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Em Terapia

Por Arnaldo Cheixas Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Terapeuta analítico-comportamental e mestre em Neurociências e Comportamento pela USP, Cheixas propõe usar a psicologia na abordagem de temas relevantes sobre a vida na metrópole.
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Afinal, o que é assertividade?

Algumas características encontradas no reino animal são especialmente desenvolvidas na espécie humana. Uma delas é a linguagem. Suas bases são consistentemente biológicas. As pressões ambientais ao longo da evolução das espécies promoveram o seu surgimento entre os animais e o seu grande desenvolvimento entre primatas, especialmente o humano. Como uma função do sistema nervoso e […]

Por VEJASP
Atualizado em 26 fev 2017, 22h03 - Publicado em 7 Maio 2014, 14h25
Man and a woman arguing (/)
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Man and a woman arguing

Algumas características encontradas no reino animal são especialmente desenvolvidas na espécie humana. Uma delas é a linguagem. Suas bases são consistentemente biológicas. As pressões ambientais ao longo da evolução das espécies promoveram o seu surgimento entre os animais e o seu grande desenvolvimento entre primatas, especialmente o humano.

Como uma função do sistema nervoso e por causa de sua elevada flexibilidade, a linguagem humana tem complexas formas de se manifestar. Ela media a maior porção das interações entre indivíduos. Graças ao uso da linguagem não precisamos mais duelar para resolver nossas diferenças. Aprender a dominar a linguagem de seu grupo social representa um importante recurso que promoverá seu desenvolvimento e seu bem-estar no cotidiano em sociedade.

Uma parcela significativa das angústias experimentadas pelos indivíduos tem relação direta com a linguagem. Ela está presente nos conflitos, seja como portadora do conteúdo relevante seja como mediadora de uma interação conflitante originada em algo, digamos, mais concreto. Uma frase mal colocada, uma forma agressiva de se expressar, a ausência de uma fala ou uma palavra escolhida equivocadamente podem gerar sentimentos negativos no interlocutor e servir de gatilho para o início de um conflito com consequências imprevisíveis.

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É aqui que entra em cena a assertividade. Ela é a qualidade da manifestação linguística feita com asserção, que nada mais é do que uma declaração na qual aquele que se manifesta o faz de maneira clara, consciente e levando em conta todo o contexto relacionado àquela situação, inclusive o interlocutor. Lembro-me de uma conversa que tive certa vez com um temperamental empresário paulista. Ele me disse ser sempre muito assertivo com os funcionários: “Eu sou muito claro e assertivo… digo logo quem manda e deixo sempre explícito o que quero e o que penso sobre cada um. Quando um funcionário erra eu falo logo pra ele saber que está errando. Minhas ordens são sempre cumpridas. Se você não tem essa assertividade, você perde o controle da situação”. Ele, na verdade, é imperativo e não assertivo.

Do ponto de vista linguístico, pensar sobre o que a assertividade não é ajuda a entender o que ela é. A assertividade não é interrogação, não é ordem, não é solicitação, não é dúvida e nem exclamação. Ela é simplesmente uma declaração categórica a respeito de algo. Sua validade está totalmente associada ao falante. Para que uma fala seja assertiva é importante que ela seja clara e objetiva. É importante que o emissor não desrespeite seu interlocutor ou qualquer outra pessoa. Também é importante haver coerência entre o discurso do emissor e sua prática. A fala assertiva, embora clara e objetiva, não é jamais dita de forma agressiva. Quando nos falta assertividade acabamos nos manifestando de forma agressiva, misturamos assuntos não relacionados ao tema de que estamos tratando, deixamos de falar o que precisa ser dito.

Uma das principais formas de falta de assertividade é ausência de manifestação. Ao ficar insatisfeito com alguma situação, é importante que se explicite essa insatisfação. De modo contrário, as pessoas envolvidas naquela situação não saberão sobre o problema e a tendência é que sentimentos ruins passem a se desenvolver na relação entre as pessoas. O sentimento mais frequente nesses casos é a raiva. A pessoa insatisfeita com algo e que não manifesta sua insatisfação vira uma bomba relógio que, mais cedo ou mais tarde, vai acabar explodindo. Ao explodir, a pessoa não responderá apenas à situação que gerou a insatisfação mas sim a um conjunto de elementos, alguns efetivos e outros não. Você pode se incomodar com o modo como um familiar guarda os talheres na gaveta, por exemplo. Se você explicitar que você gostaria que ele fizesse de modo diferente por esta ou por aquela razão, é mais provável que vocês cheguem juntos a uma alternativa viável para ambos. Se você não explicitar, provavelmente ele sequer sabe que aquilo incomoda você. Dessa forma, ele continuará se comportando da mesma maneira e, a cada repetição daquele comportamento, você ficará mais e mais incomodado, abrindo espaço para o surgimento de sentimentos ruins (como a raiva). Sua raiva vai ser cada vez maior até que atinja um grau em que você explodirá. Será uma reação injustificada ou pelo menos desproporcional em relação à fonte do incômodo.

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Outra consequência da falta de assertividade é a geração de ruídos que acabam se tornando um problema em si. No exemplo do incômodo com os talheres, seria como se você, incomodado com a posição dos talheres, tratasse mal seu familiar em outras situações. Ele pode pedir sua opinião a respeito de uma proposta de emprego ou de uma notícia vista no jornal ou qualquer banalidade e você responder de forma grosseira. Sua agressividade não tem a ver com a situação em curso mas sim com o problema dos talheres que ele sequer sabe que existe. Novamente os desdobramentos podem chegar ao extremo de uma briga intensa que deixará mágoas e frustrações.

Se estamos insatisfeitos com algo o melhor é sempre declarar nossa insatisfação. Para isso, é importante restringir-se à fonte da insatisfação sem desrespeitar o outro. Uma dica nesse sentido é evitar rótulos. Ainda no exemplo dos talheres, uma fala assertiva seria: “Quando você guarda as facas apontadas para cima, tendo a me cortar quando quero pegar uma no porta-facas. Você pode guardá-las apontadas para baixo?” Esta fala explicita a fonte do problema e as possíveis consequências ruins daquele comportamento. Essa descrição da situação facilita a compreensão pelo outro e o motiva para colaborar na resolução. Diferentemente, se você usar um rótulo como “você é desorganizado”, a fonte do problema fica mal descrita e a tendência é que a resolução fique mais distante.

Não ter assertividade também pode ser representado como uma dificuldade em dizer “não”, como já vimos com Patrick, o amigo de Bob Esponja. Quando não somos claros para dizer não, acabamos assumindo compromissos que não queremos assumir, o que fatalmente nos leva a uma condição de frustração.

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Assertividade envolve, então, manifestar-se claramente em relação a algo que lhe seja importante. Essa manifestação deve conter uma descrição explícita da situação, o respeito ao outro como alguém autônomo e capaz, a evitação de rótulos e, principalmente, a responsabilidade pelo que é dito. Embora explicitar seu modo de pensar e seus desejos possa gerar algum conflito, a clareza e o respeito ao outro vão promover a resolução daquela situação sem deixar marcas emocionais ruins. Para quem tem dificuldade em ser assertivo, a dica é tomar coragem e se expor para aprender um pouco mais a cada nova situação. O resultado, garanto, será um cotidiano mais leve e prazeroso. Ao se expor, pode ser que você erre vez por outra mas os erros poderão ajudá-lo a aprender. Não se expor, por outro lado, mantém o erro sempre presente. Assim, a melhor hora de se expor é sempre agora.

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