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Biblioteca digital de SP tem empréstimos recorde e acervo diverso

Com pouco mais de um ano de existência, a BibliON 'empresta' cerca de mil livros por dia

Por Luana Machado
Atualizado em 1 nov 2023, 13h00 - Publicado em 1 nov 2023, 12h15
Encontro do Mulheres Negras na Biblioteca em 2019 (Guilherme Menezes/Divulgação)
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Em 2016, quatro estudantes do curso de biblioteconomia da ETEC Parque da Juventude perceberam a falta de autoras negras na biblioteca da escola e criaram juntas uma campanha de doações de livros para ampliar o acervo. “Recebemos vinte livros e catalogamos, mas entendemos que não bastava os livros estarem ali, a gente precisava fazer com que os frequentadores soubessem a existência daquelas obras”, conta Carine Souza, uma das fundadoras do coletivo Mulheres Negras na Biblioteca (MNB). 

A partir disso, elas começaram a realizar ações colocando cartazes com informações sobre escritoras negras no prédio e sobre eventos culturais que culminaram na fundação do clube de leitura Mulheres Negras na Biblioteca. O projeto é um dos que integram a BibliON, a biblioteca digital gratuita de São Paulo. Com pouco mais de um ano de existência, a plataforma pública recebeu 2 milhões de visitantes e realiza aproximadamente mil empréstimos por dia, com um total de 457 642 livros emprestados até o momento. 

O alcance é impressionante e maior que o número de empréstimos realizados pelas 54 bibliotecas municipais da capital paulista que, juntas, de janeiro a dezembro de 2022, emprestaram 380 623 livros, segundo dados da Coordenadoria do Sistema Municipal de Bibliotecas. Já as bibliotecas estaduais, como a Biblioteca Parque Villa-Lobos, com 15.980 sócios ativos, e a Biblioteca de São Paulo, com 17.659, também ficam para trás da BibliON, que tem cerca de 197.561 sócios — leitores cadastrados e que interagem, seja com empréstimos ou participando da programação.

Os números podem ser explicados pela facilidade do mundo digital. Para pegar uma obra emprestada, por exemplo, basta criar um cadastro no site e clicar em ‘emprestar’ no livro desejado. Além da leitura online, a plataforma também oferece a opção de download.

“O mercado brasileiro é muito concentrado nos best-sellers, então, se você abre uma oferta dessas [do tamanho da BibliON], você gasta 80% dos seus empréstimos concentrados em 20 títulos, por exemplo. E isso vai contra a ideia de bibliodiversidade, de oferecer acesso a gêneros, estilos diferentes e a autores periféricos. Por isso, temos uma equipe que faz essa curadoria e gera diferenças. Na BibliON, nossa lista dos mais lidos tem três autoras brasileiras, coisa rara. E estamos falando da Conceição Evaristo, da Aline Bei e da Elayne Baeta, que, juntas, cobrem com suas literaturas universos bem diferentes”, fala Pierre André Ruprecht, diretor executivo da SP Leituras, associação de incentivo à cultura e literatura que gere as bibliotecas estaduais.

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Na plataforma, o romance O peso do pássaro morto (2017, Editora Nós), de Aline Bei, foi emprestado mais de 2 800 vezes, vencido apenas pelo best-seller Eu e esse meu coração (2018, Editora Jangada), da norte-americana C.C Hunter. Já Olhos d’água (2014, Pallas Editora), marco da ficção brasileira de Conceição Evaristo, teve mais de 1 600 empréstimos, e o best-seller de romance juvenil O amor não é óbvio (2019, Editora Record), escrito por Elayne Baeta, mais de 2 300. 

Os 5 livros mais emprestados:

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  1. Eu e esse meu coração, de C. C. Hunter, com mais de 3 200 empréstimos
  2. O peso do pássaro morto, de Aline Bei, com mais de 2 800 empréstimos
  3. O amor não é óbvio, de Elayne Baeta, com mais de 2 300 empréstimos
  4.  1984, de George Orwell, com mais de 1 600 empréstimos
  5. Olhos d’água, de Conceição Evaristo, com mais de 1 600 empréstimos

O acervo foi o que chamou a atenção de Carine Souza, do Mulheres Negras na Biblioteca. O coletivo já tinha integrado outros editais, circulando por unidades do Sesc SP, das Fábricas de Cultura e em bibliotecas públicas para fazer “um movimento simbólico de levar essas obras e atividades das margens para o centro da cidade”. 

“O acervo das bibliotecas não corresponde à realidade da população brasileira, e a biblioteca é para todos, inclusive para mulheres negras. A BibliOn deixa essas obras disponíveis para qualquer pessoa, de qualquer lugar. Quando a gente fez a curadoria do clube, tinha muitos livros de autoras negras e ficou até difícil escolher”, diz Carine. 

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O edital de parcerias com clubes de leitura contempla iniciativas online, como os clubes 60+ e o Pensadores da Atualidade, e aqueles que promovem encontros presenciais em bibliotecas inscritas, como o próprio MNB, que tem projetos como o Sarau Poetas Pretas, bate-papos com escritoras e rodas de poemas com cantigas e instrumentos percussivos.

Agora, o objetivo é ampliar a programação presencial, para levar o conteúdo para mais pessoas, superando a barreira do digital, que ainda exclui 20% dos paulistas, cerca de 7,5 milhões de pessoas que declararam nunca ter acessado a internet na pesquisa TIC Domicílios de 2019. “A questão fundamental é o foco no que é chamado de ‘biblioteca viva’. Isso é o que está sendo feito no mundo inteiro em bibliotecas contemporâneas. O foco não é o livro, mas sim a comunidade e as pessoas. O livro é ferramenta, mas a biblioteca é uma plataforma de leitura e conhecimento”, afirma Pierre.

O Mulheres Negras na Biblioteca está encerrando as atividades em novembro. Para saber mais sobre os últimos encontros acesse @mulheresnegrasnabiblio. Todos os clubes do BibliON estão no site biblion.org.br/clubes-de-leitura.

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