João Doria pede 120 milhões de reais do imposto de amigos ricos

“Shhhhh, shhhhhhhh.” Quando o relógio marcava 22h, Lucilia Diniz pegou o microfone na sala de sua casa para o jantar em homenagem ao prefeito João Doria. Ela estava de costas para a parede decorada por tapete persa. O ambiente lotado e com falatório impedia que a anfitriã pudesse ser escutada por todos. “Shhhh, shhhhhhhhh”, murmuraram alguns presentes.

Fez-se o silêncio quando a empresária começou a ler um breve discurso carinhoso para seu amigo e vizinho – Doria mora a menos de 200 metros dali. “Na entrada do outono, (Doria) surge como maior promessa de renovação da vida pública nacional”, disse ela. O governador Geraldo Alckmin e Dona Lu ficaram com cara de paisagem. O prefeito nega, mas seu nome tem sido sondado para disputar a presidência da República – cargo almejado pelo padrinho. O governador fez um discurso breve antes de dar a voz a Doria. “Ele tem a capacidade de agregar, de liderar. O João é o prefeito que está fazendo história.” Não durou três minutos.

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Logo em seguida, Doria assumiu o microfone. Começou a falar para a plateia de 370 pessoas, mas precisou improvisar. Por ter baixa estatura, não conseguia ser visto por todos. Decidiu tirar seus sapatos de couro preto envernizado e subiu em uma cadeira. Foi aplaudido. Diante da possível saia-justa, tratou de dizer que não é candidato a nada e que seu presidente se chama Geraldo Alckmin. Mais aplausos. Doria contou alguns de seus feitos nos pouco mais de 80 dias de governo, entre eles a realização do Corujão da Saúde. “Até esta sexta (24), não haverá mais filas, teremos realizado 470 000 exames.”

Ele aproveitou a oportunidade para pedir uma ajuda aos amigos abonados: que doem parte do imposto de renda ao Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente. O objetivo seria construir escolas e creches. “Não precisam assinar cheque ou nota promissória, apenas destinar parte do imposto para essa finalidade. Quero sair daqui com 120 milhões de reais de impostos de vocês.” Terminado o discurso de 20 minutos, o DJ começou a festa com a música La Vie em Rose na voz de Grace Jones – mas bem que poderia ser Pies Descalzos, da Shakira.

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A lista de convidados era extensa e estrelada. Era para ter sido 200, mas como Doria está em alta muita gente ligou se convidando. No total, foram 370 pessoas. “Isso aqui parece uma sauna”, exagerou a mulher de um advogado. Havia por ali pesos-pesados da economia (Flávio Rocha, Rosy Verdi, Paulo Velloso, João Paulo Diniz, Luiza Trajano, Marcos Arbaitman, Carlos Jereissati Filho), da advocacia (Luiz Flávio D’Urso, Paulo Iasz de Morais…), da sociedade (Fernando Altério, Jorge Elias, Cris Barros…) e artistas (Adriane Galisteu, Bruna Lombardi, Juca de Oliveira, Fúlvio Stefanini…). Boa parte dos secretários foi. Um deles, aliás, contou que esse tipo de evento é “trabalho”. “O Doria tem uma lista e marca quem aparece e quem falta”, contou. “O ritmo tem sido intenso, trabalhamos todos os finais de semana”, contou o vice-prefeito Bruno Covas.

O convite pedia traje esporte, mas houve excessos. Doria seguiu à risca o dress code: calça, malha e sapato pretos. Sua mulher, Bia, no entanto, foi de longo da grife sérvia Hamel, da estilista Melina Harris, vendido em São Paulo pela butique Mares Guia.

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O comentário geral era sobre a generosidade de Lucilia, que circulou pela casa com Luiz Trabuco, namorado e presidente do Bradesco. “Ele foi o homem por quem passei a vida toda esperando”, tem repetido a empresária aos amigos. Ela deu uma festa com estrutura que muitos casamentos sofisticados não têm. Ilha de comida japonesa do Geiko-San e petiscos e jantar do bufê L’Épicerie. No cardápio, filé mignon, salmão, cuscuz com palmito pupunha e arroz de pato. O croquete de mandioca e carne seca e o pastel de queijo com limão siciliano eram servidos o tempo todo. De bebidas, champanhe Veuve Clicquot rosé, uísque Red Label, Aperol e gim Tanquerey. Alguns convidados deixaram seus copos sobre a mesa com a coleção de prataria de Lucilia. Doria não bebe nada alcóolico, passou a noite com Coca-Cola zero. “Sem limão, por favor.”

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