Devo acreditar em testes de personalidade e horóscopo? Um estudo diz que não
Perfis de personalidade e astrológicos fazem sucesso. Um argumento forte que suporta sua validade é o atestado em primeira pessoa: “Nossa…me descreveu direitinho.” Mas será que nossa percepção é mesmo suficiente para mostrar a eficácia dessas descrições? Um experimento feito pelo psicólogo estadunidense Bertram Forer ainda na década de 40 sugere que não. Forer submeteu estudantes […]

Perfis de personalidade e astrológicos fazem sucesso. Um argumento forte que suporta sua validade é o atestado em primeira pessoa: “Nossa…me descreveu direitinho.” Mas será que nossa percepção é mesmo suficiente para mostrar a eficácia dessas descrições? Um experimento feito pelo psicólogo estadunidense Bertram Forer ainda na década de 40 sugere que não.
Forer submeteu estudantes a um teste de motivação e, uma semana depois, entregou a cada um deles uma análise individual de personalidade. Ele pediu aos estudantes que avaliassem a exatidão da análise em uma escala de zero (nenhuma exatidão) a 5 (total exatidão). De 39 participantes, 34 avaliaram a exatidão com escore 4 (dezoito participantes) ou 5 (dezesseis participantes), o que nos levaria a crer que Forer era um exímio analista de personalidades.
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Antes de explicar um detalhe importante sobre o procedimento, é interessante registrar que o experimento de Forer vem sendo replicado desde a Segunda Guerra Mundial, inclusive com algumas variações que permitem anular qualquer viés que comprometa o método, e sempre com os mesmos resultados. Algumas replicações utilizaram análises de astrologia em vez do estudo da personalidade e os resultados foram os mesmos. Interessante que não importa se os participantes acreditam ou não em astrologia, a maioria sempre avalia como acurada a descrição entregue sobre si.
Agora vamos ao detalhe importante do procedimento. Em todos os experimentos sobre o efeito da validação subjetiva (este é o nome do fenômeno, também conhecido como “efeito Barnum” – em homenagem a Phineas Barnum, o criador do primeiro circo moderno), as descrições de personalidade ou astrológicas eram exatamente as mesmas para todos os participantes.
Essa consistente validação subjetiva se deve ao fato de que temos a tendência de interpretar algo genérico, que pode se aplicar a um grande número de pessoas, como algo que diz respeito particularmente a nós mesmos, principalmente quando o autor diz que aquela análise foi feita exclusivamente para a gente.
O escritor Luís Fernando Veríssimo começou sua carreira escrevendo horóscopo para um jornal. Ele diz que escrevia as previsões diárias de forma aleatória e as distribuía entre os signos sem qualquer critério. Ele, inclusive, usava textos repetidos para signos diferentes quando não conseguia escrever novos. A despeito disso tudo, era tido como um competente “astrólogo”.
Três fatores que ajudam a entender porque nos identificamos com descrições genéricas de nossa personalidade:
1) Elas normalmente têm teor positivo, o que é reconfortante. Fatores negativos são colocados de forma mais sutil, o que dá ainda mais solidez à percepção de acurácia.
2) A mesma descrição traz elementos complementares, de modo que tendemos a ignorar o que não se encaixa e hipervalorizar o que se encaixa.
3) Somos inclinados a preencher as lacunas deixadas na análise com aquilo que desejamos que faça parte de nossas características.
Estou dizendo com isso que ninguém deveria dar atenção à astrologia e aos testes rápidos de personalidade? No segundo caso sim, porque testes de personalidade dependem de validação científica, de modo que apenas aqueles com validação devem ser considerados. No caso da astrologia não porque, embora seja passível de testagem científica, ela só depende da crença de cada um. Ainda assim podemos dizer a partir do efeito da validação subjetiva que não se sustenta a afirmação de que “para mim funciona” porque nossa percepção de descrições projetivas sobre nós mesmos é influenciada pela pretensão da análise, independentemente de nossas expectativas.