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Projeto que digitaliza filmes nacionais ganha destaque na Europa

Com sede na Vila Mariana, iniciativa da ONG Cinelimite restaura produções caseiras e de cineastas independentes das décadas de 70 e 80

Por Tomás Novaes
1 mar 2024, 06h00
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A estação portátil: iniciativa viajou pelo Brasil  (Wanezza Soares/Veja SP)
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Centenas de rolos de filmes independentes, caseiros e experimentais estão ganhando vida nova graças à Iniciativa de Digitalização de Filmes Brasileiros (IDFB), um projeto da ONG Cinelimite, baseada na Vila Mariana.

Fundada em 2020 por William Plotnick, Gustavo Menezes e Eric Barroso, a organização tem a proposta de exibir, em uma plataforma on-line, joias escondidas do cinema nacional com legendas em diferentes línguas.

A partir de 2022, o projeto expandiu a atuação e passou a oferecer serviços de digitalização e restauração de produções feitas em formatos como 35 mm, 16 mm, 8 mm e até super-8 — a maior parte dos filmes estava neste último suporte, tem duração de até quarenta minutos e data das décadas de 70 e 80.

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Rolo de super-8: digitalização a restauro (Wanezza Soares/Veja SP)
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Além de criar cópias digitais, a iniciativa restaura as cores das imagens. “Por ação do tempo, os filmes ficam mais azuis ou magenta. Na nossa digitalização, o escâner tira uma foto de cada frame (quadro) e nós cortamos as cenas, catalogamos e corrigimos a coloração”, diz a cineasta Glênis Cardoso, 31, responsável pelos restauros em parceria com Laura Batitucci, 29, que participa do projeto em Lisboa, onde trabalha na Cinemateca Portuguesa.

Em 2022, Glênis atuou no principal projeto da ONG, chamado Digitalização Viajante. Com um kit portátil que incluía computador, coladeira, fita adesiva, tesoura e bisturi, a pernambucana viajou ao lado do cofundador William Plotnick por cidades como Brasília, Recife, João Pessoa e Teresina para digitalizar obras audiovisuais locais.

O resultado são mais de 300 filmes em restauro e um “romance de cinema”. “Ele (William) é um americano apaixonado por cinema brasileiro. Começamos a ficar amigos, nos encontramos em Recife e viajamos pelo Brasil. Logo depois nos casamos e ele foi contratado (como técnico de restauração de filmes) pela Cinemateca Brasileira. Então nos mudamos para São Paulo”, explica a cineasta.

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A sede paulistana da organização é a casa dos dois, na Vila Mariana.

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O processo de restauro: cores recuperadas (Wanezza Soares/Veja SP)

O projeto itinerante, inédito no Brasil, ganhou destaque internacional. “Fomos convidados para conferências e eventos na Alemanha, na Holanda e agora na Bélgica”, diz Matheus Pestana, que cuida da parte administrativa.

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“Em março, vamos participar do festival Courtisane, em Ghent, com três filmes queer que digitalizamos na Paraíba”, afirma Laura. Uma das produções restauradas pela iniciativa foi usada no filme Retratos Fantasmas (2023), de Kleber Mendonça Filho, que resgata a história dos cinemas de rua no centro de Recife.

“Existe uma demanda muito grande por material de arquivo hoje em dia. O Kleber usou o filme P.S. Um Beijo (1976), de Amin Stepple, que digitalizamos”, diz Glênis.

No momento, a equipe trabalha na preservação digital dos arquivos, com cópias em nuvem e em mídia física. “Acesso (público) e preservação são coisas separadas. A gente quer que esses filmes continuem existindo em sua forma original e que se possa dar acesso a eles. A tecnologia está mudando rápido”, ela completa.

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Publicado em VEJA São Paulo de 1o de março de 2024, edição nº 2882

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