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Por Arnaldo Cheixas
Terapeuta analítico-comportamental e mestre em Neurociências e Comportamento pela USP, Cheixas propõe usar a psicologia na abordagem de temas relevantes sobre a vida na metrópole.
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Teobaldo perdeu a namorada por causa do “Lulu”

Um assunto que tem sido presente em rodinhas de amigos e na internet nas últimas semanas é o Lulu, um aplicativo ianque desenvolvido para que as mulheres possam compartilhar sua avaliação sobre os homens com quem se relacionaram. Como funciona? Todos os perfis declaradamente masculinos do Facebook são automaticamente importados pelo aplicativo e se tornam […]

Por VEJASP
Atualizado em 26 fev 2017, 23h12 - Publicado em 16 dez 2013, 16h13

Um assunto que tem sido presente em rodinhas de amigos e na internet nas últimas semanas é o Lulu, um aplicativo ianque desenvolvido para que as mulheres possam compartilhar sua avaliação sobre os homens com quem se relacionaram. Como funciona? Todos os perfis declaradamente masculinos do Facebook são automaticamente importados pelo aplicativo e se tornam uma espécie de perfil Lulu (é como aquele cartão de crédito que chega na sua casa e que você não solicitou). Detalhe: o próprio “dono” (da identidade) do perfil não pode acessá-lo e nem visualizá-lo. Isso só pode ser feito a partir de perfis femininos do Facebook cujos titulares baixem o aplicativo. Dessa forma, desconsiderando perfis falsos, a ideia é que as mulheres avaliem os homens.

lulu

O aplicativo: a ideia é que as mulheres avaliem os homens (Foto: Divulgação)

Há quem interprete isso como apenas uma brincadeira mas a verdade é que os desdobramentos do Lulu são significativos. Basta lembrar que o Ministério Público do Distrito Federal já instaurou inquérito para investigar possíveis crimes associados ao funcionamento do aplicativo, além de processos individuais de homens que se sentiram caluniados. Sensíveis à realidade brasileira, os administradores do aplicativo já estão alterando as regras de funcionamento aqui no Brasil. Uma mudança implementada hoje mesmo é que, a partir de agora, apenas os perfis masculinos que optarem por participar serão avaliados por meio do aplicativo. Outra mudança, dessa vez temporária (até o Natal), é que os perfis masculinos terão acesso à avaliação recebida.

Algo que não deve ser ignorado é que há artificialidades na dinâmica do aplicativo. Há escores baseados em poucas avaliações, há tratos entre amigos para que um determinado perfil seja bem (ou mal) avaliado. Há homens que chegam a pedir explicitamente para as amigas lhe avaliares positivamente. Saber que está bem avaliado no Lulu deixa você tranquilo? Então você tem tudo para reinar nos camarotes da cidade!

Mas, independente dos aspectos legais e das artificialidades, vamos olhar para o Lulu a partir da dinâmica das relações interpessoais.

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Teobaldo e Bérnia estavam namorando fazia um ano. Tudo vinha caminhando bem até que ela resolveu dar uma olhadinha nas avaliações que Teobaldo recebeu no Lulu. Começou olhando a nota geral: 8,7. Nada mau, pensou. Depois resolveu olhar os adjetivos associados a Teobaldo. Dois deles chamaram sua atenção: #todoouvidos e #semlimites. Essas hashtags poderiam ser tidas como elogios mas, pensa Bérnia, acontece que Teobaldo não tem muita disposição para ouvi-la e sua libido nunca foi lá grande coisa. Ela não teve dúvida. Foi tirar satisfação com ele. Queria saber quem é que achava tudo aquilo dele e queria saber também o que “aquelazinha” tinha que ela não tem. Os dias de novembro foram ficando cada vez piores na relação. Dezembro entrou e eles quase não estavam se falando direito. Tudo isso culminou com o fim do namoro. Dias depois, conversando com um amigo cujo namoro também terminou, Teobaldo conheceu outro exemplo de término associado ao Lulu. No caso do amigo, foi uma hashtag apontando seu pior: #infiel. O amigo disse que nunca foi infiel mas provavelmente aquele adjetivo lhe foi atribuído por uma ex que ficou magoada. Agora… será que foi mesmo o Lulu que causou esses términos?

Tem algo importante sobre maturidade nessas histórias. Muitas vezes é mais cômodo atribuir a algo externo a explicação de nossas escolhas. Como já discutimos em outros textos, cada um de nós é resultado de múltiplos fatores concorrentes, que incluem a genética, o ambiente em que estamos inseridos, nossa história de vida e os elementos psíquicos que se formam a partir de nossa história. Assim, escolhemos dentro das condições possíveis naquele contexto. Mas, se não tomamos cuidado, atribuímos excessivo papel aos fatores que não dependem de nós mesmos. Um exemplo disso é quando alguém não está curtindo estar numa festa e diz para seus acompanhantes: “Olha… se vocês não estiverem curtindo aqui, a gente pode ir embora… numa boa.” Seria melhor dizer: “Eu não estou curtindo a festa. Podemos ir embora?” Mas temos receio de lidar com nossas escolhas muitas vezes. Teobaldo e Bérnia certamente tinham pendências dentro da relação. Infelizmente, não conseguiram lidar com elas de maneira explícita e franca. Como foram adiando as conversas, o Lulu acabou materializando essas angústias e ficou com a culpa pelo fim do namoro.

Se seu relacionamento acabou por causa do Lulu, proponho que você reflita sobre os verdadeiros motivos que lhes conduziram a esse término. Pode ser uma oportunidade de amadurecimento. Agora… se seu relacionamento está em crise por causa do Lulu, pode ser uma chance rara de você aprender a lidar em conjunto e honestamente com suas angústias e também com as escolhas que você quer fazer.

E aí, quais suas hashtags?

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