Conheça “O Deus da Sacanagem”, biografia do quadrinista Carlos Zéfiro
Livro narra a incrível história de Alcides Caminha, um funcionário público que durante cinco décadas realizou escondido quadrinhos com sexo explícito

Entre as décadas de 40 e 80, o pacato funcionário público carioca Alcides Caminha viveu no subúrbio de Anchieta e de lá escondeu de todo mundo, inclusive da polícia, que era o desenhista Carlos Zéfiro, autor das famigeradas revistinhas de sexo explícito em quadrinhos conhecidas como “catecismos”. Antes popular, tornou-se cult por obras como As Aventuras de João Cavalo e Luíza, a Insaciável.
Zéfiro fez a alegria de adolescentes, que pouca ou nenhuma informação tinham sobre sexo, em uma época de forte repressão moral, promovida por entidades conservadoras, políticos, juízes, educadores e religiosos. Primeiro, suas revistinhas foram consagradas por todo o Rio de Janeiro. Depois, espalharam-se pelo Brasil, com um detalhe: por causa da ditadura, eram sempre vendidas às escondidas.

Neste mês, Alcides Caminha tem sua vida revelada com o lançamento do livro O Deus da Sacanagem – A Vida e o Tempo de Carlos Zéfiro, (Editora Noir, 59,90 reais) escrito pelo jornalista Gonçalo Junior. O autor já biografou nomes como Assis Valente (Civilização Brasileira), Rubem Alves (Planeta), Vadico (Noir) e o cantor brega Evaldo Braga (Noir), além de ter publicado uma série de obras sobre quadrinhos, como A Guerra dos Gibis (Cia das Letras), que virou referência para estudiosos de todo país. “É um livro em que nada deixou de ser mostrado, inclusive a polêmica sobre o outro suposto Zéfiro, o desenhista Eduardo Barbosa”, explica o autor.
Em 1991, meses antes de Juca Kfouri revelar a identidade de Zéfiro em uma entrevista na Playboy, o desenhista Eduardo Barbosa disse ao jornal A Notícia que ele era o “deus da sacanagem”. Houve uma espécie de duelo, na época. Barbosa desafiou Caminha a uma espécie de “concurso público”: desenhariam na frente de uma plateia e jurados definiriam quem seria o verdadeiro Zéfiro. O funcionário público recusou a proposta, por causa de uma catarata e uma paralisia, mas apresentou uma precisão de detalhes sobre as obras que seu concorrente não tinha.

Caminha morreu em 5 de julho de 1992, aos 70 anos, nove meses após a bombástica entrevista. Mas nesse pouco tempo, recebeu todo o reconhecimento que merecia: ganhou o prêmio HQ Mix (aliás, dois dias antes de falecer), foi astro de uma bienal de quadrinhos, além de dar entrevistas aos principais veículos brasileiros. Em 1996, a cantora Marisa Monte usou seus desenhos no premiado CD Barulhinho Bom.
Já Eduardo ficou com a fama de falsário e beberrão e morreu em 2006, aos 92 anos.
Caminha começou a traçar seus desenhos eróticos em 1940, após tentar a sorte no futebol e na música (foi parceiro de Nelson Cavaquinho no clássico “A Flor e o Espinho”). Com o dinheiro dos primeiros trabalhos, comprou alvenaria e cimento para construir sua casa. Em 1946, aos 25 anos, casou-se com Serat. O casal teve cinco filhos.
A obra de Zéfiro é dirigida ao “garanhão heterossexual”, gabava-se de “pular a cerca” e dizia que a maioria das aventuras sexuais retratadas eram inspiradas em fatos reais, vividos por ele. Ao mesmo tempo, o mestre pregava a sedução e o respeito como principais condutores para levar uma mulher para a cama. E o prazer delas também é essencial.
Abaixo, uma amostra do trabalho do “deus da sacanagem”:



