Patrimônio arquitetônico para ser apreciado à beira mar
Projetado em 1955, o Edifício Marahu, na Baixada Santista, guarda o melhor das construções modernistas brasileiras
Quando o Edifício Marahu foi projetado, em 1955, em São Vicente, a Baixada Santista vivia um particular boom. A abertura da Via Anchieta, entre 1947 e 1953 (a pista sul), propiciou uma corrida de paulistanos que queriam um pied à terre à beira-mar. Para sorte de Santos, São Vicente e Guarujá, o período coincidiu com a melhor produção arquitetônica da história do mercado imobiliário brasileiro. Muitos dos renomados arquitetos e engenheiros da capital desceram a serra e puseram seu talento a metros da areia.
Um desses profissionais era o engenheiro-arquiteto paulistano Lauro da Costa Lima. Nascido em 1917, ele estudou no Colégio São Bento e se formou em engenharia pelo Mackenzie em 1941. Foi estagiário no escritório de Eduardo Kneese de Mello, e pronto abriu o seu. Seus primeiros projetos para São Vicente datam dos anos 1940.
Como a Anchieta começou a ser construída em 1939, era natural que houvesse uma corrida para chegar lá primeiro. O Cassino da Ilha Porchat tinha sido aberto em 1938, quando os raros carrões ainda desciam pelo velho Caminho do Mar, e o arquiteto Oswaldo Bratke até planejou um condomínio de casas de alto padrão para a “ilha” (na verdade, um promontório rochoso ligado ao continente), que não foi executado. É justamente diante do istmo que liga a Praia do Itararé à Ilha Porchat que se instalou o Marahu. O arquiteto soube tirar proveito do terreno: os apartamentos têm vistas para a Praia do Itararé, nos fundos para a Praia dos Milionários, além da Porchat.
Tudo nele remete ao melhor da arquitetura moderna brasileira: os pilotis, a marquise sustentada por finas colunas em V, a ondulação da fachada que cita o Copan (lançado três anos antes). Com quinze andares, quatro apartamentos em cada, de dois e três quartos, teve alguns ocupantes ilustres, do ex-presidente Jânio Quadros ao falecido cartola do Corinthians Vicente Matheus.
As venezianas de madeira impecavelmente bem conservadas e o concreto aparente matam de inveja os diversos vizinhos da orla que passaram por reformas pouco inspiradas, com a substituição das pastilhas originais por lajotas baratas (muitos ficam com cara de banheiros gigantes). Lauro da Costa Lima fez vários outros edifícios na cidade: Icaraí, Mainumbi e Humaitá. Os cliques do leitor e amigo @drone.cyrillo comprovam que vale a viagem e o protetor solar para apreciar esse patrimônio.
Publicado em VEJA SÃO PAULO de 8 de janeiro de 2020, edição nº 2668.