Dalton Trevisan completa 99 anos e lança novas edições de seus livros
Obras como 'Cemitério de elefantes' e 'Macho não ganha flor' voltam às livrarias repaginadas
Um dos gigantes da literatura brasileira, Dalton Trevisan celebra 99 anos no dia 14 de junho. E a comemoração vem acompanhada de novas edições de três de suas obras, que serão lançadas ainda em junho pela Editora Record. Haverá também um evento especial na Universidade de São Paulo (USP), na quarta-feira (12), com escritores fazendo leituras de textos do curitibano.
Cemitério de elefantes (1964), Contos eróticos (1984) e Macho não ganha flor (2006) chegam às prateleiras físicas e digitais com um novo tratamento gráfico e a participação de convidados ilustres. A atriz e escritora Fernanda Torres é quem assina a orelha de Contos eróticos. “Obscenos seria o termo mais exato para esta seleção de pérolas”, define em seu texto.
Já o escritor paulista Marçal Aquino ficou responsável pela quarta capa (a parte de trás do livro) de Cemitério de elefantes, obra que conduziu Dalton ao rol dos nomes mais importantes da literatura. “‘Cemitério de elefantes’ é a pedra fundamental do monumento literário que Dalton Trevisan construiu nos últimos sessenta anos”, crava Marçal.
O aniversariante carrega a alcunha de O Vampiro de Curitiba, título de um dos seus contos mais famosos, de 1965. A fama de recluso ganha manchetes de reportagens e colunas sociais locais até hoje. Algumas são até cômicas: “Vencedor do Prêmio Camões, Dalton Trevisan mantém tradição e não aparece”.
“Dalton é uma espécie de João Gilberto da literatura” – Rodrigo Lacerda, editor-executivo da Editora Record
“Eu brinco que o Dalton é uma espécie de João Gilberto da literatura”, fala Rodrigo Lacerda, escritor e editor-executivo de ficção nacional da Editora Record. “Não só ele é minimalista, mas, assim como João Gilberto, é obcecado pela perfeição. Ele reescreve os textos mil vezes até achar que chegou no ponto ideal.” Não à toa, foi quatro vezes vencedor do Prêmio Jabuti, o mais importante da literatura brasileira.
No ano passado, a Record lançou Antologia pessoal, oitenta contos selecionados e organizados pelo próprio escritor. “É incrível poder homenagear o Dalton ainda em vida, aos 99 anos. Um cara ativo, produtivo, que continua mexendo na própria obra e acompanhando tudo de perto. É muito bom quando esse tipo de homenagem é feita com o escritor ainda vivo, para ele saber da importância que tem”, pontua Lacerda.
Mas Dalton segue honrando sua fama de sujeito discreto e recluso. Não existem ligações, chamadas de vídeo ou troca de e-mails com a equipe da Editora Record. Todo o contato é feito por intermédio de sua assistente e editora, Fabiana Faversani. Ele prefere outro meio de comunicação. “De vez em quando a gente recebe umas cartinhas falando alguma coisa, comentando alguma etapa do trabalho. Cartinhas sempre muito espirituosas, muito bem escritas”, diverte-se o editor.
Para Lacerda, Dalton vem construindo um universo próprio desde os anos 1950. “Ele é uma espécie de minimalista da literatura. Um escritor que não tem uma palavra sobrando, uma gordurinha no texto. É tudo absolutamente enxuto, quase decupado.”
No dia 12, às 18h30, o Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) e a Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin promovem o evento “Dalton Trevisan: uma literatura nada exemplar – Homenagem aos 99 anos do escritor” no Auditório István Jancsó, localizado dentro da Cidade Universitária, no Butantã.
Ana Lima Cecilio, curadora da 22ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que acontece em outubro deste ano, é a responsável pela mediação do encontro, que conta com a participação dos escritores Alcides Villaça, Amara Moira, Andréa del Fuego, Reinaldo Moraes e Rodrigo Lacerda, da Editora Record, além da editora de Dalton Trevisan, Fabiana Faversani.