SP Sonha: a pobre oferta de alimentos nas estações de metrô e ônibus
No enorme Terminal Barra Funda, o passageiro encontra só frituras e doces. Esses desertos alimentares custam bem caro aos cofres públicos
Cerca de 400 000 pessoas passam por dia pelo Terminal Barra Funda, entre rodoviária, metrô e trens da CPTM. Depois de uma longa jornada de trabalho, e antes da cansativa volta para casa, muita gente aproveita para enganar a fome. Com raríssimas exceções, o cardápio espalhado pelo segundo maior terminal da cidade oferece frituras, de coxinhas a croquetes, alguns doces e diversos produtos industrializados, como batata frita, sucos e guloseimas de caixinha. Como costuma dizer a chef e expert Rita Lobo, são aqueles ultraprocessados cheios de ingredientes com nome estranho, que sua avó jamais consideraria alimento. Ela tem razão.
No Brasil, o gasto público com saúde só tende a disparar nos próximos anos, e não apenas pelo envelhecimento da população, que está vivendo cada vez mais. Nossos hábitos alimentares têm piorado bastante. Quem precisa se alimentar diariamente em estações de metrô e de ônibus (mas não só nelas) ingere bombas calóricas com capacidade para congestionar a mais saudável das artérias. Doenças cardiovasculares estão à espreita, ainda mais em gente sem tempo para se exercitar. Os desertos alimentares custam bem caro aos cofres públicos — não há SUS que consiga atender tanta gente mal alimentada.
Como muitas frutas são bem mais baratas que os pacotinhos de batatinha ultraprocessada, valeria a pena começar já a abrir espaços para produtores, feirantes e lojistas que pudessem melhorar a oferta — mais concorrência gastronômica nos terminais ajudaria. Sabe-se que a conversa entre órgãos do mesmo governo é uma raridade, mas seria saudável que as secretarias de Agricultura e Transportes Metropolitanos se sentassem juntas. Talvez também com a pasta da Educação, questionada sobre a qualidade dos produtos que compõem a merenda escolar.
Publicado em VEJA SÃO PAULO de 17 de abril de 2019, edição nº 2630.