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Irmãos criam aplicativo para MCs amadores gravarem funk pelo celular

No novo BatalhaFUNK, aspirantes a MC gravam as próprias letras e batidas pelo smartphone e já chamam a atenção de produtoras no país

Por Humberto Abdo
Atualizado em 23 abr 2021, 20h28 - Publicado em 23 abr 2021, 06h00
Os irmãos paulistas Erick e Kelvin abraçados posando para a foto em aeroporto.
Erick e Kelvin: sociedade de irmãos feita a distância. (Reprodução/Arquivo Pessoal/Veja SP)
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De São Bernardo do Campo, dois irmãos criaram um aplicativo para aspirantes a MC (os cantores e compositores de funk) produzirem suas músicas pelo próprio celular. “Com amigos de várias favelas de São Bernardo, cresci com o grafite, o basquete de rua e a cultura do rap e do hiphop”, conta Kelvin Lopes, 28, que teve a ideia com o irmão mais velho, Erick Lopes, 36. “Quando começamos a desenhar o projeto, vimos que o funk estava vivendo um boom fora do Rio de Janeiro, todas as casas noturnas tocavam”, observa Erick.

Mesmo assim, o BatalhaFUNK, como ficou batizado, ainda levou quatro anos para nascer. Sem formação na área de tecnologia, os dois passaram por uma sequência de experiências malsucedidas ao tentar desenvolver a novidade. “Precisávamos de um aplicativo que mesclasse dois arquivos: o beat, ou batida, e a voz do MC”, resume Erick, que é formado em direito e ciências contábeis. Depois de quase dois anos com um profissional freelancer e longe de conseguir o resultado esperado, os irmãos decidiram começar do zero — e perder o investimento inicial, cujo valor preferem não revelar.

Erick de braços cruzados posando para a foto
De São Bernardo do Campo, Erick comanda novo app de funk com o irmão (Reprodução/Arquivo Pessoal/Veja SP)

“Nós acabamos pagando pelo aprendizado e assim pudemos conduzir melhor a conversa na hora de contratar outra desenvolvedora”, pondera Kelvin, que vive no Canadá desde 2010 e trabalha remotamente na sociedade feita ao lado do irmão. Após estudar em Vancouver e trabalhar em lojas de departamento, ele decidiu se especializar na área de marketing e hoje é influencer de moda, com mais de 50 000 seguidores no Instagram. “Assim surgiu a oportunidade de ser o embaixador do app de um conhecido, que acabou nos inspirando a criar nosso próprio aplicativo no Brasil.”

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Lançado no fim do ano, o BatalhaFUNK já teve mais de 20 000 downloads em quatro meses — e o número, ainda modesto, não para de crescer. Entre as notícias de festas e pancadões clandestinos pela cidade, os dois têm encarado o app como uma forma de divulgar o estilo musical e unir a comunidade funkeira sem nenhuma aglomeração. “Temos recebido depoimentos de usuários que não tinham computador e agora podem fazer música e treinar”, comemoram.

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Kelvin apoiado sorrindo e posando para a foto
Em Vancouver há dez anos, Kelvin é influencer de moda masculina (Reprodução/Arquivo Pessoal/Veja SP)

Para as batidas disponíveis no aplicativo, os irmãos procuram DJs interessados em participar do projeto, que por enquanto é totalmente gratuito e ainda não gera lucro. “No médio prazo, pensamos em algum tipo de assinatura com valor simbólico para quem não quiser ver anúncios”, explica Erick. “E continuamos à procura de investidores.”

Além da ferramenta para as mixagens, a plataforma tem espaço para bate-papo e reúne as criações de cada usuário em seu perfil. “Por ser muito social, é como um Instagram de música. As pessoas fazem amizades e contatos, o que fortalece a comunidade do funk”, resume Kelvin. Alguns talentos, segundo eles, têm rendido parcerias. “O MC Lukinhas, de Porto Alegre, até se conectou com o DJ Dodô Diplomata, de Pernambuco, onde a vertente do brega funk é muito forte, e agora os dois vão produzir juntos.”

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Fora São Paulo e Rio de Janeiro, usuários ativos em cidades como Manaus, Florianópolis e Fortaleza também aderiram ao aplicativo e começaram a chamar a atenção de pelo menos três produtoras, duas delas paulistas. “Fora do eixo Rio-São Paulo é difícil conseguir contatos e só alguns artistas são apadrinhados”, acrescenta Erick. “Nos próximos anos, esperamos ser uma referência, expandir as oportunidades. Queremos ver artistas como a Anitta entrarem no app para brincar e cantar com os fãs.”

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Publicado em VEJA São Paulo de 28 de abril de 2021, edição nº 2735

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