Com arte em prédios e livros, Aline Bispo valoriza a potência do coletivo
Conheça a história da artista visual, ilustradora e curadora paulistana, que assina a capa da edição especial de VEJA SÃO PAULO sobre lideranças negras
![aline-bispo-perfil](https://vejasp.abril.com.br/wp-content/uploads/2024/04/AcesseSP-51.png?w=600&h=400&crop=1)
Não me vejo como ativista, mas tenho uma responsabilidade quase social. Meu trabalho não me contempla se eu não conseguir abrir caminhos”, define Aline Bispo, 34.
A artista visual, ilustradora e curadora paulistana, que assina a capa desta edição de VEJA SÃO PAULO, tem a formação cultural e étnica brasileira como grandes temas envolvendo suas criações — de empenas grandiosas em prédios no entorno do Minhocão até capas de livros como o premiado Torto Arado (Todavia, 2019), de Itamar Vieira Junior.
![Pinturas da artista: obra que fez parte do Showcase da SP-Arte 2023 Pinturas da artista: obra que fez parte do Showcase da SP-Arte 2023](https://vejasp.abril.com.br/wp-content/uploads/2024/04/07_Show-case-_-SP-arte-2023_a-1.jpg.jpg?quality=70&strip=info&w=615&w=636)
![Pinturas da artista: obra presente na mostra 'O Instante Já Passou', na Galeria Luis Maluf, em 2021 Pinturas da artista: obra presente na mostra 'O Instante Já Passou', na Galeria Luis Maluf, em 2021](https://vejasp.abril.com.br/wp-content/uploads/2024/04/02_o-instante-ja-passou_2021_e-2.jpg-1.jpg?quality=70&strip=info&w=440&w=636)
Múltiplo, seu trabalho nasce de uma trajetória diversa, guiada, desde o começo, pela criatividade. Sementes como uma visita ao acervo da Coleção Brasiliana do Itaú Cultural, na Avenida Paulista, e uma aula na escola sobre Salvador Dalí (1904-1989) vieram germinar o seu interesse pela arte na préadolescência, quando começou a ocupar a cidade.
“Eu morava no Campo Limpo e, depois das aulas, comecei a frequentar o Centro com um grupo de amigos. Foram várias descobertas, como o grafite”, relembra. Uma vez formada na escola, passou a conciliar o dia a dia na arte urbana com o curso de design de interiores.
“Queria trabalhar com algo que estimulasse a criatividade. Depois, percebi que era um lugar muito técnico para mim. Eu queria usar aquelas ferramentas de outra forma, então fui estudar comunicação visual”, conta. A relação com a pintura só viria depois, em 2015, ao ganhar uma bolsa para cursar artes visuais no Centro Universitário Belas Artes.
![Empenas em prédios no entorno do Minhocão: homenagem à intelectual mineira Lélia Gonzalez Empenas em prédios no entorno do Minhocão: homenagem à intelectual mineira Lélia Gonzalez](https://vejasp.abril.com.br/wp-content/uploads/2024/04/AcesseSP-52.png?w=600&w=636)
![Empenas em prédios no entorno do Minhocão: homenagem à diversidade feminina Empenas em prédios no entorno do Minhocão: homenagem à diversidade feminina](https://vejasp.abril.com.br/wp-content/uploads/2024/04/05_mulheres_parqueminhocao_2022_-1.jpg.jpg?quality=70&strip=info&w=490&w=636)
Escolhida como Artista Oficial da última edição do Grammy Latino e atualmente representada pela Galeria Luis Maluf, Aline enxerga o seu sucesso sob um prisma coletivo.
“Esse lugar de alcançar visibilidade é maravilhoso, porque eu gosto de trabalhar, ganhar meu dinheiro e abrir mais portas. Mas quero que outros pares venham junto”, explica.
A coletividade também é o tema da ilustração inédita criada especialmente para a capa desta edição. “Pensei nas potências femininas negras, nesses corpos que estão ocupando diversos espaços”, contextualiza a artista.
![Capas de livros: 'Torto Arado', de Itamar Vieira Junior Capas de livros: 'Torto Arado', de Itamar Vieira Junior](https://vejasp.abril.com.br/wp-content/uploads/2024/04/Torto-Arado-2019-1.jpeg.jpg?quality=70&strip=info&w=928&w=636)
![Capas de livros: 'Sula', de Toni Morrison Capas de livros: 'Sula', de Toni Morrison](https://vejasp.abril.com.br/wp-content/uploads/2024/04/Sula_2020-1.jpg.jpg?quality=70&strip=info&w=574&w=636)
![Capas de livros: 'Por um Feminismo Afro-Latino-Americano', de Lélia Gonzalez Capas de livros: 'Por um Feminismo Afro-Latino-Americano', de Lélia Gonzalez](https://vejasp.abril.com.br/wp-content/uploads/2024/04/Lelia-Gonzalez-2021-1.jpeg.jpg?quality=70&strip=info&w=427&w=636)
A presença da espada-de-santa-bárbara é um detalhe importante da obra. “Ela tem uma característica de força na botânica. É muito resistente e altiva, cresce em direção ao alto. E, dentro dos sincretismos afro-brasileiros, Santa Bárbara é a figura de Iansã, que carrega a potência feminina da luta”, conta.
Para Aline, há questões sociais e raciais que ainda levarão décadas para ser superadas. “Acho que alguns problemas não vão ser resolvidos nos próximos cinquenta anos, e não vou viver muito mais que isso, no campo físico. Então penso naquele ditado africano: ‘Se quer ir rápido, vá sozinho. Se quer ir longe, vá acompanhado’”, diz a artista, que reflete sobre o perigo de estar solitário.
“Tenho medo de um lugar com uma única pessoa no topo. Com qualquer deslize, você pode se deslumbrar ou se ferir. Nós, humanos, temos o direito de nos contradizer, e não quero estar só quando eu errar. Quero ter os meus pares ao lado, para passarmos juntos por esses caminhos”, afirma. ■
Publicado em VEJA São Paulo de 5 de abril de 2024, edição nº 2887