Aulas gratuitas de tênis: projeto oferece vagas em seis centros esportivos
Rede Tênis Brasil também mantém equipe de alto rendimento com nomes de peso
“Eu sempre me inspirei na Bia Haddad”, conta a jovem tenista Nauhany Silva, de 13 anos de idade. A jovem, que desponta no cenário nacional, faz parte do time de alto rendimento do Rede Tênis Brasil, projeto que apoia atletas de renome como a ídola de Nauhany e também oferece aulas gratuitas do esporte na rede pública da cidade de São Paulo.
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“Em 2023 já apresentamos o tênis para mais de 4 000 crianças”, explica Marcelo Motta, diretor nacional do projeto de massificação da modalidade que está completando dez anos de existência no Rede Tênis.
Em seis centros esportivos da cidade, no Ibirapuera, Lapa, Jardim São Paulo, Freguesia do Ó, Mooca e Tatuapé, a entidade atende cerca de 800 crianças, a maioria entre 7 e 12 anos de idade. O projeto começou a engrenar de fato na capital paulista em 2022.
“Contamos com classes de até 20 crianças e estamos começando a separar as turmas entre iniciantes e os que já estão em desenvolvimento”, explica Motta. Entre os grupos está Luis Guilherme Pereira de Souza, de 10 anos, um dos alunos. “O tênis veio para ajudar, ele tem um grau de autismo e antes era muito agitado. Ele foi mudando, agora está mais calmo”, diz a mãe, a empregada doméstica Marlucia Pereira Gusmão, 44. Luis conheceu o projeto há um ano na Escola Estadual Pedro Voss, na Vila Clementino, Zona Sul, onde ele estuda. “Uma aula por semana de educação física tem o tênis. Eles forneceram as bolas, raquete, rede, todo o material que a escola não teria condições de arcar”, conta a diretora da Pedro Voss, Roseli Batista.
Além das aulas nos centros esportivos, a equipe de professores da entidade realiza visitas em 11 escolas da rede pública de São Paulo e ajuda os profissionais de educação física dos endereços a dar aulas do esporte para as crianças. “Não é um aulão de apresentação e depois a gente nunca mais volta, é um trabalho constante”, explica Motta.
O Rede Tênis é bancado com a ajuda de patrocinadores (a iniciativa foi criada por Jorge Paulo Lemann e outros aficionados de tênis) e principalmente com as leis de incentivo ao esporte. “O projeto existe para as crianças conhecerem e praticarem o tênis. Mas a nossa ideia é que, com o tempo, os que tiverem desejo e talento possam participar das turmas de alto rendimento”, afirma o diretor do projeto. É nessa ponta que está Nauhany Silva, que foi campeã de um torneio da International Tennis Federation (ITF) na Guatemala neste ano, foi convocada pela Confederação Sul-Americana de Tênis para jogar uma série de torneios na Europa nas últimas semanas e nos próximos dias integra a equipe brasileira no mundial de tênis para os 14 anos de idade, na República Checa.
A adolescente pratica a modalidade desde os 2 anos de idade e cresceu nas ruas da comunidade Real Parque, no Morumbi, onde a família mora. “Meu pai é treinador e me ensinou a jogar tênis desde pequenininha, nasci praticamente com a raquete na mão”, se diverte ela, que estava na Alemanha quando conversou com a reportagem. “Minha primeira competição foi aos 6 anos de idade e comecei a jogar torneios federados aos 8”, explica. O pai, Paulo Sergio da Silva, 39, conta que foi justamente no primeiro campeonato, aos 6 anos, que a filha despertou o espírito competitivo. “Ela perdeu e disse que queria que eu a treinasse para ganhar de todas as meninas”, lembra Da Silva. “Larguei o meu futebol para treiná-la. A gente começou jogando tênis na sala de casa. Quando não tinham quadras íamos treinar na rua mesmo”, conta o pai, que se desdobrou para pagar as inscrições dos campeonatos da modalidade para a filha, onde ela foi descoberta pelo Rede Tênis há um ano.
Além de Nauhany, também estão no time de alto rendimento, que treina no Centro Esportivo Mané Garrincha, no Ibirapuera, Bia Haddad Maia e Luisa Stefani. Em maio, Nauhany bateu uma bola com Bia no local pela primeira vez. “Fiquei muito feliz”, comemora a jovem atleta. Para participar das aulas do Rede Tênis Brasil, basta comparecer ou ligar a um dos clubes esportivos parceiros do projeto, verificar os horários com disponibilidade de vagas e se inscrever. Além das ações na capital, o projeto conta com atividades em cidades do interior paulista, como Campinas, Franca e Piracicaba, e em outros nove estados mais o Distrito Federal.
Publicado em VEJA São Paulo de 9 de agosto de 2023, edição nº 2853