Festival Mário de Andrade reúne feira do livro, mesas e shows gratuitos
Pautada pelo ‘Manifesto Surrealista’, programação inclui apresentações de Luiza Lian, Ava Rocha e Sophia Chablau
O centro da cidade volta a ser ocupado com literatura e artes no Festival Mário de Andrade, organizado pela biblioteca que traz o nome do modernista. A quarta edição do evento anual, criado em 2019, começa nesta sexta-feira (15) e vai até domingo (17) com mais de 100 atrações gratuitas e a expectativa de reunir um público de 30 mil pessoas.
Vai ocupar o prédio da instituição e também a Praça Dom José Gaspar, uma faixa da Avenida São Luís e a Praça das Artes com feira de livros, mesas de debate, rodas de conversa, espetáculos teatrais, shows e exposições. “O festival é a nossa Virada Cultural, ele assumiu essa posição de ocupar o Centro”, afirma Jurandy Valença, diretor da Biblioteca Mário de Andrade.
A inspiração para esta edição é o aniversário de 100 anos do Manifesto Surrealista, do escritor francês André Breton. “Veio após a Primeira Guerra Mundial como movimento artístico contra toda a racionalidade e o pragmatismo da época, em celebração ao inconsciente”, comenta Valença.
Dentro do tema, ganham atenção dois recortes específicos: o papel das mulheres na vanguarda surrealista e os reflexos do movimento no Brasil. Por isso, a comunicação e cenografia do festival incorporam elementos das obras das pintoras Leonora Carrington e Tarsila do Amaral.
Um dos destaques da programação é a mesa de abertura com as poetisas Leila Ferraz, uma das primeiras surrealistas do país, e Maria Lúcia Dal Farra, pesquisadora que é referência no campo, na Praça das Artes, nesta sexta (15), às 19h30. Com mediação da professora Elis Regina Zils, as duas debatem os trabalhos de Sergio Lima (1939-2024) e Claudio Willer (1940-2023), dois grandes nomes do movimento.
Outra atividade central é a apresentação de Bete Coelho do poema cênico Lá Embaixo, de Caetano Galindo, escrito a partir das memórias de Leonora Carrington (Sala do Conservatório da Praça das Artes, às 20h, no dia 16, e às 19h, no dia 17).
A agenda musical inclui shows inéditos de Luiza Lian, com dançarinas e performance cênico-musical inspirada no cinema expandido, e Ava Rocha, que será acompanhada de convidadas como Assucena e Brisa Flow, numa apresentação que combina canções de seu último álbum, Néktar, a elementos performáticos e visuais, explorando as múltiplas linguagens do surrealismo.
Para abranger o cinema e a moda, o documentário O Álbum Privado de Elsa Schiaparelli, dirigido por Gabriel Dietrich, estreia no vão livre da Praça das Artes às 19h de sábado (16).
Nas artes plásticas, a exposição Mentes em Transe reúne obras de Maria Martins, Eva Soban, Ismênia Coaracy, Sergio Lima e outros, no terceiro andar da biblioteca.
“As mulheres foram sempre invisibilizadas em todas as áreas. Quando falam de surrealismo, lembram principalmente do Salvador Dalí. Queremos mostrar as mulheres excepcionais, além da Frida Kahlo, que fizeram parte da vanguarda”, diz o diretor da Mário de Andrade. “A ideia é criar diálogo das artes visuais com a literatura e apresentar para o público leigo e especializado.”
Neste ano, a feira de livros na Praça Dom José Gaspar e na São Luís tem quarenta participantes e foca editoras independentes e periféricas. “Com Bienal, Flip e feiras acontecendo nos últimos meses, decidimos dar espaço àquelas não tão conhecidas, que muitas vezes não conseguem espaço nesses grandes eventos. Isso reflete o nosso compromisso com a bibliodiversidade.”
Além do festival, a instituição prepara o lançamento de um livro e um documentário em parceria com a Spcine, dirigido por Kiko Goifman, para celebrar o centenário da Biblioteca Mário de Andrade, em 2025.
Publicado em VEJA São Paulo de 15 de novembro de 2024, edição nº 2919