Um oásis da música: centro de ensino Clam completa 50 anos
Fundado pelo Zimbo Trio, o Clam (Centro Livre de Aprendizagem Musical) celebra cinquenta anos de existência com semana especial e bolsas de estudos
Há cinquenta anos, uma escola de música era inaugurada na Rua Araguari, em Moema. Em 2023, após passar por três unidades diferentes, segue em atividade no mesmo bairro. A efeméride, rara para um espaço de ensinamento musical na capital paulista, sinaliza que não se trata de um lugar qualquer: a relevância do Clam (Centro Livre de Aprendizagem Musical) está, primeiramente, na importância dos seus fundadores.
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“Nós éramos muito solicitados por pessoas que gostavam daquele caminho musical que tínhamos desenvolvido e queriam estudar com a gente. Piano comigo, bateria com o Rubinho (1932-2020) e contrabaixo com o Luiz Chaves (1931-2007)”, conta Amilton Godoy, 81, diretor do centro e o único integrante original do Zimbo Trio vivo atualmente.
Fundado em 1964, o conjunto foi pioneiro na música instrumental brasileira e ficou conhecido a partir do ano seguinte, quando passou a ser a banda fixa do programa O Fino da Bossa, apresentado por Elis Regina (1945- 1982) e Jair Rodrigues (1939-2014).
“Nós tocávamos na noite. E o Zimbo foi o primeiro grupo instrumental no Brasil com uma proposta de levar a música para o palco, e não ficar tocando só em bailes. A gente achava que a música instrumental brasileira poderia ter um futuro mais reconhecido”, explica Amilton.
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A concepção do Clam passava pela ideia de aquele ser um lugar na cidade onde os alunos aprenderiam o que não era ensinado nos cursos formais, por meio de um método original, criado pelo Zimbo Trio.
“Não existia uma alternativa aos conservatórios. Quem queria improvisar, fazer um arranjo, aprender harmonia, não tinha uma escola que ensinasse isso. O Clam foi um oásis naquele deserto de gente querendo estudar uma nova forma de usar o instrumento. Foi um sucesso, uma procura muito maior do que poderíamos imaginar”, conta Amilton.
Dessa história, que abrange cinco décadas e mais de 40 000 estudantes, fazem parte alguns dos principais músicos brasileiros das últimas gerações. Desde a pianista Eliane Elias e o baixista Nico Assumpção (1954- 2001), passando por Chico César e Ulisses Rocha, até chegar a nomes como Dani Gurgel, Anna Tréa e Tó Brandileone, produtor e integrante do coletivo paulistano 5 a Seco.
“Essa escola é um patrimônio cultural brasileiro incontornável. É muito importante para a vida de muita gente. E é importante para a minha vida tanto quanto para o Ulisses Rocha, que é o meu maior mestre do violão. A importância do Clam atravessa gerações, mesmo”, diz Brandileone.
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A cantora Alaíde Costa, que teve uma passagem curta pelo instituto nos anos 90, reforça sua relevância. “O Clam é sensacional. Tem um método não convencional, foi muito importante estudar lá. Eu sempre gostei de tocar piano e compor, e ali você tem a chance de aprender harmonia. A minha passagem foi rápida, mas muito especial”, comenta.
Para celebrar os cinquenta anos, além de uma série de homenagens de ex-alunos que estão sendo compartilhadas nas redes sociais, haverá uma Semana da Música Especial entre os dias 11 e 24 de março, com diversas aulas e oficinas com músicos como Vanessa Moreno, André Mehmari, Arismar do Espírito Santo, o próprio Amilton e também sua filha, a produtora Dani Godoy, que é coordenadora-geral da escola.
No dia 2 de março, aniversário do pianista, também será lançado um minidocumentário em sua homenagem, por meio do projeto #CulturaEmCasa, do governo estadual. A cereja do bolo da comemoração são as 100 bolsas de estudos que estão sendo oferecidas para o festival de cursos.
“Em 1958, eu ganhei uma bolsa de estudos no Concurso Nacional de Piano. Eu mudei de Bauru para São Paulo por isso. Foi determinante. E uma coisa que sempre gostei de fazer é arrumar bolsas de estudos para pessoas de talento que não tenham condições de pagar. Assim o Clam continua sendo um incentivador, um multiplicador”, diz Amilton.
Publicado em VEJA São Paulo de 22 de fevereiro de 2023, edição nº 2829
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