Filha do marchand Paulo Kuczynski, Anita Kuczynski abre galeria nos Jardins
A ARTRA, que fica na Rua Venezuela, estreia com uma exposição de Nelson Leirner, morto em 2020
Em cima da lareira de uma belíssima casa na Rua Venezuela, no Jardim América, pousam três reproduções de menos de 40 centímetros da Vênus de Milo, estátua da Grécia Antiga datada do século II a.C. Olhando melhor, percebe-se que, no lugar dos braços quebrados da figura, foram inseridos lápis do Mickey e as próprias mãozinhas do personagem. A outra, por sua vez, está infestada de baratas de plástico, quebrando a estética luxuosa das paredes brancas. Trata-se do trio Vênus (2011), algumas das obras de Nelson Leirner (1932-2020) que poderão ser vistas na exposição inaugural da ARTRA, primeira galeria de Anita Kuczynski, 29, filha do marchand veterano Paulo Kuczynski, aberta no dia 11.
A mostra individual traz trabalhos que vão da década de 60 aos anos 2010 e pretende homenagear o polêmico artista, considerado um dos maiores nomes da arte contemporânea brasileira. “Ele morreu um pouco antes da pandemia estourar no país. Então, com as galerias e museus fechados, não houve nenhuma exposição dele, como é o costume”, afirma Anita. O espaço próprio veio após experiências nas galerias Bolsa de Arte e Casa Triângulo e, mais recentemente, no próprio escritório do pai, onde ainda trabalha. “Estamos vendo como vai ser essa relação no longo prazo”, diz ela, que divide o projeto com a empreendedora americana Shannon Chang, sua sócia, e com o diretor Victor Uchôa.
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Diferentemente da galeria de Paulo Kuczynski, a ARTRA não representa artistas nem possui acervo próprio. “Terei muita liberdade para fazer parcerias diversas, migrar entre nomes modernos e contemporâneos, sem as amarras das galerias tradicionais”, conta. Das setenta obras de Leirner expostas, apenas duas delas não estão à venda. As outras sairão por preços que vão de 30 000 a milhões de reais (a organização prefere não revelar valores exatos). Uma delas é Homenagem a Fontana I (1967), trabalho composto de tecidos e zíperes nunca exibido no Brasil, e um conjunto de fotografias eróticas inédito, datado de 1964. “Ninguém sabia da existência dessas fotos. O irmão do Nelson mesmo ficou abismado quando falei para ele que tínhamos encontrado”, conta a galerista.
Também vai dar para ver — ou comprar, quem sabe — peças com as icônicas figuras de macacos de Leirner, como uma da série Você Faz Parte, feita em 2010, e o trio Monkey’s Face (2011). “Adoro o trabalho do Nelson porque, ao mesmo tempo em que critica e ironiza o próprio mercado da arte e a ditadura, é leve, divertido e bem-humorado”, conclui.
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Publicado em VEJA São Paulo de 19 de abril de 2023, edição nº 2837