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As verdades que as obras do Masp dizem sobre a Avenida Paulista

Saiba quais são os curiosos bastidores das instalações feitas especialmente para a exposição em cartaz

Por Julia Flamingo
Atualizado em 22 fev 2017, 19h59 - Publicado em 22 fev 2017, 19h48
Masp participa da Virada Cultural com horário de funcionamento estendido e programação especial (Leo Martins/Veja SP)
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Todo paulistano tem uma relação afetiva com a Avenida Paulista. Em homenagem à via mais importante do país, o Masp preparou uma elaborada declaração de amor: uma exposição que aborda todas as suas facetas. Escolhemos algumas das obras preparadas especialmente para a mostra, com o objetivo de entender o que os artistas dizem sobre mobilidade, consumo, ocupação e estrutura urbana. Você concorda com eles?

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Luminárias antigas adquiridas num leilão de sucatas: na via desde a década de 70 (Foto: Leo Martins) ()

Iluminação

Quem olha de longe para a sala de vidro do 1° subsolo do museu não consegue entender o que são os inúmeros objetos gigantes enfileirados. De perto, as peças quase futuristas Campo de ação/campo de visão ganham forma: são luminárias, retiradas dos postes de luz da Paulista. Elas foram trazidas por Daniel De Paula, que adquiriu as vinte luminárias num leilão de sucatas da prefeitura. Feitas de concreto, elas iluminaram a avenida entre 1974 e 2011 e, depois, foram trocadas pelas atuais estruturas de inox. Agora, De Paula as traz de volta para seu endereço original e indica: essa é a via que mais consome energia do país.

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Estruturas de comércio informal: tudo dentro de uma grande vitrine (Foto: Leo Martins) (Leo Martins/Veja SP)

Consumo

Impossível não reparar nas milhares de bancas, estandes, barracas e cangas da Paulista que vendem tudo o que você pode imaginar e mais um pouco. Marcelo Cidade garimpou cada uma dessas estruturas e colocou uma dentro da outra, dentro de uma grande vitrine, no 1° andar do Masp. No meio da obra Stand Center, fica girando um ovo, que representa os objetos de desejo dos visitantes. Ao falar sobre o consumo, ele também lembra dos assaltos na região: na década de 90, era o local da cidade onde mais se roubava relógios Rolex. Hoje, o maior número de assaltos é de smartphones.

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Papeis colhidos do chão e reorganizados: 8 000, ao todo (Foto: Leo Martins) (Leo Martins/Veja SP)

Lixo

Jogar um papelzinho no chão não faz a diferença? A artista Cinthia Marcelle mostra que faz, sim: de um em um, os lixinhos viram um montante incontável. Acompanhada por uma equipe de seis pessoas, ela passou dois meses recolhendo segunda via de cartão, papel de maço de cigarro e extratos bancários da rua da Avenida Paulista. O total de 8 000 itens constrói o trabalho in-ter-va-lo (Homenagem à JL). Enrolados como canudos, eles foram presos no piso original de borracha desenhado por Lina Bo Bardi.

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Registros de manifestação em 2014: acesso bloqueado e muito trânsito (Foto: Leo Martins) (Leo Martins/Veja SP)

Ocupação

Difícil não se lembrar das manifestações do Movimento Passe Livre, que começaram em junho de 2013. Para os paulistanos, eventos desse porte na via mais importante da cidade também significam muito….trânsito. O vídeo Túnel Av. Paulista – Av. Dr. Arnaldo, de Graziela Kunsch, começa com diversos carros que são obrigados a dar meia-volta. Depois de alguns minutos (e muito barulho de buzina), é que o espectador entende o motivo do bloqueio: o movimento comemora um ano da revogação do aumento de 20 centavos nas tarifas de transporte público. Na mesma sala, duas grandes peças de concreto são rampas originais do túnel. 

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Cópia dos pisos de concreto: é para andar sobre ela (Foto: Leo Martins) (Leo Martins/Veja SP)

Mobilidade

Pise à vontade em cima da obra Avante_1, de André Komatsu; afinal, sua peça é feita a partir do chão da Paulista. O artista tirou o molde do piso atual – que prioriza a acessibilidade – e os de pedra portuguesa, que formavam a calçada do endereço até 2007. Em cima do mosaico, ele escreveu a palavra “obsolescências”, termo da indústria designado a objetos que já nascem velhos e com falhas. Para o artista, esse é o caso da calçada da via: pela má qualidade, ganha recalques frequentemente. Ao andar sobre a obra é fácil de perceber como o material se deteriora facilmente.

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Cavaletes de vidro da mostra: a arte está no verso deles (Foto: Leo Martins) ()

Manifestações

Passeie pelos cavaletes de vidro para descobrir as seis obras de Dora Longo Bahia. A tarefa é fácil: no lugar de belos quadros figurativos, seus trabalhos são telas em branco. Mas o ponto alto não está na frente das obras e, sim, no verso, onde estão pintadas cenas de confronto entre civis e a polícia. Não é difícil entender que Campo e Contracampo fala sobre acontecimentos velados – consegue pensar em algum?

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