Antonio Fagundes discute a surdez do mundo no palco do Tuca
Em <em>Tribos</em>, o ator contracena com o filho Bruno e a namorada Arieta Corrêa
“Um libelo contra o preconceito”. É assim que Antonio Fagundes, 64 anos, define Tribos, espetáculo que estreia sábado (14), no Tuca, no qual contracena com a namorada Arieta Corrêa e o filho Bruno Fagundes, repetindo a dose de Vermelho (2012).
Foi Bruno, aliás, quem apresentou o texto da britânica Nina Raine (de Rabbit) ao pai, depois de ver uma apresentação em Nova York. A trama enfoca uma problemática família composta pelos pais intelectuais (Fagundes e a atriz Eliete Cigaarini), e os três filhos. Do trio, destaca-se Billy (Bruno), que apesar de deficiente auditivo, foi criado a vida toda como um rapaz comum. Os conflitos começam quando ele conhece Sylvia (Arieta Corrêa), uma jovem prestes a ficar surda que lhe ensina a se expressar em Libras, a língua brasileira de sinais. Para completar, os outros dois filhos do casal (Maíra Dvorek e Guilherme Magon) também reivindicam a atenção que, a vida toda, só foi dispensada ao filho deficiente.
“Pode parecer um drama lacrimoso do Tchékhov, mas na verdade, é uma comédia perversa”, explica o diretor Ulysses Cruz que se derrete por Bruno Fagundes: “é raro ver um ator tão dedicado e apaixonado por um projeto como ele”. O jovem ator, desde janeiro desse ano, frequentou entidades de apoio a deficientes auditivos, conversou com fonoaudiólogos e aprendeu a se comunicar em Libras.
Para atender à comunidade surda da capital, o espetáculo faz uma sessão especial no dia 28, com tradução simultânea em Libras. “Seria uma hipocrisia de nossa parte abordarmos esse tema e mantermos os deficientes auditivos fora do debate”, explica Bruno.
Para Fagundão, no entanto, o significado da deficiência abordada na peça pode ser estendido. “Estamos falando da surdez do mundo, da falta de comunicação. Basta você sair por aí e ver pessoas reunidas ao redor de uma mesa, todas mexendo em seus telefones para você entender do que estou falando.” E mais, “o mote do espetáculo é a luta contra o preconceito”. Diz Fagundes: “Poderíamos estar falando de uma família com um filho homossexual, ou com um filho negro. Daria na mesma. Estamos falando de pessoas que são discriminadas dentro da sua própria tribo”.
Embora levante bandeiras, o diretor promete que a montagem terá um tom politicamente incorreto proposital. “Para nós, perversão é sinônimo de diversão”, brinca Cruz. “Essa ditadura do politicamente correto além de chata, é hipócrita. Que adianta mudar a palavra, se o preconceito não deixa de existir?”, provoca Fagundes.
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