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Conheça os ateliês de alguns dos maiores artistas da cidade

Parte deles participa da SP-Arte, a principal feira de galerias do país

Por Tatiane de Assis Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 6 abr 2018, 11h40 - Publicado em 6 abr 2018, 08h11

Às vésperas da SP-Arte, a maior feira de galerias do país, conheça os ateliês e um pouco da rotina de oito dos principais artistas da cidade — de refúgios solitários e caóticos (nos quais só o dono consegue achar seus apetrechos) a ambientes imaculados onde o computador abriga futuras obras.

“Esse espaço é um tanque de memória”

Baravelli: ambiente organizado (Leo Martins/Veja SP)

O pintor e desenhista Luiz Paulo Baravelli, 75, troca o dia pela noite. Ele acorda às 15 horas, começa a trabalhar por volta das 20 horas e vai dormir às 6 da manhã. Grande nome da arte nacional, tem um ateliê de 400 metros quadrados na Granja Viana, adquirido nos anos 80. O ambiente se mostra ventilado, limpo e organizado, graças ao estilo metódico do dono.

Arquivos do pintor e desenhista Luiz Paulo Baravelli (Leo Martins/Veja SP)

Rodeado por árvores, o silencioso anexo de sua casa vez ou outra recebe a visita de vizinhos como sapos e gafanhotos, que fazem a alegria de Baravelli. “Não basta se instalar em qualquer lugar”, diz. “Construir um ateliê é pensar em um espaço que se encaixe nas necessidades do artista.” No térreo ele pinta e, no papel de marceneiro, confecciona os suportes de suas obras.

As ferramentas (Leo Martins/Veja SP)

Fã de Post-its, escreve frases das quais gosta, nomes de artistas e lembretes nos papeizinhos coloridos e os espalha pelas paredes. No piso superior, há um depósito e uma aconchegante sala de estudos com sofazões.

Anotações do artista em Post-its (Leo Martins/Veja SP)

 

“Trata-se de um local de construção”

Os projetos de Guto Lacaz, 69, começam em qualquer lugar onde existam lápis e papel. Vale até consultório de médico. Depois de registrar a ideia, o artista, calmo e detalhista, corre para o computador. Cria então um projeto digital para suas instalações e objetos, que mesclam arte e design. Só depois se dirige ao organizado ateliê — uma edícula de 50 metros quadrados com portas de vidro, anexa à sua casa, no Jardim Paulista.

Guto e as TVs (Leo Martins/Veja SP)

Ali, produz protótipos com três máquinas, entre elas uma serra circular, que depois seguem para uma equipe de engenheiros e marceneiros.

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As máquinas para criar os protótipos: arte e design (Leo Martins/Veja SP)

“É preciso discutir etapa por etapa”, explica. Já fez obras de 12 metros de altura ou repletas de mecanismos eletrônicos. Em sua residência, onde vive sozinho, espalham-se trabalhos antigos, como uma instalação de televisores de tubo empilhados.

 

“Pintura demanda tempo e disciplina”

Pasta com fotos de seu primeiro ateliê (Leo Martins/Veja SP)

Paulo Pasta, 59, trabalha de domingo a domingo: “Se a pintura anda, eu ando também”. Seu ateliê é uma sala alugada na Barra Funda, com só uma janela. Ele abafa os sons da movimentada rua lá fora com música clássica de compositores como Schubert. Ao chegar ao endereço, após o almoço, lê um pouco para desanuviar. Em seguida, lança-se na criação de suas pinturas, marcadas por formas indefinidas.

Bisnagas de tinta: trabalho ao som de música clássica (Leo Martins/Veja SP)

As paredes são forradas com criações recentes, antigas e em andamento. A mistura faz brotar ideias para novas obras. Dezenas de bisnagas de tinta descansam de forma desordenada sobre duas mesas. Ao fundo, estantes metálicas guardam livros de arte. Em outro móvel, o artista armazena pertences como fotos de seu primeiro ateliê, em Santa Cecília, onde iniciou a carreira, na década de 80. Pasta está com duas exposições em cartaz, no Instituto Tomie Ohtake e no anexo da Galeria Millan.

 

“Quero olhar para a frente”

No sinuoso bairro do Sumaré, a gaúcha Regina Silveira, 79, cria suas obras em um ateliê separado de sua casa apenas por um corredor. “Sempre morei perto de onde trabalho. Se não tiver disciplina, não funciona. Quando venho para cá, deixo os problemas domésticos de lado”, afirma.

