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12 meninas e mulheres que abrem caminhos para um novo tempo

Reunimos personagens da geração Z, entre atrizes, atletas e ativistas, que inspiram um amanhã melhor

Por Redação VEJA São Paulo Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 8 mar 2024, 20h05 - Publicado em 8 mar 2024, 06h00
Imagem mostr ajovem sentada em cadeira usando blazer, calça branca e acessórios, olhando para o lado direito em fundo de tom marrom
A atriz Ayomi Domenica, de 24 anos (Luciana Barreto/Divulgação)
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Presentes, atentas e fortes, crescendo numa geração de grandes conquistas feministas. Quebrando tabus em todas áreas, lutando por seus direitos, por causas justas, por espaços cada vez maiores em casa, nas ruas, no trabalho e por onde andam.

Trazemos nesta reportagem — com a colaboração de toda a equipe da Vejinha — doze personagens do novo tempo, como a atriz Ayomi Domenica, nascida na Vila das Belezas, na Zona Sul da cidade, se destacando no cinema, a editora Maria Carvalhosa, à frente de projetos inovadores para pessoas com deficiência, a ativista climática Amanda Costa, fundadora do Perifa Sustentável, e a atleta Vanessa Sena, criada no Capão Redondo, que tenta uma vaga para a Olimpíada de Paris.

Em comum, a busca por um horizonte igualitário e mais próspero para as mulheres. Ao ouvir os caminhos de cada uma, com histórias de vida totalmente diversas, percebemos os avanços em várias áreas e motivos a comemorar. Mas a luta é diária e contínua. Que suas vozes reverberem pelos quatro cantos, mais e mais.

“Me permitir ser jovem e errar já é político. Acho justo, comigo e com qualquer outra jovem mulher preta, só viver. Nossa vida já exige muito.” Ayomi Domenica, 24 anos, atriz.

Ascensão libertária

Há pouco menos de um ano, Ayomi Domenica passou o seu aniversário de 24 anos na França. A viagem tinha uma razão especial: o filme levante (2023), dirigido por Lillah Halla e protagonizado pela atriz, foi exibido em mostras paralelas de Cannes e ganhou o prêmio de melhor estreia pela Federação Internacional de Críticos de Cinema. Foi o primeiro papel principal da paulistana. “Um divisor de águas gigantesco na minha vida, me trouxe autoestima e serviu de combustível para continuar sonhando. É muito difícil ser uma atriz negra no Brasil e conquistar confiança e credibilidade”, diz. Nascida e criada na Vila das Belezas, na Zona Sul, onde mora até hoje, a atriz é filha da advogada Eliane Dias com o rapper Mano Brown, e seu amor pela arte se desenvolveu em uma associação comunitária da região. “Não entrei para ser uma atriz mirim, meus pais nunca pensaram em me fazer trabalhar. Eu era uma criança criativa e curiosa, e o teatro me possibilitava errar, acertar, passar vergonha, dar risada”, diz. Em paralelo com os trabalhos na atuação, Domenica também é diretora criativa da marca de roupas Yebo, em parceria com a sua mãe. “É a plataforma em que consigo unir todas as linguagens artísticas que pesquiso, e também aprendo o outro lado da coisa, o business, que para mim é muito difícil”, conta. Os projetos no cinema e na moda não a tiraram dos palcos — em 2023, encenou Mutação de Apoteose, do Teatro Oficina, que volta em abril. Para a artista, é difícil se enxergar parte de uma geração. “Nós vivemos algumas questões gerais, sobretudo de saúde mental. Me identifico nesse sentido, das angústias e ansiedades. Mas não consigo compreender onde eu me encaixo”, reflete. A atriz, que diz ter sido “uma adolescente muito disciplinada”, valoriza cada vez mais a importância da experimentação na juventude. “Só o fato de eu me permitir ser jovem e errar já é político. Acho justo, comigo e com qualquer outra jovem mulher preta como eu, só viver. Porque a nossa vida, por si só, já exige muito.” (Tomás Novaes)

Imagem mostra Maria agachada ao lado de grande cachorro em fundo branco
Maria Carvalhosa, fundadora de editora de audiolivros (Jorge Bispo/Divulgação)

“É quase como se a deficiência distorcesse o gênero. As pessoas no fundo não me tratam como uma mulher, e sim como uma pessoa cega”. Maria Carvalhosa, 22 anos, fundadora da Supersônica, editora de audiolivros

