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Um oásis da música: centro de ensino Clam completa 50 anos

Fundado pelo Zimbo Trio, o Clam (Centro Livre de Aprendizagem Musical) celebra cinquenta anos de existência com semana especial e bolsas de estudos

Por Tomás Novaes
Atualizado em 28 Maio 2024, 09h05 - Publicado em 17 fev 2023, 06h00
Dani Godoy, no Clam: coordenadora-geral e filha de Amilton. (Leo Martins/Veja SP)
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Há cinquenta anos, uma escola de música era inaugurada na Rua Araguari, em Moema. Em 2023, após passar por três unidades diferentes, segue em atividade no mesmo bairro. A efeméride, rara para um espaço de ensinamento musical na capital paulista, sinaliza que não se trata de um lugar qualquer: a relevância do Clam (Centro Livre de Aprendizagem Musical) está, primeiramente, na importância dos seus fundadores.

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“Nós éramos muito solicitados por pessoas que gostavam daquele caminho musical que tínhamos desenvolvido e queriam estudar com a gente. Piano comigo, bateria com o Rubinho (1932-2020) e contrabaixo com o Luiz Chaves (1931-2007)”, conta Amilton Godoy, 81, diretor do centro e o único integrante original do Zimbo Trio vivo atualmente.

Imagem mostra quatro homens de camisa social sorrindo, ao lado de placa de escola
Os fundadores da escola: o Zimbo Trio e o baterista João Ariza, o Chumbinho, à direita. (Arquivo pessoal/Divulgação)

Fundado em 1964, o conjunto foi pioneiro na música instrumental brasileira e ficou conhecido a partir do ano seguinte, quando passou a ser a banda fixa do programa O Fino da Bossa, apresentado por Elis Regina (1945- 1982) e Jair Rodrigues (1939-2014).

“Nós tocávamos na noite. E o Zimbo foi o primeiro grupo instrumental no Brasil com uma proposta de levar a música para o palco, e não ficar tocando só em bailes. A gente achava que a música instrumental brasileira poderia ter um futuro mais reconhecido”, explica Amilton.

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A concepção do Clam passava pela ideia de aquele ser um lugar na cidade onde os alunos aprenderiam o que não era ensinado nos cursos formais, por meio de um método original, criado pelo Zimbo Trio.

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“Não existia uma alternativa aos conservatórios. Quem queria improvisar, fazer um arranjo, aprender harmonia, não tinha uma escola que ensinasse isso. O Clam foi um oásis naquele deserto de gente querendo estudar uma nova forma de usar o instrumento. Foi um sucesso, uma procura muito maior do que poderíamos imaginar”, conta Amilton.

Imagem mostra mulher loira sentada ao lado de homem careca, em sofá
A pianista Eliane Elias com Amilton: aluna consagrada. (Arquivo pessoal/Divulgação)

Dessa história, que abrange cinco décadas e mais de 40 000 estudantes, fazem parte alguns dos principais músicos brasileiros das últimas gerações. Desde a pianista Eliane Elias e o baixista Nico Assumpção (1954- 2001), passando por Chico César e Ulisses Rocha, até chegar a nomes como Dani Gurgel, Anna Tréa e Tó Brandileone, produtor e integrante do coletivo paulistano 5 a Seco.

“Essa escola é um patrimônio cultural brasileiro incontornável. É muito importante para a vida de muita gente. E é importante para a minha vida tanto quanto para o Ulisses Rocha, que é o meu maior mestre do violão. A importância do Clam atravessa gerações, mesmo”, diz Brandileone.

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A cantora Alaíde Costa, que teve uma passagem curta pelo instituto nos anos 90, reforça sua relevância. “O Clam é sensacional. Tem um método não convencional, foi muito importante estudar lá. Eu sempre gostei de tocar piano e compor, e ali você tem a chance de aprender harmonia. A minha passagem foi rápida, mas muito especial”, comenta.

Para celebrar os cinquenta anos, além de uma série de homenagens de ex-alunos que estão sendo compartilhadas nas redes sociais, haverá uma Semana da Música Especial entre os dias 11 e 24 de março, com diversas aulas e oficinas com músicos como Vanessa Moreno, André Mehmari, Arismar do Espírito Santo, o próprio Amilton e também sua filha, a produtora Dani Godoy, que é coordenadora-geral da escola.

No dia 2 de março, aniversário do pianista, também será lançado um minidocumentário em sua homenagem, por meio do projeto #CulturaEmCasa, do governo estadual. A cereja do bolo da comemoração são as 100 bolsas de estudos que estão sendo oferecidas para o festival de cursos.

“Em 1958, eu ganhei uma bolsa de estudos no Concurso Nacional de Piano. Eu mudei de Bauru para São Paulo por isso. Foi determinante. E uma coisa que sempre gostei de fazer é arrumar bolsas de estudos para pessoas de talento que não tenham condições de pagar. Assim o Clam continua sendo um incentivador, um multiplicador”, diz Amilton.

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Publicado em VEJA São Paulo de 22 de fevereiro de 2023, edição nº 2829

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