Carnaval levou 2 milhões de pessoas para a rua
Permanece o desafio de conciliar a civilidade com o sucesso dos blocos, que atraíram o dobro de interessados do ano passado
Até pouco tempo atrás, quem arriscava ficar por aqui no Carnaval deparava com um cenário de cidade do interior. De cinco anos para cá, no entanto, a folia entrou no calendário dos grandes eventos paulistanos. Em 2017, chegamos a um recorde de 391 blocos.
Cerca de 750 milhões de reais foram movimentados no feriadão, quase o dobro do registrado no ano passado, enquanto a receita de patrocínio quadruplicou, atingindo a casa de 15 milhões de reais. Festa para uns, tormento para outros. Comerciantes e moradores na rota dos cordões voltaram a sofrer muito com a confusão.
Pessoas ficaram ilhadas dentro de casa ou perdidas pela metrópole com as áreas interditadas. Portas de bares viraram latrinas e várias calçadas serviram de banheiro público a céu aberto, entre outras cenas deprimentes. Uma das promessas da prefeitura era liberar as vias às 20 horas.
Faltou combinar com alguns dos foliões. Na noite de terça (28), por exemplo, a Polícia Militar usou bombas de gás lacrimogêneo para dispersar a multidão reunida na Praça Roosevelt, no centro, por volta da meia-noite. O público teria sido atraído por um bar com música alta. “Virou um pancadão”, diz a presidente da Associação de Moradores e Amigos do Bairro da Consolação, Marta Lilia Porta.
Outro ponto de confronto foi o Largo da Batata, em Pinheiros. De acordo com a PM, os agentes reagiram após levarem garrafadas. Na Vila Madalena, grupos mais animados insistiram em permanecer nas vias do bairro depois do horário da dispersão.
Muitas pessoas só saíram do local com a passagem do caminhão da limpeza, no início da madrugada. Outro incidente ocorreu no sábado (25), no trajeto do Agrada Gregos pelo Bixiga, quando um ônibus acabou depredado. Segundo estimativa da prefeitura, o Carnaval de rua reuniu cerca de 2 milhões de foliões, o dobro do número de 2016.
Nem a pessoa mais otimista envolvida nesse negócio previa esse crescimento. O cordão Tô de Bowie, do centro, calculou que iria receber 20 000 pessoas, mas apareceram 30 000. Na Vila Madalena, concentraram- se aproximadamente 80 000 pessoas, cinco vezes mais do que em 2016. A prefeitura tentou instituir regras, como a multa de 800 reais aos que não cumprissem o percurso (valor irrisório, diga-se, diante do estágio atual de profissionalização de muitos blocos).
Chegou a ameaçar o Agrada Gregos, mas recuou. Está em estudo se a punição será mantida para o ano que vem. Alguns ajustes foram feitos ainda com a festa em andamento, a exemplo da escalação às pressas de 775 agentes extras da CET. Os 1 450 garis também começaram a trabalhar uma hora mais cedo em diversas regiões.
Como a gestão de João Doria assumiu em janeiro, houve pouco tempo para se preparar para o Carnaval de rua da cidade. A promessa agora é anunciar já em junho o esquema de 2018. “Uma ideia é reservar as áreas com mais moradores para os blocos menores”, afirma o secretário de Cultura, André Sturm.
Um dos planos seria realizar a dispersão dos cordões do centro na Avenida Tiradentes, a mesma que recebia os desfiles carnavalescos até 1990, antes da inauguração do Sambódromo do Anhembi.