Potências e leituras

Prestes a se formar na faculdade de letras, Maria Carvalhosa, 22, lançou no ano passado um projeto único. Junto com a diretora Daniela Thomas, a escritora Beatriz Bracher e a produtora Mariana Beltrão, a jovem paulistana criou a editora Supersônica, especializada em audiolivros. “Quando fiquei cega, me falaram: esse é o caminho para ler de forma independente. No primeiro momento, não me adequei. A produção (brasileira) ainda não é atraente. Daí veio a ideia de uma editora com muito charme, com atrizes e atores incríveis que dariam outra camada aos livros”, conta. Em sete meses, já são dez títulos publicados, com vozes de nomes como Isabel Teixeira, Caio Blat e Guilherme Weber. “O audiolivro é um objeto artístico, para uma leitura com prazer. Não é só sobre fazer um objeto acessível, mas levar em conta todas as suas potencialidades estéticas”, explica a curadora e editora. Filha do artista plástico Carlito Carvalhosa (1961-2021) e da produtora cultural e fotógrafa Mari Stockler, ela perdeu a visão aos 13 anos, por um erro médico, após um diagnóstico de hidrocefalia. “Todos os dias eu saio de casa e as pessoas levam um susto ao me ver nos lugares. É como se eu estivesse indo contra a corrente”, diz. Para ela, a sua feminilidade é atravessada pela condição física. “É quase como se a deficiência distorcesse o gênero. As pessoas no fundo não me tratam como uma mulher, e sim como uma pessoa cega”, afirma Maria, que faz questão de apontar diálogos importantes que estão sendo levantados sobre o tema. “Tem coisas incríveis acontecendo, como os estudos de cripstemologia — a teoria da deficiência feita a partir da teoria queer. São formas de mostrar que a deficiência também tem potências enormes”, diz. (T.N)

Imagem mostra Amanda em pé em rua de bairro da periferia, olhando para o canto esquerdo da foto. Ela usa camiseta branca e calça jeans e uma faixa no cabelo encaracolado
A ativista Amanda Costa (Johnny Miller/Divulgação)

“Eram homens brancos e ricos, do norte global, que falavam no modo como a crise climática afeta as pessoas marginalizadas sem nunca terem vivido essa realidade”. Amanda Costa, 27 anos, ativista climática.

Representatividade na ONU

A participação na COP23, edição da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas que aconteceu em 2017 em Bonn, na Alemanha, mudou a vida de Amanda Costa, 27. Na época, a jovem, nascida e criada na Brasilândia, na Zona Norte da capital, cursava rela- ções internacionais e, nas horas vagas, jogava futebol na Associação Cristã de Moços, entidade que organizou a viagem de um grupo de membros ao evento da ONU. “Foi muito chocante perceber que eu, uma mulher preta da periferia, não estava representada entre os to- madores de decisão. Eram homens brancos e ricos, do norte global, que falavam no modo como a crise climática afeta as pessoas marginalizadas sem nunca terem vivido essa realidade”, lembra. Depois de integrar alguns grupos e projetos internacionais de ativismo ambiental, ela fundou, em 2022, o Perifa Sustentável, instituto sem fins lucrativos que pretende democratizar a discussão climática nas periferias brasileiras, em especial na Brasilândia. Além de produzir conteúdo informativo nas redes sociais e dialogar com o poder público, a ONG desenvolve ações diretas no território. No ano passado, o projeto Clima de Quebrada ofereceu um curso de racismo ambiental para 193 alunos e 33 professores de uma escola pública da região, a EMEF Teotônio Vilela. “Durante uma aula, um menino de 13 anos me chamou e disse que agora entendia que, quando a casa dele alagava, não era culpa da chuva, mas sim da falta de políticas públicas nas periferias. O que fazemos é plantar sementinhas”, diz a ativista. Pelo trabalho, Amanda se tornou jovem embaixadora da ONU e, em 2020, entrou na lista Under 30, da Forbes, iniciativa que reconhece as personalidades com menos de 30 anos mais importantes do Brasil. (Júlia Rodrigues)

