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Em Terapia

Por Arnaldo Cheixas Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Terapeuta analítico-comportamental e mestre em Neurociências e Comportamento pela USP, Cheixas propõe usar a psicologia na abordagem de temas relevantes sobre a vida na metrópole.
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Perdas insuperáveis: se a vida não é bela, resta apenas seguir adiante

Em maio do ano passado, depois de eu escrever sobre a importância de saber enfrentar perdas para ter uma vida saudável, uma amiga me disse que concorda parcialmente com minha afirmação. Disse ela que isso é verdade apenas em situações comuns, como a perda de um emprego ou um negócio que não foi pra frente. […]

Por Carolina Giovanelli
Atualizado em 26 fev 2017, 13h42 - Publicado em 5 jan 2016, 12h11
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(Foto: Jonathan Andrew)

Em maio do ano passado, depois de eu escrever sobre a importância de saber enfrentar perdas para ter uma vida saudável, uma amiga me disse que concorda parcialmente com minha afirmação. Disse ela que isso é verdade apenas em situações comuns, como a perda de um emprego ou um negócio que não foi pra frente. Mas, continuou, há perdas que são tão dramáticas e tão violentamente profundas que não há resiliência que dê conta. Ela mencionou como exemplos casos relacionados à violência que, se não resultam em morte, deixam sequelas físicas ou emocionais.

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De fato, há situações impostas pela realidade que não podem ser esquecidas ou simplesmente superadas. Elas machucam de maneira intensa e permanente. Imagine quem sofreu abuso sexual ou quem passou por tortura. Imagine quem viu um filho ou uma filha ser assassinado. Imagine quem sobreviveu a um atentado. Imagine quem vive dentro de um atentado, como quem mora nas periferias e acaba sendo vítima de múltiplas formas de violência.

Quando coisas assim ocorrem entendemos que, embora a vida em si seja algo magnífico, ela tem aspectos desagradáveis. E aprendemos também que o ser humano é capaz de atitudes horríveis.

+ “Tive depressão na pós-graduação e dei a volta por cima com uma nova carreira”

Sem nenhuma intenção em relativizar a dor ou minimizar as tragédias que as pessoas enfrentam aqui e alhures, o segredo parece estar exatamente na compreensão de que experiências traumáticas de fato não podem ser simplesmente superadas.

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Mas a impossibilidade de que sejam simplesmente superadas não impõe a resignação como alternativa. E se elas não podem ser simplesmente superadas, então resta que sejam complexamente superadas. Na verdade, não resta outra alternativa a não ser essa mesmo: seguir adiante, por mais complexo que seja.

Temos sempre de buscar um mundo e uma sociedade melhores para viver. Precisamos aprender a mudar aquilo que não é bom. As guerras, a exploração do semelhante, a fome… Essas misérias humanas nada mais são que resultado de nossa postura presunçosa diante do mundo. Buscar soluções para todos esses problemas é importante e segue sendo uma utopia que, de algum modo, tempera nossas vidas.

As soluções são coletivas. Assim, ter a expectativa de viver imune a tal realidade num mundo tão cheio dela é de uma insensibilidade enorme porque, nesse sentido, estamos todos no mesmo barco. Quando nos deparamos com um problema ou uma tragédia, temos sim de olhar em volta. Estamos todos sujeitos à realidade e o mundo não gira em torno de cada um de nós.

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Uma história que ilustra muito bem essa situação é a narrada no romance Rebentar (Rafael Gallo, Editora Record), no qual Angela, a protagonista, é a mãe de uma criança desaparecida que, depois de mais de trinta anos tentando encontrar o filho, decide renunciar à busca e à espera. Espera esta com toques dramáticos como manter intacto o quarto do filho ao longo dos anos. Ela se dá conta depois de três décadas de que, mesmo que encontre seu filho, ele não é mais uma criança de 5 anos de idade mas sim um homem com quase 40 e que não cresceu com a família. Sim, foi a forma complexa que a personagem encontrou para superar sua tragédia.

Por mais duro que soe, a vida nem sempre é bela. E, quando é assim, resta-nos seguir adiante.

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