Arte contemporânea africana ocupa a Oca
Mostra <em>Transit_SP</em> traz 35 obras, entre instalações, pinturas, fotografias, esculturas e vídeos, de artistas como Seydou Keita, William Kentridge e Nick Cave
A arte contemporânea africana é um mistério para grande parte dos brasileiros, na opinião de Daniel Rangel, curador da exposição Transit_SP, em cartaz no Pavilhão da Oca até 15 de setembro. Para aproximar a realidade do continente do nosso imaginário, Rangel iniciou um processo de intercâmbio cultural, que resultou na exposição de 35 obras, de 19 artistas, entre instalações, pinturas, fotografias, esculturas e vídeo.
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Essas criações fazem parte do acervo de mais de 1 000 trabalhos da Fundação Sindika Dokolo, de Angola. Ao lado do vice-presidente da instituição, Fernando Alvim, e do Instituto de Cultura Contemporânea – ICC, Rangel levou a mostra a Salvador e Brasília _e agora a exibe em São Paulo. A edição em cartaz na Oca tem novas obras, como a série de Edson Chagas, fotógrafo angolano recentemente premiado com o Leão de Ouro na Bienal de Veneza.
Mas nem todas as criações são de artistas africanos.”Não se trata de uma coleção de arte contemporânea africana, mas de uma coleção montada a partir da África, com um olhar africano em relação à produção artística atual. Há artistas do continente, mas também de outras nacionalidades, que possuem o legado da África impregnados em seus trabalhos”, explica Rangel. Dos 19 participantes, dois são europeus e um, americano. Entre eles, estão os consagrados Edson Chagas, Seydou Keita, William Kentridge e Nick Cave.
Na exposição, é possível encontrar desde obras históricas _expostas em importantes mostras no exterior, como a Bienal de Veneza, a Africa Remix e a Bienal de Bourdeaux _ até as mais novas. Entre as tradicionais, destaca-se uma série de vídeos animações desenhadas a carvão do mestre sul-africano William Kentridge. Apesar da relevância da obra, dos cinco televisores, apenas dois estavam funcionando no dia 26 de julho.
No meio do salão, uma série de autorretratos icônicos do camaronês Samuel Fosso chama atenção pelas cores vibrantes. As fotos do artista representam mulheres de outras nacionalidades, como americana e francesa. Fosso expressa a própria visão das grandes potências, usando trajes feitos de tecidos estampados da África.
Das obras mais recentes, as fotos Oikonomos, do angolano Edson Chagas, merece a atenção do visitante. “Também destacaria as instalações humanóides How to Blow up Two Heads at Once, de Yinka Shonibare, e Soundsuit, do americano Nick Cave, como obras que possuem uma beleza e imponência ímpar”, sugere Rangel. Ao olhar para os humanóides, percebe-se o forte traço étnico – e até folclórico – das peças que os vestem. Em Soundsuit, por exemplo, o manequim é coberto por uma roupa feita de contas e paetês, dos pés à cabeça. O traje representa a cultura local, que considera o ato de se mascarar não apenas cobrir o rosto, mas todo o corpo.
Apesar da riqueza, a exposição peca no educativo. Há poucas informações sobre os artistas e obras. Além disso, até o dia 26 de julho, não havia folders com informações sobre a exposição, o que dificulta o entendimento da mostra.