Continua após publicidade

Camisetas bordadas se popularizam e encabeçam pautas sociais e ecológicas

Do humor à arte, marcas como Ela Company, Projeto Fio e De Araque trazem atualidade à técnica milenar

Por Laura Pereira Lima
12 jul 2024, 08h00

Quadros de Tarsila do Amaral e Picasso ou frases da internet: não importa qual seja o assunto, tudo é fonte de inspiração para os artesãos que fazem sucesso vendendo roupas bordadas. Com diferentes formatos, estilos e missões, marcas compartilham a missão de produzir roupas manualmente, em uma constante luta contra o fast-fashion. “A peça feita à mão conecta o artesão ao consumidor. Tem um valor afetivo tanto para quem faz quanto para quem recebe”, pontua Ana Luiza Nigri, uma das sócias do Projeto Fio.

de-araque-bordados

“A camiseta é como um quadro em branco onde consigo me expressar”, conta Bruno Aranha, idealizador da marca De Araque, famosa nas redes e nas araras por produzir camisetas com frases cômicas. Mais de 400 roupas bordadas com expressões como “Queria chorar mas não dá tempo” são vendidas todo mês na loja física em Pinheiros e on-line, a um preço que varia entre 120 e 500 reais. A inspiração vem de todos os lados, de mensagens engraçadas que Aranha recebe no WhatsApp, sugestões de clientes ou até memes. O cenário político brasileiro também é uma grande fonte de humor, conta, citando a peça que carrega a frase “Que tistreza”, em alusão à fala do candidato à presidência Felipe D’Ávila que virou meme na internet. Referências contemporâneas como a frase “Attenzione Pick Pocket!!!” trazem atualidade à técnica milenar. “Tento me comunicar na velocidade do on-line”, conta Aranha.

de-araque-bruno-aranha
Bruno Aranha: idealizador e bordadeiro da De Araque (Lucy Hallak/Divulgação)

Já a Ela Company, marca criada em Presidente Prudente, leva o bordado para o lado artístico, produzindo peças inspiradas em obras de Matisse, Picasso e Tarsila do Amaral. Rafaela Yo, sócia idealizadora e bordadeira da marca, formada em artes plásticas, criou o empreendimento como parte de seu TCC e até hoje conduz o negócio inteiro sozinha: elabora os desenhos, borda e ainda cuida das redes sociais, do site e do financeiro. O diferencial da marca de Rafaela é que ela trabalha exclusivamente com peças usadas, com a missão de minimizar o impacto ambiental. “É bizarro, com tantas opções de peças já existentes, criar algo do zero”, expressa. O carrochefe são as camisas de botão, mais facilmente encon – tradas em bom estado de conservação nos brechós.”As peças antigas, em geral, são mais bonitas e têm uma qualidade melhor. Parecem novas mas são muito mais especiais”. Afinal, cada peça produzida pela artista é única.

ela-company
(Rafaela Yo/Divulgação)

Enquanto assiste a programas dublados — para manter a atenção 100% voltada para as mãos —, ela copia obras modernistas na tela do computador e passa no mínimo uma hora bordando. “Gosto dos modernistas porque são desenhos que se transformam mais facilmente em bordado”, conta a artesã, que recorre ao repertório artístico obtido na faculdade para inspiração.

Continua após a publicidade
ela-company
Rafaela Yo: nome por trás da Ela Company (Rafaela Yo/Divulgação)

O uso de peças de brechó, apesar de exigir um garimpo extenso, permite que os produtos sejam vendidos a um preço mais acessível, por cerca de 160 reais. Mas nem todos se animam com a proposta: segundo ela, ainda há muito preconceito com roupas de segunda mão, associadas a más energias. “O que tem energia ruim são essas peças de trabalho escravo”, retruca.

ela-company
(Franciele Souza/Divulgação)

A preocupação ecológica é compartilhada pelo Projeto Fio, organização carioca. Segundo Ana Luiza Nigri, sócia do negócio ao lado de Leticia Ozorio, Marina Bittencourt e Olivia Silveira, 90% dos tecidos utilizados são biodegradáveis. Mas a principal missão é a profissionalização de mulheres de comunidades, em especial da Maré e da Tijuquinha. “Queríamos fazer algo com impacto positivo para as mulheres, já que a moda sempre foi uma área de muita exploração da mão de obra feminina”, conta Ana Luiza.

projeto-fio-bordados
Projeto Fio: designs bordados (Bel Corção/Divulgação)

Elas começaram promovendo oficinas de bordado para as mulheres das comunidades no Rio, e hoje contam com uma rede de 40 artesãs, que produzem os bordados e ajudam a elaborar os designs, criados em rodas de conversas coletivas. Uma camisa de botão produzida pelo Projeto Fio pode ser comprada por cerca de 350 reais. “Buscamos sempre valorizar o trabalho do artesão e estipulamos o valor em conjunto com as bordadeiras, pensando no tempo gasto para produzir a peça”, explica.

projeto-fio
Sócias do Projeto Fio (Bel Corção/Divulgação)

Em comum, as três marcas compartilham a dificuldade de sustentar um negócio artesanal. “É difícil competir com um mercado que produz muito rápido, uma luta diária”, sintetiza Aranha.

Publicado em VEJA São Paulo de 12 de julho de 2024, edição nº2901

Compartilhe essa matéria via:
Publicidade

Essa é uma matéria fechada para assinantes.
Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

Domine o fato. Confie na fonte.
10 grandes marcas em uma única assinatura digital
Impressa + Digital no App
Impressa + Digital
Impressa + Digital no App

Informação de qualidade e confiável, a apenas um clique.

Assinando Veja você recebe semanalmente Veja SP* e tem acesso ilimitado ao site e às edições digitais nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.
*Para assinantes da cidade de São Paulo

a partir de 49,90/mês

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.