Repórter poliglota já entrevistou Pelé e quase foi morto em guerra na Líbia
Conversamos com Philip Crowther, jornalista que viralizou ao falar seis idiomas diferentes durante cobertura das Olimpíadas em telejornais
Após fazer múltiplas aparições em telejornais estrangeiros durante as Olimpíadas, o jornalista Philip Crowther, 40, viralizou na última semana ao exibir suas habilidades linguísticas. Fluente em seis idiomas, ele falou ao Terraço Paulistano (em português impecável) sobre suas experiências como repórter correspondente, seus passatempos fora do trabalho e os métodos para aprender tantas línguas ao longo dos anos.
“Em casa, meu pai sempre falava inglês e minha mãe respondia em alemão”, conta o poliglota, que nasceu em Luxemburgo, na Europa. Segundo ele, os jovens que estudam no país costumam falar quatro idiomas, entre eles francês e inglês, ensinados a partir dos 10 e 12 anos respectivamente. “O luxemburguês eu aprendi na rua com amigos e assim já tive acesso a três línguas desde que nasci.”
I took my @AP_GMS circus act to #Tokyo2020. In this order: Luxembourgish, German, Spanish, Portuguese, French, and English. pic.twitter.com/v6OyvCYHCc
— Philip Crowther (@PhilipinDC) July 24, 2021
A partir dos 14 anos, passou a aprender espanhol e se tornou fluente quando se mudou para Barcelona aos 20. “Em Luxemburgo, temos canais de TV internacionais, entre eles os da Espanha, e eu queria entender o que falavam durante os jogos de futebol“, relembra. Desde cedo, o esporte é uma de suas paixões e Philip hoje torce para três clubes. “Por meu pai ser inglês, a tradição é que eu torça para o time da família, Nottingham Forest F.C., e para o primeiro time que vi jogar com meu pai, no caso a equipe da Alemanha, FC Köln. Depois desses, torço para Barcelona, que estava na primeira partida que assisti quando estive na Espanha.”
No ano seguinte, ao ingressar em uma universidade em Londres, ele decidiu que seria uma boa ideia aprender mais um idioma… O português. “Mas para mim o francês foi o mais frustrante por ser a primeira língua aprendida fora de casa e com uma gramática que não é muito lógica.”
Depois de se formar em estudos hispânicos pela King’s College de Londres, o jornalismo surgiu por acaso. “Uma amiga do Uruguai me indicou a possibilidade de trabalhar três meses no jornal mais importante do país, em Montevidéu. Ela não queria ir e assim comecei como jornalista.”
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Três anos de experiência em Paris logo em seguida o levaram ao cargo atual como correspondente da Associated Press em Washington, nos Estados Unidos. “Tivemos juntos a ideia de oferecer minhas reportagens em vários idiomas nos grandes eventos, como agora em Tóquio, e assim posso fazer vários trabalhos”, resume. Mas o talento é especialmente vantajoso nos bastidores, ao se comunicar com os moradores locais em vários destinos. “Tenho amizades em muitos países porque posso falar sem a tradutora do meu lado. Uma vez visitei Manaus e pude circular sozinho falando em português.”
Uma dos episódios jornalísticos mais arriscados de sua carreira foi uma viagem à Líbia durante a guerra. “Fui sem experiência em reportagens de guerra, durante a revolução, e estive no meio dos combates, com muitas bombas caindo do nosso lado”, diz. “Tive muita sorte de sair vivo, mas fiquei com a sensação de que alguns perigos são necessários para poder contar certas histórias. Depois disso não acompanhei guerras, mas cobri tiroteios e protestos bem violentos nos EUA.”
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Casado com uma americana, seu maior passatempo é ver partidas de futebol e ir ao playground com a filha de 17 meses. “Meu hobby não é mais aprender línguas, já tenho 40 anos e não tenho tanto essa paixão, embora tenha tentado estudar árabe e japonês também, que são muito mais difíceis.”
Seu maior sonho mistura a paixão pessoal e a profissional: poder um dia entrevistar o jogador argentino Lionel Messi. “Sei que essa não é a melhor resposta para uma publicação brasileira, mas ele é meu herói. Suas respostas nem são interessantes porque ele é uma pessoa reservada, não seria uma grande entrevista, mas mesmo assim gostaria muito de conhecê-lo”, revela. Entre personalidades brasileiras, Philip já entrevistou o jogador Pelé. “Ele foi provavelmente a pessoa mais conhecida e importante que entrevistei na vida, quando ele esteve na Angola. Agora falta o Messi.”
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