Discípula da Monja Coen investe em redes sociais e é fã de carros e vinhos
Nascida na Venezuela, Monja Zentchu passa a pandemia ao lado da budista-celebridade em templo no Pacaembu
Aos 62 anos, a Monja Zentchu passa a quarentena com sua mestra, a budista-celebridade Monja Coen, em um templo no Pacaembu. Com a reclusão, palestras e encontros foram interrompidos e deram espaço a novidades. “Agora, fico muito nas redes sociais no tempo livre”, conta Zentchu, que conduz a live Petisco Zen, no Instagram, em que discute religiosidade (para Coen, o isolamento rendeu novo livro, O Bom Contágio, sobre o despertar espiritual em tempos de Covid).
“Temos cachorrinhas, não falamos muito porque há as nossas obrigações e existe um respeito, como em qualquer relação.” Costuma levar broncas da mestra? “Todo dia! As pessoas acham que monge não erra, mas não sou imune a isso, e agradecemos por ter uma mestra que com um grito põe a gente de volta na Terra. Resta agradecer a bronca. Recebo muitas… Por quê? Porque mereço!”
Nascida na Venezuela, a discípula descobriu o budismo aos poucos. “Quando era adolescente, me contavam que não podia deixar de escutar o chamado do Senhor… Eu ficava tão apavorada que tampava os ouvidos”, diverte-se. Em Caracas, seu lazer incluía visitar museus e assistir a concertos com a família. “Eu vivia em outro mundo, em um país muito rico, que me deu uma educação de elite”, relembra. Além de letras, ela chegou a estudar música e piano em Varsóvia, na Polônia. “Meu pai era controlador de tráfego aéreo, mas o dinheiro rendia, morávamos em apartamento próprio e tínhamos um carro usado, que sempre quebrava.”
No Japão, Zentchu viveu de 2010 a 2014 no Mosteiro de Nagoya. “Foi terrível e maravilhoso ao mesmo tempo. Não era um país diferente, era um mundo diferente. Tive que aprender a etiqueta, os costumes, a culinária japonesa… Pelo menos eu sabia segurar o hashi”, conta. “Foi terrível no sentido de que o mosteiro é uma grande máquina moedora de ego. Nessa vida não existe a oportunidade de dizer ‘eu acho’ ou ‘eu penso’. Eu falava pouco japonês e era tão corrido que nunca tive como estudar. Os trabalhos físicos e braçais eram sempre deixados para as estrangeiras.”
No Brasil, Zentchu — ou Diana, seu nome de batismo — estudou massoterapia no Rio antes de se mudar para São Paulo. “Só conhecia a cidade que aparecia no Cidade Alerta, mas quando saí do metrô direto para a Paulista me senti em casa.” O encontro com Coen ocorreu na rua, por acaso. “Foi antes de ficar famosa. Na época, me aceitou como aluna, depois discípula.” Apesar dos estereótipos sobre o estilo de vida dos monges, Zentchu aprecia prazeres “mundanos” como vinho chileno, carros 4×4 (que não tem, apenas admira) e boa comida. “Com a pandemia, até decidi começar um regime… As pessoas acham que monge só come alface hidropônica”, brinca.
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Publicado em VEJA São Paulo de 3 de março de 2021, edição nº 2727