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Raio X da geração Z Quem são e o que pensam os jovens que estão construindo o futuro 30 milhões de pessoas, nascidas entre 1997 e 2010, no Brasil, estão entrando no mercado de trabalho 25% dos jovens da geração Z dizem sentir estresse emocional Trabalhar das 8h às 20h em ambiente presencial é algo impensável. Eles entendem que podem trabalhar de qualquer lugar São avessos a hierarquias Menos de 50% se dizem 100% heterossexuais. Têm relações mais fluidas São extremamente preocupados com as questões climáticas
Dados sobre a geração Z (Veja SP/Veja SP)
Imagem mostra Stephanie em piscina, sorrindo para foto embaixo da água
Stephanie Balduccini, nadadora (Alexandre Battibugli/Veja SP)

“Ser uma mulher esportista é uma motivação para as meninas mais novas acreditarem no seu potencial, que muita coisa pode dar certo”. Stephanie Balduccini, 19 anos, nadadora.

Motivação e esperança

O maior sonho de Stephanie Balduccini? “Ser uma medalhista olímpica.” Aos 19 anos, a nadadora paulistana é uma das promessas brasileiras do esporte e tenta a classificação para os seus segundos Jogos Olímpicos — em 2021, estreou em Tóquio como uma das atletas mais jovens a disputar a modalidade pelo Brasil. Nascida e criada em Santo Amaro, na Zona Sul paulistana, Stephanie se mudou em agosto para Michigan, nos Estados Unidos, onde treina e estuda administração. “A adaptação foi a coisa mais difícil que já fiz na vida. Foram uns dois meses chorando quase todo dia de saudades da minha família, dos meus pais”, conta. Quando questionada sobre suas maiores referências femininas, sua mãe é a resposta imediata. “Toda competição que você consegue imaginar, não importa em que lugar do mundo, ela está lá. Passei a valorizar muito mais a minha mãe depois que me mudei. Ela parou de trabalhar para cuidar de mim e do meu irmão. Fico muito feliz que a gente tenha uma relação boa”, diz a atleta, que tem planos de continuar a viver no exterior e emendar uma formação em marketing. “Aqui você treina, estuda, vive com essas meninas e acaba criando uma amizade. Temos uma competição saudável entre nós”, diz. Para Stephanie, o esporte ensina o poder de confiar em si mesma. “Ser uma mulher esportista é uma motivação para as meninas mais novas acre- ditarem no seu potencial, que muita coisa pode dar certo”, afirma. (T.N)

Imagem mostra Siwaju em pé em gramado, com grande obra de arte em formato circular ao fundo
A artista Siwaju Lima (Rayra Paiva/Cortesia da Galeria Karla Osorio/Divulgação)

“A escultura em arte é uma prática masculina, em um ambiente masculino”. Siwaju Lima, 27 anos, artista plástica

Vestígios do tempo

O passado e o futuro encontram-se no trabalho da paulistana Siwaju Lima, 27. Sua produção é focada em esculturas de ferro, nas quais ela realiza processos intencionais de oxidação. Essa mudança no aspecto do metal, que se transforma constantemente em contato com o ar, oferece uma reflexão sobre a passagem do tempo. “Elaboro uma nova significância para o ferro. Tiro as camadas de pintura e ferrugem, quase como uma pele, para depois formar seu corpo final”, conta a artista. “Daqui a vinte ou trinta anos, a obra ainda vai estar se construindo”, comenta Siwaju, que também levanta em sua arte questões sobre a extração do metal e sua reutilização a favor do meio ambiente. Considerada uma das dez apostas da SP-Arte para 2024, a mais jovem da lista, e convidada a expor na galeria Almeida & Dale, Siwaju ainda planeja para este ano um curta acompanhando seu processo de criação. Filha de uma artesã de joalheria, nascida na capital, ela se mudou em 2020 para o Rio de Janeiro, onde cursa o último ano de artes visuais na Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e frequenta os ateliês de escultura da EAV Parque Lage e da Escola Livre de Artes do Galpão Bela Maré. “Meu trabalho me aproxima da realização manual, coisa que aprendi em casa. Nunca me senti tão próxima da minha mãe quanto hoje. (Mattheus Goto)”

Imagem mostra Nicole em centro de treinamento, em cadeira de rodas, sorrindo para foto, com o braço esquerdo apoiando a cabeça
Nicole Santos, 19 anos e atleta (Wanezza Soares/Divulgação)

“O afeto não existe para as mulheres cadeirantes. Infelizmente não nos enxergam como namoradas e esposas, o que dificulta ainda mais nossa inclusão na sociedade”. Nicole Santos, 19 anos, atleta paralímpica.

