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Professor da FGV indica série polêmica na Netflix

Matias Spektor faz um artigo sobre seriado que mostra conflitos entre palestinos e israelenses

Por Miguel Barbieri Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 6 set 2018, 10h31 - Publicado em 31 ago 2018, 10h00
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  • Por Matias Spektor, coordenador da Escola de Relações Internacionais da FGV.

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    Quando os executivos da Netflix puseram no ar uma série falada em hebraico e árabe, não imaginavam o terremoto que estaria por vir. Fauda conta a história de Doron Kavillio (Lior Raz), um agente aposentado de uma unidade secreta das forças de segurança de Israel, dedicada a desmantelar grupos terroristas palestinos.

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    Tentando reconstruir a vida com a família, Doron volta à ativa para uma última missão: assassinar um líder do Hamas. A partir daí, a série entra num ritmo alucinado que vicia. Fauda não se limita a entreter o espectador com violência, romance e uma fotografia primorosa da Palestina e do deserto de Israel. Vai além ao apresentar a ocupação israelense dos territórios palestinos como ninguém nunca havia feito na televisão.

    O telespectador entenderá o motivo de o governo democrático de Israel estar tão carcomido pela corrupção moral quanto a ditadura da Autoridade Palestina. Aprenderá que torturas e assassinatos são o pão de cada dia nos dois lados da fronteira e que o conflito não tem solução. Mais importante: quem assiste a Fauda se dá conta que, em que pesem as diferenças, as duas comunidades são fundamentalmente parecidas. O sofrimento da viúva palestina é idêntico ao da mãe israelense que perde um filho num tiroteio. O namoro de um casal em Ramallah, tem a mesma intensidade de um romance do outro lado do muro, num assentamento israelense. Pessoas comuns de ambas as partes sentem apego visceral à terra, se radicalizam quando misturam religião e política, e fazem tudo o que podem para honrar seus mortos.

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    Os idealizadores do seriado (Lior Raz e Avi Issacharoff) são veteranos de combate. A história que contam, de modo romanceado, é uma tragédia que viveram na própria pele. Fauda, em arábe, quer dizer caos e é o código usado pelas forças israelenses quando uma operação secreta fracassa e precisa de um regate imediato.

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    O seriado recebeu uma enxurrada de críticas. Para uns, humaniza terroristas palestinos. Para outros, esconde o verdadeiro horror da ocupação. E há quem a critique por pender mais para o lado israelense. São balelas! Fauda traz algo novo para quem nunca viu palestinos retratados como pessoais normais (sem ser terroristas nem sofredores desamparados) em um grande seriado. E é um ato corajoso, no atual momento político de Israel, quando a mera menção a uma “ocupação” basta para atiçar a patrulha ideológica que faz de tudo para inviabilizar o sonho sionista — a existência de um estado ao mesmo tempo judeu e democrático, que se recusa a descambar para uma sociedade de apartheid que segrega judeus e árabes. Sem neutralidade, a série foi concebida por indivíduos cuja experiência do conflito é a da perspectiva de Israel. Sua virtude é ser cínica em relação à mitologia nacional.

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    Agora, não seria nada mal que a Netflix conversasse com cineastas palestinos para que eles possam contar a história pelos olhos de quem vive em Jericó ou Ramallah.

    > Fauda está disponível na Netflix.

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