O campo de futebol do Centro Esportivo Vila Silvia, na Zona Leste, será o grande fervo da região durante os dias 19, 20 e 21 — e não será por conta de nenhuma final de campeonato varzeano.

Na verdade, quem pisará sobre aquele lugar serão artistas como Mano Brown e Ice Blue, dos Racionais MC’S, Seu Jorge, Péricles, MC Hariel e TZ da Coronel, além de bandas como Pixote, Art Popular e Turma do Pagode. Assim será a primeira edição do Festival Beatloko & Filhos do Guetto.

O nome comprido tem uma razão simples. O evento é organizado pelo bloco carnavalesco de rap Beatloko — criado em 2017 pelo DJ Cia, do grupo RZO — e pelo Instituto Filhos do Guetto — ONG que atua na comunidade da Vila Sílvia desde 2018, presidida por Henrique Jambo.

“A gente viu a necessidade de trazer um festival para o povo da periferia, que não tem poder aquisitivo para ir ao Lollapalooza ou a outros grandes eventos”, explica Jambo, que já costumava trazer apresentações musicais menores para a comunidade e viu os planos crescerem de tamanho com a nova parceria.

“A gente vê vários festivais na região central de São Paulo, mas a cidade é grande demais para isso. Se temos como levar shows para outros lugares, isso valoriza e fomenta esses locais. É o mesmo sentimento de quando abria um banco ou um McDonald’s na quebrada — as pessoas ficam felizes em ver sua área valorizada, e não esquecida”, diz DJ Cia.

O rapper Dexter, que se apresenta na terça-feira (19) (confira os horários das atrações ao fim do texto), visitou o espaço onde será o evento.

“Para mim, tocar em um festival como esse não sai de graça. Recebo um grande pagamento, que é desenvolver a cultura na quebrada”, disse o artista, enquanto, em uma caixa de som próxima, tocava Oitavo Anjo, faixa icônica do disco de estreia do seu grupo 509-E — durante a entrevista, diversos fãs pediram fotos com o músico.

“Às vezes as pessoas que moram aqui não têm condição de pagar para ver um show do Seu Jorge no Espaço Unimed, por exemplo. Então, quando se traz isso para a periferia, é de uma importância gigantesca, de diversão, consciência e aprendizado”, completa.

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Com um palco principal e outro no centro da pista que receberá DJs, o festival terá pontos de alimentação nos arredores e catracas para controlar a entrada do público, que é gratuita, mediante a doação de 2 quilos de alimento não perecível.

“As pessoas vão retirar um QR code no site e apresentar, via celular, na entrada. O limite é de 15 000 pessoas por dia”, diz Jambo, que também fará a apresentação do evento, ao lado de Samantha Schmütz e Dani Nega — o festival, custeado majoritariamente por doações à ONG, recebeu apoio de infraestrutura por meio da Secretaria de Turismo e tem produção artística da Boia Fria Produções e da Kikonnection.

Também serão oferecidos serviços de cabeleireiro, esmalteria e design de sobrancelhas, de graça. Com previsão de sol para os três dias, a organização afirma que haverá bebedouros da Sabesp, além de carro-pipa.

Para os organizadores, a ideia é expandir o projeto no futuro. “A vontade é fazer essa primeira entrega bem-feita, em um nível alto, e estender para outras comunidades da cidade. A importância real é levar essa oportunidade para a região — muitas pessoas pediram espaço para trabalhar, então essa iniciativa também gera empregos”, explica DJ Cia.

“As pessoas que vão vender na praça de alimentação vivem na comunidade, então isso vai acabar trazendo renda, além dos shows que elas não teriam condições de assistir. Por isso dizemos que é um festival do gueto e para o gueto”, afirma Jambo, do instituto.

Publicado em VEJA São Paulo de 15 de dezembro de 2023, edição nº 2872

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