Rumo a mais um pódio

De segunda a sábado, Nicole Santos, 19, sai de Itapecerica da Serra, na região metropolitana da capital, onde mora, e pega três ônibus e duas linhas de metrô para chegar ao Comitê Paralímpico Brasileiro. O complexo no Jabaquara é onde ela treina tênis de mesa, modalidade pela qual ganhou uma medalha de ouro e uma de bronze na última edição dos Jogos Parapan-Americanos de Jovens, que aconteceram em junho de 2023 em Bogotá, na Colômbia. “Foi minha primeira competição internacional. Chegamos ao aeroporto e as pessoas pararam para nos desejar boa sorte. Foi ótimo representar o Brasil”, diz ela. A jovem nasceu com osteogênese imperfeita, síndrome genética rara conhecida como “doença dos ossos de vidro”, e, por isso, ela se locomove de cadeira de rodas. “Vivi praticamente toda a minha infância no hospital”, conta. A paixão pelo esporte surgiu por acaso. “Em 2019, o médico me recomendou fazer natação. Como não tinha vaga onde eu me tratava, fui para o tênis de mesa.” Com dez medalhas e prestes a participar do terceiro campeonato nacional do ano, em maio, no Rio de Janeiro, ela sonha com um futuro mais inclusivo e acessível. “Eu vivo a minha vida. Estudo, vou a festas, saio com meus amigos. E as pessoas ainda questionam se sou capaz de fazer essas coisas”, lamenta. (J.R.)

Imagem mostra jovem sentada ao lado de robô que tem tela com rosto. Ela segura aparelho e sorri para a foto
A aluna da FEI, Flora Aidar (Wanezza Soares/Divulgação)

“Quanto mais o tempo passa, mais rápido as coisas evoluem, e com a robótica não é diferente. Ela está aí para ajudar o nosso dia a dia e tornar a vida mais fácil. Não faz sentido ter medo disso”. Flora Aidar, 22 anos, estudante de robótica

Robôs a nosso favor

Nascida e criada em Pinheiros, na Zona Oeste, Flora Aidar sempre gostou das exatas. Aos 18 anos, decidiu cursar engenharia mecânica na Faculdade de Engenharia Industrial (FEI), em São Bernardo do Campo. Os caminhos, no entanto, a levaram para outra área: a robótica. Em 2020, ainda caloura, a estudante conheceu o RoboFEI, projeto de extensão de desenvolvimento de robôs, e ingressou por uma “coincidência”: era o único de seu interesse com vagas abertas. A afinidade foi tanta que ela mudou de curso. Aos 22 anos, no último ano de engenharia de robôs, a estudante, que como capitã do seu time foi campeã do mundial de robótica RoboCup 2022, será uma das duas únicas mulheres a se formarem em sua turma. A maior parte da graduação foi dedicada ao RoboFEI. “Vejo muita teoria em sala. No projeto eu coloco a mão na massa. Muito do que desenvolvemos está em sincronia com o mercado”, conta a quase engenheira, que trabalha com robôs que simulam atividades domésticas. Ferrenha defensora de seu objeto de pesquisa, ela esclarece: “Quanto mais o tempo passa, mais rápido as coisas evoluem, e com a robótica não é diferente. Ela está aí para ajudar o nosso dia a dia e tornar a vida mais fácil. Não faz sentido ter medo disso.” (Ana Mércia Brandão)

Imagem mostra Luana sentada em cadeira de piscina com pernas cruzadas, olhando para a foto sorrindo
Luana Escamilla, fundadora do Fluxo Sem Tabu (Wanezza Soares/Divulgação)

“Aos poucos percebi que minha idade também era uma força”. Luana Escamilla, 20 anos, estudante e ativista social

