Parte de maior coleção de obras de Alfredo Volpi vai a leilão em São Paulo
Depois de expostas no escritório de arte James Lisboa, gravuras serão vendidas pelo Canal Arte 1 e pelo site LeilaoDeArte.com a partir do dia 17 deste mês
Na 2ª Bienal de São Paulo, de 1953, as honras do prêmio de melhor pintor foram concedidas a Alfredo Volpi. Desde então, o artista ítalo-brasileiro é considerado pela crítica como um dos expoentes da segunda geração do modernismo no país. Seu legado é reconhecido até hoje e inspirou, neste ano, a mostra Volpi Popular, no Museu de Arte de São Paulo (Masp), que ficou em cartaz entre fevereiro e julho.
Surge agora uma oportunidade única de ver de perto e dar um lance para adquirir parte da coleção de 2 875 obras do pintor, diretamente de sua reserva técnica. De 10 a 17 de outubro, uma amostra das peças estará exposta no escritório de arte James Lisboa, em Cerqueira César, São Paulo. No dia 17, 85 gravuras emolduradas serão leiloadas no Canal Arte 1 por um lance inicial de 500 reais; nos dias 18 e 19, o site LeilaoDeArte.com venderá os trabalhos restantes em lotes de dez, saindo a partir de 5 000 reais.
As obras estavam em seu ateliê desde seu falecimento, em 1988. O leiloeiro James Lisboa foi nomeado fiel depositário em 2012 e, após dez anos de contestação judicial, elas foram liberadas e os herdeiros concordaram em colocá-las em pregão. “É algo inédito, um leilão desse porte no Brasil com tantas obras de Volpi”, afirma Lisboa. “Para os colecionadores, é uma oportunidade de negócio. Haverá muita disputa.”
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Provenientes de seu espólio, as peças foram chanceladas com carimbo e marca-d’água (“Espólio Alfredo Volpi”), para assegurar sua origem. Todas as telas foram produzidas entre as décadas de 60 e 80, época marcada por seu abstracionismo geométrico e por suas famosas “bandeirinhas” e fachadas.
De origem humilde, a família de Volpi migrou da Itália para o Brasil em 1897, quando o artista tinha apenas 1 ano, e fixou residência no bairro do Cambuci, em São Paulo. Por muito tempo, Alfredo trabalhou no ramo da construção civil e, autodidata, especializou-se em pintura decorativa de paredes. Ganhou seu sustento fazendo arabescos nas casas dos barões do café. Em 1934, passou a integrar o Grupo Santa Helena, que se reunia na Praça da Sé para realizar desenhos da paisagem.
Seu interesse pela arte popular ganhou força a partir de 1940, quando começou a fazer retratos religiosos. Dez anos depois, vieram as figuras geométricas — e o reconhecimento da crítica. “Em sua vida, São Paulo representou a sobrevivência, por suprir suas necessidades financeiras, e a ascensão em sua carreira, com o grande prêmio da Bienal”, explica Lisboa.
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O leiloeiro, que conheceu o pintor na década de 70, presenciou a criação de algumas de suas obras e hoje também as coleciona, define Volpi como uma pessoa generosa e um artista autêntico. “Ele nunca foi um pintor de moda, nunca se preocupou em seguir escolas ou vanguardas. Ele pintava porque gostava de pintar. Era um pintor artesão, que fazia todo o trabalho manual de produção”, conta. “Na história da arte dos Estados Unidos, da Europa e até mesmo do Brasil, você não vai encontrar nenhum pintor que fez algo equivalente ao que ele fez. Tanto em técnica (têmpera, na qual os pigmentos são misturados com um aglutinante) quanto em cor e forma. É por isso que eu o defino como: Volpi pinta Volpi.”
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Publicado em VEJA São Paulo de 12 de outubro de 2022, edição nº 2810