pensamento não determina apenas representação das imagens, mas se aplica ao status socio-econômico, comportamento social, tendências de consumo, criação de inteligência artificial, tecnologia, etc.

No espaço anexo, você parece adotar um viés diferente da primeira sala, já que os trabalhos se relacionam mais ao corpo e ao orgânico, do que ao racional e matemático. É isso mesmo no que você pensou?
Sim. Ali o corpo está presente em ações e interações com objetos e desenhos, complementando a ideia sobre gesto e movimento. Esta é uma linha que venho trabalhando com afinco: tendo entender como posso estabelecer uma relação com meu trabalho dentro do ateliê e de que maneira aquilo o que produzo vira uma extensão do meu corpo.

Pode contar sobre sua residência artística em São Paulo para a 29ª Bienal, em 2010?
Tenho uma relação de afeto com o Brasil. Em 2009, fiz uma residência em função de um projeto sobre o MuBE, para o Panorama da Arte Brasileira, no MAM. Nesta época morei no centro da cidade. Em outra ocasião, conheci o bairro de Santa Cecília, que acabou se tornando tema da instalação O Palácio de Papel, que apresentei na 29ª Bienal de São Paulo. Mais tarde, morei no Rio Grande do Sul durante outra residência artística em que criei o trabalho Geopoéticas para a Bienal do Mercosul.
Qual a sua relação com o sul-africano William Kentridge? De que maneira ele te inspira ou estimula?
Fomos parte do The Rolex Mentor and Protégé Arts Initiative [programa da marca de luxo Rolex, que escolhe jovens artistas para serem aprendizes de mestres da área] e nos tornamos bons amigos. O desenho foi um canal de comunicação em nós, já que me mostrou outras possibilidade e campos de ação. Foi nessa hora que eu entendi que precisava sair da minha zona de conforto. Ele me estimulou a questionar constantemente a prática de artista e a instensificar meu diálogo com o contexto e o tempo atual, assim como com minhas referências.
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