Derrubando tabus

Aos 16 anos, quando estava no 2° ano do ensino médio, Luana Escamilla criou o Fluxo Sem Tabu, organização que combate a pobreza menstrual no Brasil por meio da conscientização e da distribuição gratuita de absorventes. A ideia surgiu durante a pandemia, enquanto assistia ao documentário Absorvendo o Tabu, que aborda a problemática em um vilarejo indiano. “É clichê, mas esse filme mudou minha vida”, conta. Inicialmente, o projeto atendeu 700 pessoas na capital paulista. Quatro anos depois, são mais de 23 000 pessoas impactadas diretamente, além de um TikTok Awards na categoria TikTok for Good — a ONG tem mais de 250 000 seguidores na plataforma. Luana conta que tinha medo de revelar sua idade em reuniões, especialmente com homens. “Quando me perguntavam, eu tentava contornar até ter aprovado meu ponto. Aos poucos percebi que minha idade também era uma força”, lembra a paulistana de 20 anos, que criou o primeiro jogo de cartas sobre menstruação e projetou dados sobre pobreza menstrual em prédios do país para chamar atenção para a causa. Neste mês, o Fluxo Sem Tabu lançará com a Faap um curso de capacitação de moda e costura para vinte mulheres de comunidades de São Paulo. (Laura Pereira Lima)

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Imagem mostra jovem sentada em cima de mesa com uma caixa de plástico transparente cheia de água e com um dispositivo no interior da caixa
A inventora Mariana Lira (Wanezza Soares/Veja SP)

“Busco inspirar outras mulheres a seguirem seus próprios sonhos e acreditarem no seu potencial”. Mariana Lira, 16 anos, inventora.

Gênio indomável

Com apenas 16 anos, a estudante Mariana Lira já possui uma lista de projetos científicos promissores. A garota, que cursa o 3o ano do ensino médio no Colégio Dante Alighieri, nos Jardins, desbancou mais de 50 000 candidatos do mundo todo e ficou entre os dez melhores participantes da ClimateScience Olympiad 2023, premiação britânica que estimula estudantes a criarem soluções para problemas climáticos do planeta. Ela alcançou a medalha de ouro com o AmazONE, iniciativa para a erradicação do desmatamento ilegal da Amazônia até 2030, desenvolvida em parceria com a colega Maria Minatel. Algumas das ações previstas para chegar ao resultado são a fiscalização de crimes ambientais e o turismo ecológico. “Recebemos um incentivo de 500 dólares para financiar o projeto. Assim que tivermos acesso ao dinheiro, vamos atrás de parcerias para colocá-lo em prática”, diz Mariana. Apesar de o reconhecimento internacional ter chegado só agora, o AmazONE é a quinta invenção da jovem, que desde os 11 anos elabora ideias criativas para resolver questões sociais e ambientais. Um que acabam de sair do papel é um drone submarino capaz de identificar derramamento de petróleo em áreas profundas do mar. Mariana usou um pote de plástico para fazer a estrutura e colocou bolinhas de gude para ele afundar mais fácil. “Percebi que há uma diferença de condutibilidade elétrica entre a água normal e a água contaminada com petróleo, então o drone é capaz de mapear as manchas com um sensor, que é a única parte que falta adicionar”, explica. (J.R.)

Imagem mostra Carol sorrindo em fundo branco
A atriz de 18 anos Carol Roberto (Agência Five/Divulgação)

“Se sou uma das únicas, tenho que ser um caminho”. Carol Roberto, 18 anos, atriz

Voz múltipla

Paulistana da Zona Norte, Carol Roberto, 18, é uma multiartista, no cerne da palavra. Atua, canta, interpreta, dança e dubla, e neste ano começa a conciliar a agenda de ensaios e gravações com o curso de publicidade. “Eu tenho muitos sonhos”, resume. Em 2023, trabalhou no filme Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo, o primeiro de uma quadrilogia, em que interpreta Milena, a primeira mulher negra da história em quadrinhos. “É um grito de resistência. Uma me- nina negra, empoderada, cientista, estudiosa. Ela veio para ficar”, diz a atriz. Criada em uma família de músicos evangélicos, Carol começou a fazer balé aos 5 anos, depois entrou no teatro da escola e descobriu o canto com louvores da igreja. Para unir todas essas artes, só uma saída: o teatro musical. Entrou para o TeenBroadway, participou de espetáculos como Marrom, o Musical, em que encarnou a jovem Alcione, foi semifinalista do The Voice Kids em 2019 e dublou produções como O Rei Leão (2019). Para a atriz, o destaque também traz uma responsabilidade grande. “Sendo uma menina negra com visibilidade, eu sou voz para outras pessoas. O meu papel nesses lugares é fazer a diferença. Se sou uma das únicas, tenho que ser um caminho”, diz. Sobre a sua geração, Carol nota uma pressa para amadurecer. “Temos a internet, celulares, consumimos muitas coisas, e vejo meninas querendo pular etapas e deixar de ser criança ou adolescente. A gente tem tempo de viver tudo. Precisamos refletir mais sobre isso”, diz. (T.N.)

