“Não quero ser uma chata de galochas, mas fico desanimada quando vejo algumas cenas desta cidade, e acho que isso não vai mudar tão cedo”, acredita a modelo Luiza Brunet, 57. Tanto pessimismo mora praticamente na porta do prédio nos Jardins onde ela se hospeda em suas viagens mensais a São Paulo: uma adolescente em situação de rua, que fica por lá com seus dois bebês. “Em nossas conversas quase diárias, ela diz que não volta para a casa da mãe nem procura os abrigos com medo de ser espancada, nos dois casos”, conta.
Luiza dá bom papo, fraldas e comida, mas acredita que isso não basta. “Cadê o governo para fornecer o básico, como educação, moradia, saúde, cultura?”, indigna-se. A artista sabe que o problema da sua “vizinha” e das cerca de 20 000 pessoas que vivem nas ruas por aqui não será resolvido de uma hora para outra. “Sonho em, pelo menos, começar a ver essa transformação.”
Moradora da Zona Leste, a cantora Gloria Groove, 24, só quer ler uma manchete. “A chegada da Linha 2-Verde do metrô à Vila Formosa, bairro onde nasci”, conta. Entretanto, para 2020, vai ser difícil. Segundo previsões do governo paulista, o começo das obras de expansão por lá está previsto para o primeiro trimestre, mas a inauguração só deve ocorrer em 2025 — isso se não houver nenhum dos tradicionais atrasos.
Uma cidade menos machista e com eleições municipais sem os transtornos das fake news são os principais desejos de Karina Kufa, 39, advogada da família Bolsonaro. Mas e o presidente, que coleciona declarações machistas? Numa delas, até foi condenado pelo STF a se retratar por agredir a deputada Maria do Rosário (PT). “Não concordo com a condenação. A participação feminina será prioridade no Aliança (Pelo Brasil, novo partido). E o presidente é brincalhão, mas muito respeitoso com as mulheres”, afirma. E a CPI das fake news, que respinga em Eduardo Bolsonaro? “É uma irresponsabilidade com recursos públicos, e nunca apresentaram provas contra a família”, ela defende.
Paraisópolis, a maior favela de São Paulo, foi cenário de uma das notícias mais tristes de 2019, com a morte de nove jovens durante uma operação policial em um baile funk em dezembro. Para evitar problemas como esse e melhorar a vida por lá, Gilson Rodrigues, 35, presidente da União de Moradores há uma década, reivindica a criação da subprefeitura de Paraisópolis e Morumbi. “Precisamos melhorar nos quesitos educação, cultura, esporte, desenvolvimento social e habitação. Tomara que o próximo prefeito foque as comunidades”, espera.
“Vou ajudar São Paulo a ser mais inclusiva”, anuncia Gabriel Bernardes de Lima, 23. Craque na cozinha desde os 12 anos, tornou-se empresário em 2017 ao lançar o Downlícia, um quiosque itinerante de brigadeiros que ele mesmo faz. O jovem com síndrome de Down fatura em média 2 000 reais por dia de trabalho e sustenta a família. Com a ajuda da mãe e da irmã, planeja expandir o negócio em 2020. “Quero contratar pessoas com deficiência para trabalhar no carrinho e também no novo site, que terá mais conteúdo”, afirma. “Esta cidade deveria ser acessível e dar oportunidade a todos!”, completa.
Publicado em VEJA SÃO PAULO de 8 de janeiro de 2020, edição nº 2668.