Regina com uma de suas obras (Leo Martins/Veja SP)

Também fica restrita à residência a gatinha Lucy. “Ela mia de lá, mas não atravessa.” O espaço lembra um loft, sem divisões. Regina, que já se aventurou por pinturas e gravuras, agora se dedica a projetos digitais. Produz uma instalação em realidade aumentada, com a ajuda de dois assistentes. “Somos um grupo, gosto de repartir.”

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Arquivos da artista (Leo Martins/Veja SP)

Em um depósito, guarda obras antigas. “Deixo tudo embalado, prefiro não olhar para o passado”, diz. A nostalgia aparece somente em peças de amigos como León Ferrari (1920-2013), penduradas nas paredes.

Placa na parede do ateliê de Regina Silveira (Leo Martins/Veja SP)

 

“O trabalho acontece dentro da gente”

“Penso o tempo todo em arte”, afirma a ítalo-brasileira Maria Bonomi, 82, reconhecida por suas gravuras e obras em espaços públicos, como o conjunto de painéis Etnias, no Memorial da América Latina. “Vou ao ateliê quando sinto paixão ou agonia para criar.” Quase sempre com a palma das mãos coberta de tinta, ela trabalha há quinze anos em uma casa de três pavimentos no Jardim América.

A artista Maria Bonomi (Leo Martins/Veja SP)

Na sala apelidada de “santuário”, cria formas em qualquer tipo de madeira (“não sou exigente, uso até assentos de cadeiras”) para depois “imprimi-las” em papéis, com o auxílio de dezenas de colheres de pau.

Base de madeira para xilogravura (Leo Martins/Veja SP)

Em outro ambiente, ela se dedica às bases de metal e pedra. De personalidade expansiva, Maria gosta de realizar encontros entre artistas e colecionadores por ali, junto da companheira, a galerista Maria Helena Peres, que organizou no endereço um acervo com mais de 1 000 obras da parceira.

Acervo com 1 000 obras (Leo Martins/Veja SP)

 

“Somos elétricos”

Gustavo e Otávio Pandolfo, 44, formam a dupla OSGEMEOS, famosa por grafites e telas de criaturas amarelas de olhos miúdos. Seu ateliê, um galpão de dois andares e 240 metros quadrados, localiza-se na mesma rua em que os irmãos nasceram, no Cambuci, bairro onde se encontram diversas das artes de rua dos parceiros.

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Gustavo e Otávio: pegada informal (Leo Martins/Veja SP)

Quando os artistas não estão viajando pelo mundo (no momento, estrelam uma mostra em Hong Kong), põem a mão na massa em uma sala no térreo, de pegada informal e jovem. Ali, há também um estúdio, onde criam trilhas para suas “esculturas sonoras”, e um bom estoque de tintas em spray.

A coleção de vinis da dupla (Leo Martins/Veja SP)

Uma coleção de vinis, com mais de 3 000 títulos, de house e hip-hop, fica à disposição.

Gorros pendurados no espaço de criação (Leo Martins/Veja SP)

No andar de cima, sobre uma mesa estilizada, a dupla desenha cenas que podem mais tarde aparecer nas telas. Agitados, os irmãos têm um processo de produção veloz, que às vezes leva poucos minutos.

Os sprays (Leo Martins/Veja SP)

 

“Aqui as ideias se concretizam”

Leda Catunda, 56, pensa a pintura de uma forma diferente. Costuma dispensar as telas para utilizar tecidos (que compra geralmente na Rua 25 de Março) e embalagens de produtos, como chá e sabonete, ao construir suas solares obras, muitas vezes de grandes dimensões. Algumas levam até seis meses para ficar prontas.

A artista Leda Catunda (Leo Martins/Veja SP)

O tom informal e agregador da paulistana é refletido em seu espaço de criação, uma casa de dois andares, quatro quartos e quatro banheiros, na Vila Inah, na Zona Oeste.

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Panos coloridos no ateliê (Leo Martins/Veja SP)

Ela mora a dois quarteirões dali. Além dos trabalhos diferentões, Leda segue por caminhos mais usuais ao criar aquarelas em tons vibrantes, que esquentam as paredes do endereço.

Tecidos e catálogos (Leo Martins/Veja SP)

Diante do silêncio que inunda os cômodos, ela conta que muitas vezes o clima não é esse. “Sempre recebo visitas aqui. Muita gente quer conhecer o espaço: estudantes, curadores…”, diz.

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