Imagem mostra Vanessa durante prova de atletismo, correndo
A atleta Vanessa Sena (Wagner Carmo/ CBAT/ Divulgação/Divulgação)

“Quero criar impacto positivo na vida das pessoas ao meu redor”. Vanessa Sena, 18 anos, atleta

Salto para o futuro

“Eu era teimosa e no começo não gostava de treinar. Mas, quando comecei a me sair bem em competições… Quem não gosta de ganhar?” Vanessa Sena é uma das promessas paulistanas para o atletismo. A jovem, que cresceu no Capão Redondo, na Zona Sul, enxerga no esporte uma ferramenta de transformação. “Quero fazer a diferença neste universo, por meio de trabalho voluntário ou de iniciativas empreendedoras”, diz ela, que tenta uma vaga para a Olimpíada de Paris. Aos 12 anos ela chamou a atenção de uma professora de educação física da Escola Municipal José Olympio, que em uma das aulas levou equipamentos para os estudantes tentarem o salto em altura. Saltou sem dificuldades e, duas semanas depois, venceu um torneio escolar no centro olímpico da prefeitura. A partir daí, foi chamada para treinar no espaço, onde passa a maior parte do tempo. “No começo, faltava bastante nos treinos”, lembra ela. As coisas mudaram quando levou a melhor em um torneio sub-14 em Pindamonhangaba, em 2018. “Depois disso, passei a fazer tudo pelo esporte”, conta. Desde então, viajou para cinco países da América do Sul, além de França e Alemanha, representando o país em competições internacionais. Levou medalhas de prata e bronze em torneios sul-americanos e em 2022 quebrou o recorde nacional no salto em distância para o sub-18. Admiradora da ex-primeira dama americana Michelle Obama, Vanessa se preocupa com a desigualdade de gênero e classe. “Ainda existem muitos estereótipos e preconceitos que limitam as oportunidades das pessoas, e isso precisa ser combatido.” (Guilherme Queiroz)

Imagem mostra Bia sorrindo, com roupa de chef de cozinha, segurando um grande recipiente de alumínio na lateral do corpo. Ela está em uma cozinha
A estudante Bia Azevedo (Wanezza Soares/Veja SP)

“Quando comecei na cozinha, num lugar que era majoritariamente de homens, não sabiam lidar coma minha presença”. Bia Azevedo, 20 anos, estudante de gastronomia

Fome de vencer

A gastronomia é mais que uma paixão para Bia Azevedo, 20. “Cozinhar, na minha religião, é um ato sagrado”, diz a estudante candomblecista. No penúltimo semestre do curso de gastronomia do Senac São Paulo, a paulistana da Zona Leste sabe que tem ainda muito terreno para carpir até chegar ao seu objetivo, que é abrir uma confeitaria. “Os resultados não são imediatos, demandam espera e dedicação.” Bia aprendeu a gostar do fogão ainda criança, com a avó, mas transformar esse passatempo em razão de vida demorou. Depois de concluir o ensino médio, entrou em um curso técnico na Etec Carlos de Campos, no Brás, e confirmou a vocação. Trabalhou em um restaurante e, logo depois, conseguiu entrar para a faculdade. Ao chegar à sala de aula, levou um choque: boa parte dos colegas não queria atuar na área e fazia o curso por hobby. Não é o caso de Bia, que sai todo dia de São Mateus pouco depois das 5h e só retorna ao redor das 22h, ao término do estágio em um hotel próximo à Paulista. “Para ir à faculdade, pego dois ônibus e três metrôs”, conta. Além da futura confeitaria, Bia sonha com o fim da intolerância no mundo, entre elas a religiosa, e que as mulheres possam exercer os seus direitos. “Quando comecei na cozinha, num lugar que era majoritariamente de homens, não sabiam lidar com a minha presença. Com o tempo, você ganha empoderamento”, acredita. (Saulo Yassuda)

Imagem mostra ilustração com um árvore colorida ao meio e várias mulheres no entorno, segurando pequenas lamparinas
Capa da edição 2883 de VEJA São Paulo (Anna Cunha/Veja SP)

Publicado em VEJA São Paulo de 8 de março de 2024, edição nº 2883

 

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