“Rei do fetiche” diz que post de Bolsonaro revela preconceito contra LGBTs
Heitor Werneck explica a prática do "golden shower" (ou "pissing") em São Paulo cidade e no mundo; sexólogo alerta sobre os riscos da atividade

Na terça (5), o presidente Jair Bolsonaro provocou reações fortes ao postar um vídeo com um flagra de um bloco do Carnaval paulistano. Nele, um homem urina no outro, prática conhecida como golden shower ou pissing (respectivamente, “banho dourado” e “fazendo xixi” em inglês). “É isto que tem virado muitos blocos de rua no Carnaval brasileiro”, protestou o político, que na sequência perguntou o significado da expressão.

“Trabalho com festas temáticas há mais de trinta anos e nunca havia visto uma cena como esta que o presidente postou”, protesta o produtor cultural Heitor Werneck. Aqui na cidade, ele é uma espécie de “rei do fetiche”, graças ao Projeto Luxúria, evento que promove prazeres sexuais não muito usuais, como o cross dressing (homem se vestir de mulher ou vice-versa), a podolatria (excitação sexual pelos pés) ou BDSM (sigla que abrevia Bondage e Disciplina, Dominação e Submissão, Sadismo e Masoquismo).
“Bolsonaro postou isso como uma forma de incitar o preconceito contra a comunidade LGBTs, mostrar que somos todos promíscuos, que o Carnaval é assim, e não é verdade”, acredita o produtor, que também é diretor da Parada Gay, de São Paulo. Werneck diz também que proíbe a prática mesmo nas festas fechadas dele. “Há três clubes de sexo no centro da cidade que permitem, mas não deixo nos meus eventos, porque precisa de um bom banheiro, de uma estrutura para que o convidado se lave após a prática”, conta.
Desde que seja consensual e realizado com consciência, o golden shower pode sim ser considerado um fetiche (termo que deriva do francês “fétiche”, que significa “feitiço”). “O pissing aparece desde a mitologia grega, por exemplo, Hércules e Ônfale curtiam”, lembra Werneck. Ele também cita clássicos do autor francês Marquês de Sade (em meados de 1740) e também filmes como Lua de Fel, de Roman Polanski (1992).

O terapeuta Paulo Tessarioli, presidente da Abrasex (Associação Brasileira dos Profissionais de Saúde, Educação e Terapia Sexual), alerta sobre a prática. “Parece óbvio, mas vale a pena ressaltar que não se deve beber urina e também evitar urinar dentro da vagina ou do ânus do parceiro ou parceira. Dá para fazer isso apenas em partes do corpo sem mucosas. E que essa expressão da sexualidade não se torne habitual, porque pode trazer transtornos para a sexualidade”, afirma.
Sobre a cena postada pelo presidente, até o liberal Werneck se declarou chocado. “São dois garotos descontrolados, desesperados para aparecer e sem nenhuma autoestima. Considero aquilo um ato de loucura, não fetiche”, afirma.