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“Antes de encontrar meu marido, só me apaixonava por quem não me queria”

Beatriz* buscou ajuda no grupo Mulheres que Amam Demais Anônimas e melhorou seus problemas de relacionamento; ela conheceu Otávio* e estão juntos desde 2012

Por Beatriz*, em depoimento a Fernanda Campos Almeida
Atualizado em 27 Maio 2024, 19h43 - Publicado em 20 ago 2021, 06h00
beatriz* e otávio* sentados em um banco de parque olhando para frente; otávio* está com seu braço sobre os ombros de beatriz*
Eterna recuperação: Beatriz* e Otávio* estão juntos desde 2012. Ela frequenta até hoje o grupo Mulheres que Amam Demais Anônimas (Mada) para cuidar de sua tendência autodestrutiva no amor (Leo Martins/Veja SP)
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“Eu era uma mulher solitária e, para suprir esse sentimento, engatava namoros. Acreditava que esse era o único modo de me salvar da tristeza e da dor que sentia. O problema é que eu sempre buscava, desde a adolescência, homens que tinham algum tipo de complicação, seja emocional, seja financeira ou familiar. Sentia a necessidade de provar que eu era interessante para os garotos da escola que não gostavam de mim, que me zoavam com apelidinhos ou que tinham uma família tão complicada como a minha (meu pai sofria com o alcoolismo). Eu queria uma paixão impossível, de novela, mas, no momento em que o menino começasse a ser recíproco, meu interesse acabava e eu partia para o próximo pretendente.

Na vida adulta, de forma inconsciente, coitados e infelizes eram os que me atraíam. Para eles, queria ser como uma ‘salvadora’. Pensava que talvez fosse finalmente digna de receber amor se os ajudasse.

Para estar em um relacionamento, eu me submetia a qualquer coisa. Criava dívidas para comprar presentes, fazia longos percursos para estar com o outro (mais de uma vez já viajei escondida para encontrar estranhos), fingia estar doente para chamar o mínimo de atenção. Quando nenhum homem me queria, eu ficava mal.

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Minha última relação tóxica foi com um colega de trabalho. O primeiro encontro foi horrível. Ele foi grosseiro, não me olhava e praticamente não conversou comigo a noite inteira. Disposta a fazê-lo ficar comigo, eu o convidei para o motel. Eu me senti um lixo porque parecia que aquilo era a única coisa que eu tinha de bom para oferecer.

No dia seguinte, ele não me dirigiu a palavra e a rejeição me fez esquecer que eu não tinha gostado do encontro. ‘O que fiz de errado?’, pensava. Eu precisava provar que valia a pena. Insisti para que saíssemos mais uma vez. Fomos novamente ao motel, mas fui eu que paguei toda a conta. De novo, foi péssimo! Quando minha amiga me perguntou por que eu saía com aquele cara, não soube responder. Foi então que percebi que o problema era comigo.

Na procura por ajuda, comecei a frequentar diversas religiões, mas nada deu certo.

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Depois de ler o livro Mulheres que Amam Demais, a primeira recomendação da obra era buscar ajuda. Ignorei o conselho. Já tinha tentado isso. Parti para a segunda indicação: ‘Participe de um grupo de apoio’.

Encontrei na internet uma unidade do grupo Mulheres que Amam Demais Anônimas (Mada) — irmandade que adaptou o programa de recuperação dos Alcoólicos Anônimos para mulheres que precisam evitar relacionamentos destrutivos.

Na primeira reunião senti vergonha e medo de ser julgada, mas foi ali que descobri pessoas como eu. Entrei de cabeça e com a ajuda do grupo desenvolvi minha autoestima, saí da casa dos meus pais, viajei sozinha e aprendi a me amar. Defini o que era aceitável dentro de um namoro e perdi a atração por homens ‘quebrados’. Durante esse processo, encontrei meu marido, Otávio*, pela primeira vez.

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Eu o conheci no bate-papo do portal Terra em 2005. Ele morava em outro estado, mas nunca paramos de nos falar. Escaneava fotos minhas e enviava a ele. Eu falava com a mãe dele por telefone e ele com a minha. Contei a Otávio* sobre o Mada antes de começarmos um namoro virtual. Ele sabia que o grupo era prioridade na minha vida. Em 2012, ele veio para São Paulo e o vi pessoalmente pela primeira vez. Com Otávio* aprendi a não cometer os mesmos erros. Hoje tenho coragem de conversar sobre ciúmes e inseguranças. Não faço mais joguinhos. Ele me sinaliza quando esqueço de mim e tento resolver apenas os problemas dele.

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Ainda me considero uma mulher em recuperação, mas tenho ao meu lado alguém que gosta de mim pelo que eu sou.”

*Nomes alterados para garantir o anonimato de frequentadores do grupo Mulheres que Amam Demais Anônimas

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Publicado em VEJA São Paulo de 25 de agosto de 2021, edição nº 2752

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